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13 de Dezembro de 2010 às 11:37

Redes energéticas inteligentes: "QI" europeu é superior ao norte-americano

No cinema, existe o "Dumb and Dumber" ("Doidos à Solta").

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Podemos dizer que as redes energéticas terão o seu Smart e o seu Smarter. Se for esse o caso, a Europa parece querer assumir o papel de Smarter. Fui recentemente a uma conferência na Europa, onde tive a oportunidade de me encontrar com responsáveis da Novabase (líder no sector de integradores em Portugal), da EDP (operador do sistema de distribuição português) e do Current Group (empresa norte-americana que está a ter sucesso na Europa).
Voltei com a impressão de que a abordagem europeia às redes energéticas inteligentes é, muitas vezes, superior à nossa, particularmente em três aspectos.

1. Associação a uma visão social mais ampla
Diversas empresas do sector de utilities estão a aderir a uma agenda social mais ampla. Por exemplo, a Dinamarca e a Suécia comprometeram-se a acabar com a utilização de combustíveis fósseis. Portugal também está no bom caminho, com programas de desenvolvimento de energias renováveis extremamente agressivos. As empresas de utilities destes países encaram - com toda a razão - os respectivos programas de redes energéticas inteligentes como um passo importante nessa direcção. Do lado oposto, as empresas de utilities norte-americanas justificam as redes energéticas inteligentes afirmando que "o nosso regulador disse que podíamos". Os melhores argumentos reduzem-se à eficiência e à "informação para ajudar os consumidores a controlar os consumos energéticos". Não vem daqui grande mal. A questão é que estão a desperdiçar a oportunidade de se juntar à enorme vontade que a América tem de pôr um ponto final à tirania da dependência do petróleo estrangeiro e de criar um planeta melhor para as próximas gerações.

2. Eficiência dos sistemas como primeira prioridade
Recentemente, perguntei se os Estados Unidos não estariam a construir a rede energética ao contrário. Começámos com contadores inteligentes e resposta à procura, o que requer marketing ao consumidor e alterações ao comportamento dos consumidores. Por seu turno, muitas empresas de utilities europeias começam, em primeiro lugar, por tentar tornar os seus sistemas de distribuição mais eficientes (com automatização de distribuição, optimização de tensão, etc.). Só posteriormente começarão a implementar programas que necessitam do envolvimento e da alteração do comportamento dos consumidores. A dinamarquesa DONG Energy, a portuguesa EDP e a francesa EDF são três exemplos disso.

3. Mais retorno por cada euro
De acordo com os últimos cálculos da eMeter, as empresas de utilities dos Estados Unidos gastam, aproximadamente, 220 dólares (cerca de 166 euros) por cada contador inteligente, incluindo a instalação. Pelo que apurei, as empresas europeias deste sector gastam cerca de metade deste valor. É necessário referir que parte da poupança se deve aos custos inferiores da instalação, mas o grosso da diferença resulta do facto de os europeus estarem a comprar melhor, nomeadamente no que diz respeito ao contador e ao módulo de comunicações. Em primeiro lugar, as empresas de utilities europeias são, regra geral, maiores, o que lhes permite criar mais economias de escala e obter maior poder de negociação. (Este é um dos motivos que me leva a pensar que as empresas de utilities americanas nunca virão a ter uma grande dimensão). Em segundo lugar, parecem mais favoráveis a juntar forças para criar aquisições conjuntas e interoperabilidade nos padrões de plug-and-play, o que ajuda a reduzir os preços.

Vejamos então. A Europa está a associar as suas redes energéticas inteligentes a uma visão mais ampla de um mundo melhor, a dar prioridade ao mais simples, ou seja, à eficiência do sistema, e não aos objectivos mais difíceis de alcançar, como a eficiência do consumidor. E, finalmente, a pagar cerca de metade do preço (pelo menos, pelos contadores inteligentes). É possível que os Estados Unidos estejam a tomar opções inteligentes com a rede energética, mas, na minha perspectiva, a abordagem europeia parece muito mais inteligente.


Presidente do Center for Smart Energy (CSE)
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