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30 de Setembro de 2009 às 11:50

Uma conspiração de Estado

Cavaco Silva fez o País engolir em seco. Teremos assistido desde Agosto a uma maquinação política ignóbil promovida pelo PS, sob coro dos jornais, com fins eleitorais? Não há outra leitura das palavras do Presidente da República: sim.

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Cavaco Silva fez o País engolir em seco. Teremos assistido desde Agosto a uma maquinação política ignóbil promovida pelo PS, sob coro dos jornais, com fins eleitorais? Não há outra leitura das palavras do Presidente da República: sim.

O Presidente veio dar-se ao respeito. A sua reputação estava no grau mais baixo de toda a sua carreira política - e esta era a sua hipótese de defesa. Atacou. Atacou o PS, o "partido do Governo", denunciando tentativas de condicionamento inaceitáveis do Presidente e fazendo uma "interpretação pessoal" das motivações que mergulha o País no terror da manipulação das massas.

A narrativa do Presidente da República para os acontecimentos desde Agosto é uma narrativa possível. É menos importante entrar no jogo das verosimilhanças do que perceber o tom de ameaça permanente de toda a comunicação do Presidente. Porque as explicações de Cavaco Silva conseguem preencher os espaços em branco, mesmo que implicando pelo caminho intermediários (como Fernando Lima) e mensageiros (incluindo o "Público" e o "Diário de Notícias").

O que é verdadeiramente dramático na mensagem de Cavaco Silva é o choque frontal com o PS. Querem guerra? Guerra terão. Porque ao contrário do que quiseram fazer crer, Cavaco não se mostra nem diminuído nem fragilizado nem acobardado num plano moral ou político inferior face ao Governo, mesmo depois de terem sido, como disse, "violado os limites do tolerável e da decência".

O resgate da sua imagem, de prestígio e de credibilidade não é apenas uma questão pessoal: é o trampolim para pôr o PS em sentido num período em que o Governo não está ainda constituído e que terá uma maioria relativa frágil e dependente de acordos. É nesse contexto que a figura de um Presidente da República é mais determinante. E Cavaco mostrou que não será boneco de feira.

Vamos às acusações: o Presidente da República sentiu um ultimato do PS em Agosto (de Vitalino Canas e de José Junqueiro), para que se pronunciasse sobre o caso das escutas; com esse ultimato, o PS tentou condicioná-lo; o PS quis colar o Presidente ao PSD e desviar as atenções das questões importantes da campanha eleitoral; e o que garante a suspeita de dolo neste comportamento do PS é o facto de um "e-mail" de há 17 meses ter sido tornado público mortífera e cirurgicamente a uma semana das eleições, o que objectivamente prejudicou a imagem do Presidente e a candidatura eleitoral do PSD.

É uma acusação terrível, que faz ademais o País ter um rebate de consciência se admitir ter caído na cilada. Porque, diz o Presidente. se assistiu a "grave manipulação". De quem? Dos eleitores. Por quem? Pelo partido que as ganhou.

Estamos no campo das sombras, da teoria da conspiração contra a teoria da conspiração. É uma espécie de palavra contra palavra e cada português acreditará no que lhe parecer mais crível.

Da comunicação de Cavaco Silva de ontem podemos tentar descobrir quem fala verdade.

Podemos discutir se os "timings" das intervenções, dos seus silêncios e das suas acções, foram certos culpabilizadores ou confessionais. Mas o que não podemos é ignorar que as relações entre a Presidência e o Partido Socialista saíram das salas diplomáticas e entraram no campo de batalha.

Vai ser guerra sangrenta.


psg@negocios.pt






























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