Opinião
Obama Blues
Seja por incúria ou comiseração, Dinesh D"Souza tem recebido pouca atenção num Portugal atormentado pelas negociações de um precário Orçamento de Estado
Seja por incúria ou comiseração, Dinesh D'Souza tem recebido pouca atenção num Portugal atormentado pelas negociações de um precário Orçamento de Estado que, ao que tudo indica, nem terá oportunidade de ser rectificado.
É pena, porque o ideólogo conservador, de origem goesa, presidente do King's College de Nova Iorque, serve como um bom guia quanto às alucinações dos sectores mais extremistas da direita norte-americana.
Prova D'Souza que a Casa Branca está nas mãos de um presidente que só visa realizar as quimeras de seu pai, identificado como típico apóstolo anticolonista de tribos ingratas - os Luo, neste caso, que juraram pela perdição do Ocidente.
Um anticolonialista sinistro
As ideias do progenitor queniano, economista lincenciado por Harvard e propenso aos excessos de bebida, poligamia e violência contra as mulheres que passaram pela sua vida até morrer em Nairobi, alcoolizado, naturalmente, num desastre de automóvel em 1982, definem as opções do presidente.
Barack Hussein, veementemente "antibusiness", é pior do que um socialista ao estilo europeu, apostado no igualitarismo e redistribuição de rendimentos por via governamental, porque herdou a mundividência anticolonialista do pai, no dizer de D'Souza.
"A América não passa de uma potência apostada no domínio global e na rapina", assim asseverava Obama pai; e o filho, na senda do economista Luo, pretende por isso colocar sob tutela governamental as empresas, taxar justos proventos das classes empreendedoras e, obviamente, ceder às exigências de radicais islamitas.
D'Souza, cujo opus "magnun" sobre The Roots of Obama's Rage está prestes a esclarecer o vasto mundo acerca das maquinações sinistras de Obama, não é apenas um demagogo.
Tal como os representantes do Tea Party D'Souza expressa a desorientação que grassa particularmente entre brancos que se identificam com a classe média e vêem postas em causa expectativas de segurança e promoção sociais num mundo em que a posição hegemónica dos Estados Unidos entrou em declínio.
Chá amargo
O populismo do movimento Tea Party em guerra contra um governo alegadamente ominpotente e omnipresente, apostado na rapina fiscal, e promotor de direitos ilegítimos de grupos raciais abusadores, negros e hispânicos, sobretudo, impôs-se na campanha política e marcou o tom abusivo e radical de muitos ataques aos democratas, que retorquiram da mesma forma.
A mobilização eleitoral promovida pelo Tea Party contou certamente para a vitória republicana na eleição de terça-feira.
O futuro do movimento e a putativa candidatura presidencial de Sarah Palin dependerão muito dos resultados que conseguir em alguns estados - nomeadamente a Flórida, Nevada, Colorado, Alasca, Delaware - onde os seus candidatos entraram em competição com republicanos moderados, favorecendo as hipóteses dos democratas.
Na véspera da votação, as sondagens indicavam que Obama irá perder a maioria na Câmara de Representantes, mantendo, eventualmente, o controlo do Senado.
Gingrich e o compromisso
A dimensão da derrota, incluindo as legislaturas e governos estaduais, definirá os termos da negociação política e da estratégia de reeleição de Obama.
A penalização sofrida pelos democratas será possivelmente bem maior do que o tradicional refluxo que afecta o partido governamental nas eleições intercalares, e a que recentemente só escapou George W. Bush, no rescaldo do 11 de Setembro de 2001.
Uma economia que saiu da recessão com um crescimento rondando os 2%, insuficiente para criar postos de trabalho que absorvam os 9,6% da mão-de-obra desempregada, e a persistente crise do mercado imobiliário condenavam os democratas a um mau resultado.
Três das prioridades da Casa Branca - reforma de saúde, regulação financeira e estímulos à economia - foram, igualmente, mal recebidas pelo eleitorado.
Uma reorientação centrista, à imagem da encetada por Bill Clinton para conseguir a reeleição em 1996, poderá não conseguir evitar que Obama tenha de recorrer a sucessivos vetos para bloquear iniciativas legislativas republicanas
Até ao final do ano, quando expiram os cortes fiscais adoptados por Bush em 2001 e 2003, republicanos e democratas terão de chegar a consenso sobre política fiscal.
O modo como correrem as negociações definirá o clima político para os próximos dois anos: confronto sistemático entre a Câmara de Representantes e a Casa Branca, na linha adoptada pela liderança republicana de Newt Gingrich em 1994, ou compromissos pragmáticos, designadamente nas áreas de saúde, educação e energia.
Caso se confirme o pior cenário para os democratas - a perda de oito mandatos no Senado e de mais de 60 lugares na Câmara de Representantes - será grande a tentação entre os republicanos para encurralar Obama no recurso sistemático ao veto.
