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06 de Novembro de 2016 às 11:01

As consequências de um choque Trump

A agravar estas questões macroeconómicas está a contínua pressão sobre os bancos da Zona Euro. Estes bancos nunca recuperaram completamente das perdas anteriores, e os níveis de capitais próprios continuam abaixo face aos seus competidores internacionais (como dos Estados Unidos) e em relação àquilo que os investidores consideram ser razoável.

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Com a eleição presidencial de 8 de Novembro nos Estados Unidos e uma série de outras eleições e decisões políticas a aproximarem-se rapidamente na Europa, agora é uma boa altura para perguntar se a economia global está numa forma suficientemente boa para resistir a outro enorme impacto negativo. A resposta, infelizmente, é que o crescimento e o emprego por todo o mundo parecem frágeis. Uma grande surpresa adversa – como a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos – iria provavelmente fazer com que os mercados bolsistas colapsassem e atiraria o mundo para a recessão.

 

É sempre bom olhar para as últimas previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), que se baseia em dados detalhados de todo o mundo. E, tendo em conta que as últimas previsões foram divulgadas no início de Outubro, são particularmente relevantes. (Eu fui economista-chefe do FMI e responsável pela supervisão do processo de previsões, mas abandonei a função em Agosto de 2008.)

 

A tabela 1.1 das Perspectivas Económicas Mundiais do Fundo cobre os principais pontos: uma projecção de base de um crescimento de 3,1% do PIB global este ano e de 3,4% em 2017. Isto representa uma grande queda face às projecções de Abril, o que sinaliza um enfraquecimento percepcionado nos Estados Unidos, na Zona Euro e, claro, no Reino Unido (que se debate com as consequências do anunciado Brexit – o enorme e potencialmente traumático passo para deixar a União Europeia).

 

A nuvem negra mais óbvia no horizonte global é a Europa. As questões britânicas não estão a ajudar, mas as questões mais profundas continuam a estar relacionadas com a própria Zona Euro (o Reino Unido nunca integrou o euro). O crescimento em Espanha é de certa forma encorajador, continuando a mostrar alguma recuperação. Mas o pessimismo sobre Itália – a terceira maior economia da Zona Euro, a crescer menos de 1% ao ano – é uma questão séria.

 

A agravar estas questões macroeconómicas está a contínua pressão sobre os bancos da Zona Euro. Estes bancos nunca recuperaram completamente das perdas anteriores, e os níveis de capitais próprios continuam abaixo face aos seus competidores internacionais (como dos Estados Unidos) e em relação àquilo que os investidores consideram ser razoável.

 

O maior problema continua a ser a incerteza acerca de quem é que está na mira se as perdas de um banco implicarem uma potencial insolvência. Estes bancos são claramente demasiado grandes para caírem – nenhum governo europeu no seu perfeito juízo permitiria um "default" devido à dívida de um banco. Mas não existe um acordo sobre como distribuir as perdas de um banco por todos os países. Tomada como um todo, a Zona Euro dispõe de suficiente capacidade orçamental para apoiar os seus bancos. Contudo, infelizmente, fazê-lo continua a ser uma decisão individual de cada país – os mecanismos colectivos para recapitalizar os bancos europeus continuam parciais e demasiado frágeis.

 

A agravar estas dificuldades, o crescimento nos mercados emergentes não é robusto. Menor crescimento nestes países reflecte-se em menores projecções de importações e mais baixos preços das matérias-primas, o que irá afectar negativamente países que exportam matérias-primas e recursos energéticos. A economia nigeriana, só para dar um exemplo, deverá contrair 1,7% este ano.

 

O crescimento nos Estados Unidos, tal como reportado pelo FMI, foi de 2,6% em 2015 e perspectiva-se que caia para 1,6% este ano, antes de recuperar ligeiramente para 2,2% em 2017. Tem-se assistido a uma recuperação consistente desde a crise financeira de 2008, mas os efeitos desse colapso perduram.

 

Trump promete estimular imediatamente o crescimento dos Estados Unidos para 4% a 5%, mas isso é pura fantasia. É bem mais provável que as suas políticas anti-comércio causassem um abrandamento acentuado, como o que os britânicos estão a experienciar.

 

Na verdade, o impacto de uma vitória de Trump nos Estados Unidos poderia ser ainda pior. Se o Governo da primeira-ministra britânica, Theresa May, pretende fechar as fronteiras do Reino Unido aos imigrantes da UE, também quer continuar a comercializar com o mundo. Já Trump, por outro lado, está determinado em reduzir as importações através de várias medidas, e que pertencem todas à gama dos poderes de um presidente. Ele não necessitaria de aprovação do Congresso para pôr travões à economia norte-americana.

 

Mesmo no melhor dos tempos, é habitual que os decisores norte-americanos não pensem o suficiente sobre o impacto que as suas acções implicam para o resto do mundo. A recessão que as políticas de Trump em termos de comércio provocaria atiraria novamente a Europa para uma recessão completa, que iria provavelmente precipitar uma séria crise bancária. Se este risco não fosse contido – e a probabilidade de uma débacle do sistema financeiro europeu já é desconcertantemente elevada – estaríamos perante uma espiral ainda mais negativa. De qualquer forma, os efeitos nos mercados emergentes e em todos os países de baixos rendimentos seriam dramáticos.

 

Os investidores nos mercados bolsistas encaram uma presidência de Trump como uma possibilidade pouco provável. Mas, enquanto as reais consequências de más políticas são sempre difíceis de prever, se os investidores estiverem errados e Trump vencer, então devemos esperar por uma grande quebra nos rendimentos esperados no futuro devido a uma ampla variedade de razões – e um provável "crash" no mercado mais amplo.

 

Simon Johnson  é professor na Sloan School of Management do MIT e co-autor do livro "White House Burning: The Founding Fathers, Our National Debt, and Why It Matters to You".

 

Copyright: Project Syndicate, 2016.

www.project-syndicate.org

Tradução: David Santiago

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