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Uma questão de mentalidade

Há quase quinze anos montei a minha primeira empresa. Éramos 5 amigos e fazíamos websites.

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Paulo Taylor, Empreendedor Residente na Beta-i, Mentor no Lisbon Challenge

 


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades… ou talvez não.


Há quase quinze anos montei a minha primeira empresa. Éramos 5 amigos e fazíamos websites. Na verdade não passou de uma experiência, apesar da empresa ter sido registada, nunca tivemos um único cliente e o único website que alguma vez construímos foi o site da nossa própria empresa.


Tudo terminou quando tomei a decisão de ir para a Holanda. Aceitei uma proposta indecente para ir trabalhar para Amesterdão. Não foram tempos fáceis. A bolha dotcom já tinha rebentado e as startups com os modelos de negócio mais disparatados começavam a cair quem nem tordos.


Mas não demorou muito até eu querer montar a minha próxima empresa. Desta vez na Holanda, com dois sócios holandeses, num país completamente diferente, com uma língua estranha, mas um povo aberto e progressista. Contudo eu estava longe de imaginar que a empresa se iria tornar numa multinacional, com escritórios em Amesterdão, Londres, Singapura e São Francisco e com mais de 300 milhões de utilizadores registados ao longo destes anos todos.


Treze anos depois estou de volta a Portugal e dá para ver bem como as coisas mudaram, e mudaram consideravelmente. Abrir uma empresa em Portugal, não era certamente tão fácil como é hoje em dia, não estou a falar de toda burocracia associada ao processo, isso pode também estar um tanto mais facilitado hoje, refiro-me especificamente à quantidade - e qualidade - de apoios e incentivos disponíveis para o empreendedor Português de hoje. Com incentivos que vão desde financiamentos, a apoios de aceleradoras ou incubadoras, de Angel a venture capital investors, já para não falar na acessibilidade e rapidez da circulação da informação, entre tantos outros apoios. A verdade é que estas ajudas eram na sua maioria inexistentes há uns anos atrás, pelo menos para o comum dos mortais.


Embora tenhamos hoje acesso a mais incentivos, temos também mais startups na corrida, o que eleva o grau de competitividade neste mundo globalizado. Consequentemente com a quantidade de startups que surgem todos os dias, fica difícil sobressair dessa nuvem densa de ideias inovadoras e só as melhores vão conseguir. Portanto, apesar dessas facilidades, não basta apenas criar uma empresa, tem de se ter uma ideia diferenciada, que cause um impacto positivo nas pessoas e no mundo e são essas as startups que vão vingar.


Serão todos esses incentivos e facilidades suficientes? Pela minha experiência eu diria que não, para isso tudo ser possível também é preciso capital, muito capital! E não basta copiar os modelos organizacionais existentes, como Silicon Valley ou de outros centros de tecnologia de referência. Há-que trazer a mentalidade dos investidores desses centros tecnológicos para o outro lado do Atlântico e já agora para as terras Lusitanas, mas não é um problema necessariamente só de Portugal, essa mentalidade ainda se mantém bastante localizada e se se tem vindo a espalhar pelo resto do planeta tem sido a passo de caracol.


Existe também uma característica fundamental que deve ser alterada que é a maneira de lidar com o falhanço. Estatisticamente apenas 1 em 10 startups terá algum sucesso portanto o falhanço faz parte da vida de qualquer empreendedor e não deve ser visto como um ato criminal como às vezes parece ser a prática. Só não falha quem fica sempre sentado no sofá a ver televisão, isso sim, por mim pode ser considerado um crime, enquanto que quem tentou e falhou aprende com esse episódio e parte para outra, desta vez com mais maturidade e experiência, é isso que define um verdadeiro empreendedor.


De facto os tempos mudaram-se, espero que as vontades também.

 

 

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