Opinião
Obama e o "trumpismo"
Com a eleição de hoje, há um ciclo que se fecha na política americana. E é legítimo questionar se a governação de Obama ajuda a explicar porque este novo ciclo nasce com uma América tão dividida.
A hipótese de Obama ter criado o substracto para a ascensão de Trump é uma hipótese que já andou em alguns textos de análise nos EUA. Terá Obama menosprezado as aspirações da América profunda e conservadora, dos tais americanos brancos sem educação superior, sacrificando-as às aspirações das minorias? Terá ele culpas no cartório de uma América fracturada? Afinal é dele a responsabilidade pelos últimos oito anos de governação. A sua chegada ao poder coincide com o crescimento do Tea Party e do denominado movimento Alt-Right.
O próprio Obama, numa acção de campanha em São Francisco durante as primárias de 2008, quando correu contra Hillary, justificava o apego às armas, à religião e o sentimento anti-emigração e anti-comércio livre com a frustração criada pela perda consecutiva de empregos nas pequenas cidades durante a governação Clinton e Bush. Uma declaração que na altura mereceu um coro de críticas, mas mostra como a realidade que hoje poderá explicar o fenómeno Trump já então existia. Uma realidade que Obama não foi capaz de mudar.
É verdade que se pudesse recandidatar-se, Obama provavelmente voltaria a vencer. Se não fosse um trunfo, não apareceria tanto na campanha. Mas tirando George W. Bush, que saiu da Casa Branca com um nível de aprovação de 34%, Obama, com uma taxa de 51%, tem o pior "score" desde Jimmy Carter. Se Trump é o anti-Obama – o que é um elogio ao actual inquilino da Casa Branca –, pode Obama ser o criador e Trump a criatura?
Claro que os mandatos de Obama só por si não explicam porque Donald Trump se tornou o candidato do Grand Old Party ou porque as sondagens dão tantos votos a alguém que tem a intolerância e o autoritarismo no programa político. Mas enfatizam porque Hillary Clinton, se ganhar, deve estabelecer como prioridade atacar as razões que explicam o "trumpismo". A candidata do "status quo" terá de romper com o "status quo" que ela encarna. Há muita coisa que tem de mudar para que tudo, e por tudo entenda-se a democracia americana e o seu papel no mundo, fique na mesma. Estará ela à altura desse desafio?
Se vencer, o Partido Democrata terá mais uma vez acertado na demografia eleitoral. Mas nunca foi tão evidente como uma parte significativa da população lhe escapa violentamente. Haverá feridas para sarar.
Se, ao estilo Brexit, Donald Trump vencer, não será o fim do mundo. Mas o mundo será provavelmente um lugar pior.
O próprio Obama, numa acção de campanha em São Francisco durante as primárias de 2008, quando correu contra Hillary, justificava o apego às armas, à religião e o sentimento anti-emigração e anti-comércio livre com a frustração criada pela perda consecutiva de empregos nas pequenas cidades durante a governação Clinton e Bush. Uma declaração que na altura mereceu um coro de críticas, mas mostra como a realidade que hoje poderá explicar o fenómeno Trump já então existia. Uma realidade que Obama não foi capaz de mudar.
Claro que os mandatos de Obama só por si não explicam porque Donald Trump se tornou o candidato do Grand Old Party ou porque as sondagens dão tantos votos a alguém que tem a intolerância e o autoritarismo no programa político. Mas enfatizam porque Hillary Clinton, se ganhar, deve estabelecer como prioridade atacar as razões que explicam o "trumpismo". A candidata do "status quo" terá de romper com o "status quo" que ela encarna. Há muita coisa que tem de mudar para que tudo, e por tudo entenda-se a democracia americana e o seu papel no mundo, fique na mesma. Estará ela à altura desse desafio?
Se vencer, o Partido Democrata terá mais uma vez acertado na demografia eleitoral. Mas nunca foi tão evidente como uma parte significativa da população lhe escapa violentamente. Haverá feridas para sarar.
Se, ao estilo Brexit, Donald Trump vencer, não será o fim do mundo. Mas o mundo será provavelmente um lugar pior.
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