Opinião
Mr. Icahn, o activista
A emergência do activismo dos investidores é uma das marcas deste ano. Um movimento onde pontuam nomes como Nelson Peltz, Paul Singer ou Daniel Loeb.
A emergência do activismo dos investidores é uma das marcas deste ano. Um movimento onde pontuam nomes como Nelson Peltz, Paul Singer ou Daniel Loeb. Mas o mais temido pelos conselhos de administração é Carl Icahn. Ao ponto de a revista "Time" dedicar o tema de capa ao empresário e investidor americano, com o título "Mestre do Universo".
Ichan, nasceu em Queens, no estado de Nova Iorque, filho de um "cantor de ópera falhado" - palavras do próprio - e de uma professora. Fez o bacharelato em Filosofia. Tentou medicina. Mas foi em Wall Street que encontrou o destino. Com o dinheiro ganho como corretor criou a sua própria empresa de serviços financeiros. Fez fortuna. E desde 1978 que tem entrado e saído do capital de algumas das maiores empresas americanas, tornando-se o terror dos respectivos conselhos de administração.
A histórica companhia aérea TWA, integrada na American Airlines em 2001, foi um dos primeiros alvos. Seguiram-se outros nomes proeminentes como a Time Warner, ou a Yahoo! Mais recentemente, entrou em conflito com Michael Dell, fundador da homónima empresa de "hardware", exigindo um prémio maior para que a empresa fosse retirada de bolsa. Perdeu a guerra, mas não sem comparar a gestão a um conjunto de déspotas.
A popularidade levou-a criar em 2008 o "Relatório Icahn", onde faz a defesa dos direitos dos accionistas. O pagamento de bónus injustificados ou a responsabilização das administrações pela crise financeira são algumas das campanhas que protagoniza. Lançou também o movimento Accionistas Unidos da América.
Visto deste ângulo, Icahn parece um paladino da defesa dos interesses dos accionistas minoritários. O seu "modus operandi" coloca-o mais próximo de um corsário de fato e gravata à caça de lucros rápidos.
Comprar empresas subavaliadas, onde as partes podem valer mais do que o todo, nomear uma nova administração e desinvestir em partes do negócio de forma a remunerar o accionista. Foi com este método que Icahn ganhou dinheiro. O caso da TWA é paradigmático. Comprou parte da empresa em 1985 e, três anos depois, lançou um plano de recompra de acções para a tirar de bolsa e pagar-se a si próprio. A compra dos títulos foi feita com o pêlo do cão: endividamento pela TWA. O elevado passivo obrigou a vender alguns dos activos mais valiosos a companhias concorrentes.
O fito não é crescer e desenvolver o negócio. É extrair valor. E rápido. Sete anos depois de Icahn assumir o leme, a TWA decretou a falência.
Icahn ajudou a endireitar muitas empresas em que investiu, alterando os administradores e reestruturando o negócio. O que significa cortar custos, com destaque para a rubrica dos salários. Negócios que, talvez de outra forma não tivessem sobrevivido.
Mas na maior parte das vezes é uma lógica predatória que impera nestes activistas. O objectivo é forçar aquisições, persuadir ao pagamento de dividendos, impor a recompra de acções. Sempre numa lógica de obter mais-valias no curto prazo, muitas vezes inimiga da sustentabilidade a longo prazo. Sinal do crescente temor por este tipo de actuação é o facto de um número recorde de empresas americanas ter adoptado este ano nos seus estatutos medidas contra os investidores activistas. Nada que tire o sono a Icahn, cuja fortuna está avaliada em 20 mil milhões de dólares pela Forbes, superando a de George Soros. A Icahn Enterprises, de que é o maior accionista, valorizou 223% só este ano.
Este tipo de activismo existe pouco em Portugal. Mas talvez pudesse existir mais daquele que procura garantir que a gestão está alinhada com os interesses de longo prazo da empresa. E, já agora, da economia.
averissimo@negocios.pt