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10 de Setembro de 2017 às 14:00

O potencial económico da administração Trump

Se os responsáveis pela formulação de políticas querem realmente fortalecer a economia, estão em boa posição para o fazer, beneficiando não apenas o mercado de acções, mas também os americanos comuns.

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A abordagem imprevisível do presidente Donald Trump à formulação de políticas alimentou uma preocupação generalizada sobre o rumo dos Estados Unidos. No entanto, o mercado de acções dos Estados Unidos teve um bom desempenho desde a eleição de Trump, vacilando apenas quando o futuro político da sua administração parece estar em dúvida. Isso não é por acaso: na frente económica, a abordagem de Trump pode ter algumas qualidades redentoras.

 

Desde o início, a administração Trump manteve uma atitude favorável às empresas, exemplificada pelo seu compromisso com a desregulamentação, que aumentou a esperança entre os investidores de um impulso adicional para as economias dos EUA e global. Os esforços para reverter, por exemplo, as protecções ambientais acabarão por provocar sérios danos aos EUA, mesmo que permitam que algumas empresas melhorem os seus lucros no curto prazo. Mas a vontade da administração Trump de libertar os mercados financeiros de uma regulamentação excessiva pode, em última instância, ser benéfica para todos.

 

Quando a regulação se torna demasiado pesada, pode fazer mais mal do que bem. A lei Dodd-Frank e a Lei de Defesa dos Consumidores, promulgadas pelo presidente Barack Obama em 2010, são um bom exemplo. A legislação Dodd-Frank contém regras que impediram o funcionamento do mercado monetário internacional: ao aumentar os custos de financiamento em dólares norte-americanos para bancos estrangeiros, a regra comprometeu a denominada paridade coberta de juros.

 

Para o Japão, isso prejudicou a transmissão da flexibilização monetária nos mercados financeiros internacionais - um mecanismo que já estava pressionado pelos investidores avessos ao risco que correram em massa para o iene japonês como uma moeda segura. Com Trump a eliminar os regulamentos que causam atrito e a inspirar confiança nos mercados accionistas, o Banco do Japão pode finalmente limitar a valorização do iene, estimulando a inflação, o emprego e o mercado de acções.

 

Outro motivo para optimismo em relação à economia dos Estados Unidos e do mundo está enraizado no plano de um bilião de dólares da administração Trump para reconstruir a infra-estrutura dos Estados Unidos. Infelizmente, o equívoco de Trump sobre a violência da supremacia branca em Charlottesville, Virgínia, no início deste mês, destruiu os últimos vestígios de boa vontade que ele poderia ter no Congresso dos EUA. Com dois conselhos consultivos dissolvidos na sequência do incidente de Charlottesville, depois de um êxodo de CEO, críticos da resposta de Trump, os planos para um conselho consultivo de infra-estruturas também caíram.

 

Mas a desordem política está longe de ser a única ameaça potencial para o sucesso económico de Trump. A política comercial da sua administração baseia-se em equívocos sérios. Trump e os seus conselheiros parecem acreditar que apenas o comércio bilateral equilibrado é justo e, portanto, desejável. Na verdade, esse equilíbrio é muito difícil de conseguir num sistema de comércio aberto, e persegui-lo seria realmente prejudicial, na medida em que colocaria em causa os benefícios globais obtidos através do comércio.

 

Após a Segunda Guerra Mundial, a inflação elevada no Japão prejudicou a confiança na estabilidade do iene, levando muitos japoneses a realizar trocas. Os habitantes de Tóquio, por exemplo, trocaram as suas roupas preciosas, desde vestidos de casamento até quimonos finos, por arroz e vegetais dos agricultores rurais. O sistema funcionou porque, nesse momento, a procura e a oferta tinham uma correspondência directa.

 

Mas esse equilíbrio foi fundamentalmente coincidente; não se poderia esperar que resistisse à evolução das circunstâncias económicas. É por isso que as economias de troca são tão ineficientes - e, portanto, obsoletas. Os sistemas modernos usam o dinheiro, porque, enquanto reserva de valor, serve como um tipo de almofada, eliminando a necessidade de um equilíbrio perfeito entre oferta e procura e permitindo que todos os actores obtenham o que precisam do comércio.

 

Com Trump a tentar renegociar o Acordo de Livre Comércio da América do Norte com o Canadá e o México, era bom que se lembrasse disso. A sua administração parece ansiosa para impor limites às importações dos EUA provenientes dos países do NAFTA. Mas se a única coisa que muda no comportamento dos membros do NAFTA é exportarem menos para os EUA, os trabalhadores americanos poderiam beneficiar, com os agricultores e fabricantes do país - incluindo grande parte da própria base eleitoral de Trump – a tornarem-se mais competitivos no mercado norte-americano.

 

Mas isso não vai acontecer. Em vez disso, os parceiros norte-americanos do NAFTA responderão estrategicamente aos limites impostos sobre as suas exportações, ajustando as relações comerciais entre si e com outros, a fim de mitigar o impacto dos controlos à importação dos EUA. O comportamento proteccionista dos EUA poderia até desencadear uma guerra comercial, como ocorreu após a introdução da Tarifa Smoot-Hawley em 1930, e todos sairiam a perder.

 

Para desenvolver uma política comercial mais eficaz, a administração Trump deve analisar com atenção os saldos de conta corrente. Trump condenou frequentemente países como a China e a Alemanha, porque vê os seus excedentes como a causa do défice da América. Ele assume que estes países estão de alguma forma "a roubar" os EUA – aproveitando-se do mercado americano, ao mesmo tempo que prejudicam a competitividade das suas empresas.

 

Mas, como Martin Feldstein e George Shultz disseram recentemente, "se um país consumir mais do que produz, deve importar mais do que exporta. Isso não é um roubo; é aritmética". E, de facto, se os EUA conseguissem negociar uma redução, por exemplo, do excedente comercial da China em relação aos EUA, os EUA teriam que aumentar seu défice com algum outro país para compensar.

 

Uma forma melhor de entender um excedente (ou défice) de conta corrente é como uma medida de poupança de um país para o futuro. Por outras palavras, a conta corrente de um país reflecte a forma como ele aloca o seu rendimento entre o presente e o futuro. Se a América quer reduzir os seus próprios défices, deve começar a poupar mais.

 

Os EUA estão indubitavelmente perante sérios desafios políticos, exacerbados por uma administração mercurial, polarizadora e impetuosa. Mas, economicamente, o país continua no bom caminho. Se, como eu acredito, os responsáveis pela formulação de políticas querem realmente fortalecer a economia, estão em boa posição para o fazer, beneficiando não apenas o mercado de acções, mas também os americanos comuns.

 

Koichi Hamada é professor emérito de Economia na Universidade de Yale e conselheiro do primeiro-ministro Shinzo Abe.

 

Copyright: Project Syndicate, 2017.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria

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