Opinião
Saiu-lhes a Sorte Grande
A OPA pode até ser hostil mas nem o Pai Natal seria tão amigo dos accionistas da Cimpor como a CSN. É quase como se a OPA lhes fosse um favor de 31 de Dezembro. Mas como será a 1 de Janeiro?
A OPA pode até ser hostil mas nem o Pai Natal seria tão amigo dos accionistas da Cimpor como a CSN. É quase como se a OPA lhes fosse um favor de 31 de Dezembro. Mas como será a 1 de Janeiro?
A OPA lançada sobre a Cimpor e a entrada de Isabel dos Santos na Zon são a taluda para muita gente. Virtudes do "valor justo": o registo contabilístico de uma carteira de acções a 31 de Dezembro é o que interessa. E, numa semana, muita gente ficou sorridente e salva o ano. Mesmo que a OPA seja um fracasso em 2010, é para muitos um sucesso em 2009:
Carlos Santos Ferreira - O BCP preparava-se para ser a única acção do PSI-20 a desvalorizar-se em 2009. Depois da OPA, as acções do BCP subiram e já estão positivas. Mas a maior bondade da oferta não é poupar o Millennium ao vexame de ficar negativo num ano em que a bolsa sobe mais de 30%. É a subida das acções da Cimpor fortalecer o fundo de pensões, uma enorme dor de cabeça de Santos Ferreira, que foi agravada na semana passada pela proposta de Basileia para as regras dos rácios de capital. Quase tudo o que Santos Ferreira não domina tem corrido mal. Estava na altura de alguma coisa correr bem. A OPA é preciosa para o fecho do exercício.
Faria de Oliveira - A Caixa foi criticada pelo acordo com Manuel Fino, que entregou 10% da Cimpor como reforço de garantias. A subida das acções esvazia parte das críticas e incorpora uma mais-valia contabilística nas contas da Caixa.
Manuel Fino e Teixeira Duarte - Não se falam mas padecem ambos de excesso de dívidas, para as quais têm sobretudo as acções da Cimpor como colateral. A subida dos títulos a 31 de Dezembro robustece-lhes as garantias. Mais: a OPA marcou um patamar, não apenas de valor mas também por ser em "cash". Se outros aparecerem, entram no leilão.
Bruno Lafont - O presidente da Lafarge não manda na Cimpor e precisa de dinheiro. É dado como o "primeiro" vendedor da OPA.
Coronel Luís Silva - Discreto como sempre, está a jogo. As suas acções na Cimpor sobem. E as que vendeu da Zon a Isabel dos Santos são "perdas cortadas". Com encaixe.
Joe Berardo - Idem. Discreto como nunca, ganha nas acções da Zon e da Cimpor. Bem precisa de aliviar a pressão da banca...
José Sócrates - Garimpou o Atlântico à procura de negócios. A oferta de brasileiros é apreciada. A entrada de Isabel dos Santos é agraciada. Aqui, os ventos semeados colheram frutos, não tempestades.
Isabel dos Santos - Tem dinheiro e mercado de expansão, precisa de empresas com competência. A Zon é uma delas. Isabel já é aceite sem pruridos e entrou a um preço bom.
Rodrigo Costa - O negócio com Angola traz mercados de expansão à Zon. A administração limpa a borrada que foi o programa de compra de acções próprias. E Isabel dos Santos garante uma transição calma para um novo mandato do CEO.
José Maria Ricciardi - Ninguém o vê mas está em todas. O presidente do BES Investimento assessora a OPA da CSN, intermedeia a entrada na Zon e viabilizou o negócio da Galp em Espanha. Com um Dezembro assim, não há crise.
Toda esta gente pode tirar o champanhe do congelador para o "réveillon". E comer 12 passas pedindo idêntica sorte em 2010. Porque a sorte, diz-se, dá muito trabalho.
psg@negocios.pt
A OPA lançada sobre a Cimpor e a entrada de Isabel dos Santos na Zon são a taluda para muita gente. Virtudes do "valor justo": o registo contabilístico de uma carteira de acções a 31 de Dezembro é o que interessa. E, numa semana, muita gente ficou sorridente e salva o ano. Mesmo que a OPA seja um fracasso em 2010, é para muitos um sucesso em 2009:
Faria de Oliveira - A Caixa foi criticada pelo acordo com Manuel Fino, que entregou 10% da Cimpor como reforço de garantias. A subida das acções esvazia parte das críticas e incorpora uma mais-valia contabilística nas contas da Caixa.
Manuel Fino e Teixeira Duarte - Não se falam mas padecem ambos de excesso de dívidas, para as quais têm sobretudo as acções da Cimpor como colateral. A subida dos títulos a 31 de Dezembro robustece-lhes as garantias. Mais: a OPA marcou um patamar, não apenas de valor mas também por ser em "cash". Se outros aparecerem, entram no leilão.
Bruno Lafont - O presidente da Lafarge não manda na Cimpor e precisa de dinheiro. É dado como o "primeiro" vendedor da OPA.
Coronel Luís Silva - Discreto como sempre, está a jogo. As suas acções na Cimpor sobem. E as que vendeu da Zon a Isabel dos Santos são "perdas cortadas". Com encaixe.
Joe Berardo - Idem. Discreto como nunca, ganha nas acções da Zon e da Cimpor. Bem precisa de aliviar a pressão da banca...
José Sócrates - Garimpou o Atlântico à procura de negócios. A oferta de brasileiros é apreciada. A entrada de Isabel dos Santos é agraciada. Aqui, os ventos semeados colheram frutos, não tempestades.
Isabel dos Santos - Tem dinheiro e mercado de expansão, precisa de empresas com competência. A Zon é uma delas. Isabel já é aceite sem pruridos e entrou a um preço bom.
Rodrigo Costa - O negócio com Angola traz mercados de expansão à Zon. A administração limpa a borrada que foi o programa de compra de acções próprias. E Isabel dos Santos garante uma transição calma para um novo mandato do CEO.
José Maria Ricciardi - Ninguém o vê mas está em todas. O presidente do BES Investimento assessora a OPA da CSN, intermedeia a entrada na Zon e viabilizou o negócio da Galp em Espanha. Com um Dezembro assim, não há crise.
Toda esta gente pode tirar o champanhe do congelador para o "réveillon". E comer 12 passas pedindo idêntica sorte em 2010. Porque a sorte, diz-se, dá muito trabalho.
psg@negocios.pt
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