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Fernando Sobral - Jornalista fsobral@negocios.pt 07 de Novembro de 2003 às 11:18

Por um presidente benfiquista!

Para um Portugal forte precisamos de um Benfica que seja campeão.

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Agora que o país já pode dormir mais descansado porque o sr. Luís Filipe Vieira está eleito, o novo estádio da Luz foi inaugurado com a ajuda de uma águia vinda de Espanha, o sr. Manuel Vilarinho já pode dizer que “Eu sou um No Name” sem que as pessoas vejam nisso uma candidatura a intérprete principal de “Kill Bill II” do sr. Quentin Tarantino e o sr. Guerra Madaleno terá de esperar pelas próximas eleições para gastar o dinheiro que tem numa dependência bancária, só há um problema que continua a atormentar Portugal: o Benfica continua sem ganhar.

Os grandes dramas nacionais não são os desastres nas estradas, o batelão da Ericeira, o défice do Orçamento, o desfile da sra. Bárbara Guimarães, ou mesmo a “sitcom” Casa Pia.

É efectivamente o Benfica não ganhar. E, nem com um monóculo, se conseguem ver perspectivas de vir a ganhar. O Benfica é uma espécie de vírus: contamina, pelos piores motivos, tudo e todos. Até o país.

Quando o Benfica se constipa, o Portugal fica com uma gripe incontrolável. Quando o Benfica está deprimido, o país pede um novo contentor de Prozac. O Benfica é o termómetro de Portugal: o nosso humor sobe ou desce consoante os encarnados estão bem dispostos ou não.

E raramente o Benfica tem tido condições para se sentir como se tivesse saído de uma sessão de hidromassagem. Até o sr. Fyssas que, segundo parece, vem para o Benfica em Janeiro, já começou a marcar golos na própria baliza. É um sinal de como o clube causa problemas a todos os que se relacionam com ele. Mesmo por antecipação.

O drama do Benfica torna o país uma espécie de cliente do divã do sr. Freud. A vida estaria mais facilitada para a sra. Manuela Ferreira Leite se o Benfica ganhasse.

Aí se veriam milhões de portugueses alegremente a pagar os seus impostos, a não protestarem porque as escadas rolantes do Metro da estação Baixa-Chiado quase nunca funcionam, a considerarem que o país caminha para um hipermercado de prosperidade.

A solução para Portugal é dar alegria aos benfiquistas e, mudando todas as leis possíveis, fazer do Benfica um vencedor. Mesmo que nem tenha de competir. Deveria aplicar o princípio do “fair-play” britânico: antigamente os súbditos de Sua Majestade tinham-no porque, independentemente de tudo, ganhavam naturalmente todos os jogos de futebol. Sendo os melhores, poderiam ter “fair-play”.

Com o Benfica deveria passar-se o mesmo: deveria ganhar, mesmo que perdesse no campo, para que o país transpirasse felicidade. Imagina-se o prazer com que todos os seis milhões de encarnados trabalhariam no dia seguinte, após mais uma vitória?

O sr. Luís Filipe Vieira percebeu tudo isso, depois de olhar para uma bola de cristal. Sendo sócio do Benfica, do Sporting e do FC Porto, o sr. Luís Filipe Vieira é o verdadeiro presidente de todos os portugueses.

Deveria preparar a sua candidatura a Presidente da República contra o sr. Santana Lopes, que só é do Sporting, contra o sr. António Guterres, que só é do Benfica, e contra o sr. Cavaco Silva que não se sabe se gosta de futebol, mas que deve ser da Sociedade Recreativa e Agrícola de Boliqueime.

Com um Benfica sempre a vencer e com um presidente que sendo o líder do clube e da SAD encarnada se imporia naturalmente como chefe da nação se veria como o país iria progredir, voltando a ultrapassar a Grécia e rumando orgulhosamente para um lugar ao sol na Europa. Numa praia qualquer.

Para um Portugal forte precisamos de um Benfica que seja campeão. Sem que isso aconteça vamos continuar a minguar, a deixar que os espanhóis plantem oliveiras para ocupar as quotas de produção de azeite nacional.

Portugal é um país cada vez mais triste e se o FC Porto ainda nos dá algumas alegrias, não é menos verdade que até o sr. José Mourinho já diz que quer emigrar. O sr. Durão Barroso já percebeu que só conquistando os benfiquistas garante um governo sem assobiadelas. Imagine-se o país, olhando embevecido para um estádio da Luz cheio, com as bandeiras a esvoaçar e o sr. Luís Filipe Vieira a receber a homenagem dos “pioneiros” benfiquistas. Esse seria o país das novas descobertas. Da aventura e da conquista. O único problema é se este sonho não se tornaria num pesadelo.

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