D'Souza e Sarah Palin, nesse cenário, marcarão cada vez mais o tom da ofensiva ideológica à direita, por maior que seja o risco de que o seu radicalismo possa vir a revelar-se letal para a candidatura presidencial republicana de 2012.
Jornalista
barradas.joaocarlos@gmail.com
Assina esta coluna semanalmente à quarta-feira
É pena, porque o ideólogo conservador, de origem goesa, presidente do King's College de Nova Iorque, serve como um bom guia quanto às alucinações dos sectores mais extremistas da direita norte-americana.
Um anticolonialista sinistro
As ideias do progenitor queniano, economista lincenciado por Harvard e propenso aos excessos de bebida, poligamia e violência contra as mulheres que passaram pela sua vida até morrer em Nairobi, alcoolizado, naturalmente, num desastre de automóvel em 1982, definem as opções do presidente.
Barack Hussein, veementemente "antibusiness", é pior do que um socialista ao estilo europeu, apostado no igualitarismo e redistribuição de rendimentos por via governamental, porque herdou a mundividência anticolonialista do pai, no dizer de D'Souza.
"A América não passa de uma potência apostada no domínio global e na rapina", assim asseverava Obama pai; e o filho, na senda do economista Luo, pretende por isso colocar sob tutela governamental as empresas, taxar justos proventos das classes empreendedoras e, obviamente, ceder às exigências de radicais islamitas.
D'Souza, cujo opus "magnun" sobre The Roots of Obama's Rage está prestes a esclarecer o vasto mundo acerca das maquinações sinistras de Obama, não é apenas um demagogo.
Tal como os representantes do Tea Party D'Souza expressa a desorientação que grassa particularmente entre brancos que se identificam com a classe média e vêem postas em causa expectativas de segurança e promoção sociais num mundo em que a posição hegemónica dos Estados Unidos entrou em declínio.
Chá amargo
O populismo do movimento Tea Party em guerra contra um governo alegadamente ominpotente e omnipresente, apostado na rapina fiscal, e promotor de direitos ilegítimos de grupos raciais abusadores, negros e hispânicos, sobretudo, impôs-se na campanha política e marcou o tom abusivo e radical de muitos ataques aos democratas, que retorquiram da mesma forma.
A mobilização eleitoral promovida pelo Tea Party contou certamente para a vitória republicana na eleição de terça-feira.
O futuro do movimento e a putativa candidatura presidencial de Sarah Palin dependerão muito dos resultados que conseguir em alguns estados - nomeadamente a Flórida, Nevada, Colorado, Alasca, Delaware - onde os seus candidatos entraram em competição com republicanos moderados, favorecendo as hipóteses dos democratas.
Na véspera da votação, as sondagens indicavam que Obama irá perder a maioria na Câmara de Representantes, mantendo, eventualmente, o controlo do Senado.
Gingrich e o compromisso
A dimensão da derrota, incluindo as legislaturas e governos estaduais, definirá os termos da negociação política e da estratégia de reeleição de Obama.
A penalização sofrida pelos democratas será possivelmente bem maior do que o tradicional refluxo que afecta o partido governamental nas eleições intercalares, e a que recentemente só escapou George W. Bush, no rescaldo do 11 de Setembro de 2001.
Uma economia que saiu da recessão com um crescimento rondando os 2%, insuficiente para criar postos de trabalho que absorvam os 9,6% da mão-de-obra desempregada, e a persistente crise do mercado imobiliário condenavam os democratas a um mau resultado.
Três das prioridades da Casa Branca - reforma de saúde, regulação financeira e estímulos à economia - foram, igualmente, mal recebidas pelo eleitorado.
Uma reorientação centrista, à imagem da encetada por Bill Clinton para conseguir a reeleição em 1996, poderá não conseguir evitar que Obama tenha de recorrer a sucessivos vetos para bloquear iniciativas legislativas republicanas
Até ao final do ano, quando expiram os cortes fiscais adoptados por Bush em 2001 e 2003, republicanos e democratas terão de chegar a consenso sobre política fiscal.
O modo como correrem as negociações definirá o clima político para os próximos dois anos: confronto sistemático entre a Câmara de Representantes e a Casa Branca, na linha adoptada pela liderança republicana de Newt Gingrich em 1994, ou compromissos pragmáticos, designadamente nas áreas de saúde, educação e energia.
Caso se confirme o pior cenário para os democratas - a perda de oito mandatos no Senado e de mais de 60 lugares na Câmara de Representantes - será grande a tentação entre os republicanos para encurralar Obama no recurso sistemático ao veto.
D'Souza e Sarah Palin, nesse cenário, marcarão cada vez mais o tom da ofensiva ideológica à direita, por maior que seja o risco de que o seu radicalismo possa vir a revelar-se letal para a candidatura presidencial republicana de 2012.
Jornalista
barradas.joaocarlos@gmail.com
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