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Paulista acidental - 4

Buñuel dizia que não se importava de morrer, mas gostava de poder regressar de vez em quando

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Buñuel dizia que não se importava de morrer, mas gostava de poder regressar de vez em quando, ir a um quiosque, comprar alguns os jornais, para ficar a saber como andavam as coisas. É uma bela imagem, mas, claro, é melhor fazê-lo estando vivo.

Nem preciso de ir ao quiosque da esquina. O Hotel fornece os jornais com o pequeno-almoço. Como praticamente não vejo televisão, que é péssima, sem sofisticação, populista e bastante inculta, eles são a principal fonte de informação sobre como andam as coisas aqui no Brasil.

Como não podia deixar de ser as eleições Presidenciais que têm lugar no início de Outubro são o tema do momento. Já li muita coisa, notícias, editoriais e opiniões, mas não conhecendo em detalhe a cena política brasileira, confesso que por vezes me sinto um pouco confuso. A fronteira esquerda/direita nem sempre é clara. As propostas não são evidentes. E tem muito intriga pelo meio. De qualquer modo e ao certo o destaque vai para três candidatos. Dilma Rousseff pela esquerda e continuidade, José Serra pela direita e oposição e Marina Silva, do Partido Verde, dissidente do Governo Lula que tem 10% nas sondagens. Também referido com frequência surge o nome de Plínio de Arruda Sampaio, colocado na extrema-esquerda. A minha confusão prende-se com o seguinte. Serra, da direita, tem uma agenda social mais esquerdista do que Dilma. Marina Silva, apresenta-se pela esquerda do PT, mas ao afirmar que não tem ideologia, não é de esquerda nem de direita, revela ser objetivamente de direita. Além disso é demagógica e algo irritante. Plínio, da extrema-esquerda ataca mais a esquerda do que a direita, o que vai sendo habitual por toda a parte. Por fim, a própria Dilma que se apresenta como candidata a mãe dos brasileiros, é sobretudo uma lulista, sem grande carisma nem ideias.

Dilma vai ganhar porque é patrocinada por Lula, e é tudo para já. Logo se verá se continuará a contribuir para o impressionante desenvolvimento deste grande país.

Outro debate curioso que ocupou as páginas dos jornais prendeu-se com uma proposta de lei do Governo Lula para proibir os pais de baterem nos filhos. Ou seja, para se passar a punir criminalmente quem o faça. A opinião escrita, de especialistas, professores e intelectuais, tem sido unânime quanto às consequências muito negativas na formação das crianças das agressões paternais. A violência é uma doença genética que os pais passam para os filhos. Bastante cínica diga-se, já que exercida em nome do amor e da educação. Mas é evidente que pai, ou mãe, que bate num filho é no mínimo um incompetente que não é capaz de educar sem utilizar a agressão e a tortura.

A direita vai votar contra, com o argumento de que a lei retira autoridade aos pais. Muda-se de país, mas a direita continua a mesma: a autoridade está sempre à frente da felicidade.

Com uma taxa de aprovação perto dos 80%, Lula da Silva foi recentemente beliscado devido ao caso Sakineh, a mulher condenada à lapidação no Irão. Lula que tem desenvolvido uma relação de proximidade com o proscrito Mahmoud Ahmadinejad imaginou que isso lhe daria alguma vantagem. Perante a condenação bárbara, propôs dar asilo à iraniana. Esqueceu que está a lidar com radicais fascistas. Ahmadinejad respondeu-lhe para não se meter onde não era chamado. A estratégia de desanuviamento seguida por Lula ruiu nesse momento. O Irão é mesmo intratável.

Não se consegue ter uma conversa racional com gente que pensa e se comporta com base no fanatismo religioso e irracional. Se à partida a questão do nuclear não é linear, pois em boa verdade não se sabe ao certo se o Irão está a desenvolver a bomba ou não, a condenação de uma mulher à lapidação, simplesmente porque teve sexo com um homem, mostra como estamos perante um regime que não merece o mínimo de respeito ou credibilidade. A civilização lutou séculos contra este tipo de barbárie. Não é admissível que ela continue a existir no planeta.

Ainda para mais esta gente é mesmo estúpida. Pois são casos destes que preparam a opinião pública ocidental para uma intervenção armada. Ou já se esqueceram que foi a destruição dos budas gigantes pelos talibã que, mais do que tudo o resto, legitimou a invasão do Afeganistão?

Este artigo de opinião foi escrito em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.



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