Opinião
Pedro Romano, estarás sempre no nosso horizonte
Durante os quatro anos seguidos em que trabalhei com o Pedro Romano, primeiro no Diário Económico, depois no Jornal de Negócios, sabia que não lhe podia pedir um número de telefone de alguém.
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Essa era uma oportunidade que ele não perdia para dar o seu próprio número e depois fazer passar-se pela pessoa, imitando-lhe a voz e conduzindo a conversa para situações absurdas. Eu escapei mas vi vários colegas caírem na armadilha. Depois da surpresa, seguiam-se as gargalhadas.
Do Romano, como também o tratávamos, guardamos na memória esse seu lado divertido e imprevisível. Mas guardamos muito mais: todos sabemos que era impossível escrever sobre economia de uma forma mais clara e simples. Aos 30 e poucos anos, primeiro na imprensa e depois em blogues por conta própria, o Pedro Romano foi-se afirmando como um dos melhores comunicadores na área económica. Opinava, mas o que mais o distinguia era o seu talento para ensinar, desmistificar, aprofundar.
O Pedro nunca coube em categorias e sempre foi desconcertante. Era um dos mais jovens entre nós, mas os seus gostos batiam pouco com os colegas da sua idade; era dos jornalistas menos experientes, mas um dos que mais sabia de economia; o humor dele era disruptivo e ia do brejeiro ao mais refinado e até erudito. A sua calma e serenidade transformavam-se em desvario e transgressão ao virar da esquina.
Politicamente, baralhava toda a gente: uns viam-no como de esquerda, outros de direita. É que o Pedro adorava desmontar narrativas e desfazer certezas, tinha sempre uma pergunta desconfortável na ponta da língua e um olhar vindo de uma perspectiva diferente.
A partida do Romano não provoca apenas saudades. Essas já as sentia muitas vezes, agora que o via menos. Provoca espanto. Raiva. E uma infinita e inconsolável tristeza.
O Pedro partiu e deixou-nos para trás. Mas ficará para sempre no horizonte das nossas vidas.
Um grande, grande abraço.