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18 de Dezembro de 2009 às 11:36

Vai ser tão mau, não foi?

O ano de 2009 não tem balanço: foi em si mesmo um desequilíbrio. Foi um ano péssimo. Um refluxo de uma prosperidade falsificada, um pêndulo que, uma vez empurrado de mais para lá, voltou arrasador. Mas podia ter sido pior. Para alguns até foi...

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O ano de 2009 não tem balanço: foi em si mesmo um desequilíbrio. Foi um ano péssimo. Um refluxo de uma prosperidade falsificada, um pêndulo que, uma vez empurrado de mais para lá, voltou arrasador. Mas podia ter sido pior. Para alguns até foi bom.

Há um ano, sabíamos que ia ser mau e desejávamos que passasse depressa. Estarrecemos quando, logo em Janeiro, a economia travou às quatro rodas. Sem consumo, sem investimento, com apatia total dos agentes económicos, um medo da sombra. Temíamos uma depressão global. Levámos com a recessão. A diferença entre uma coisa e outra foi paga com dinheiro de contribuinte. Com défices. Com dívidas. O Estado está nas lonas, como reconheceu num Orçamento rectificativo, mera declaração de óbito das contas de 2009 e máquina da verdade para um Governo que escondeu os números até quando pôde.

O relatório de falências e das deslocalizações consagra a grande vítima do ano: quem perdeu o emprego. Se o País ainda erguesse estátuas às vítimas, o desempregado seria o novo Soldado Desconhecido.

A quem correu bem o ano? A milhões. Aos que ganharam finalmente poder de compra com aumentos do rendimento face a uma inflação negativa e a juros minúsculos. Para curar o mal de se ter oferecido crédito no passado, este ano ofereceu-se dinheiro. E que fizeram os portugueses? Pouparam mais. Sensatos.

O ano correu bem a quem investiu nas bolsas. O iô-iô tinha descido de mais no ano passado - subiu quase tanto este ano. As percentagens só não são um disparate se considerarmos dois anos de uma vez: 2008-2009. A Bolsa de Lisboa subiu 45% desde meados de Março. Acções como a Sonaecom duplicaram. Quem investiu em "media" ganhou 130% nas acções da Impresa ou da Cofina, dona deste jornal. Muitas empresas haviam sido arrastadas para o grau zero das expectativas dos mercados há um ano. Muitas empresas fizeram por si.

Essas empresas, que tiraram as mãos dos bolsos sem ser para as estender ao Estado, são as grandes vencedoras deste ano. É o caso da discreta Emparque, que aproveitou a crise das empresas espanholas e lá comprou uma rede enorme de parques de estacionamento - o que a redacção do Negócios elegeu como o negócio do ano. É o caso de empresas como a EDP, o BES, a Cimpor, a Soares da Costa, que soltaram amarras e foram atrás do dinheiro para o Brasil, para os Estados Unidos, para Angola. É o caso da PT, que além de porfiar no Brasil o seu futuro, se constituiu como um caso de estudo europeu ao investir na fibra e fazer a impossível inversão do negócio da rede fixa. É o caso da Bial, uma empresa que pensa em décadas e se calibrou à prova de ciclos de Kondratieff. O exemplo de Luís Portela, que a redacção do Negócios elegeu como personalidade do ano, é uma lição de estratégia e de execução.

O ano de 2009 foi duro, expiámos pecados e olhámos a realidade sem máscaras. Chegamos a Dezembro a apanhar os cacos. Uma economia arrasada, um ambiente político sob a espada de eleições, um sistema de justiça incompreensível.

Não foi o ano que passou por nós, fomos nós que passámos o ano. Encerramos 2009 temendo 2010, como quem passou o Bojador e sabe que lhe falta dobrar Boa Esperança. Mas as Bial desta vida mostram-nos que é possível. Não é apenas ter sucesso. É contrariar a fatalidade.

psg@negocios.pt
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