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29 de Dezembro de 2011 às 23:30

O que a China quer em 2012

Com a globalização económica e o advento de um mundo multipolar, a China e outras nações emergentes vão, claramente, desempenhar papéis muito mais importantes, não apenas em 2012, mas nas próximas décadas.

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Dado que o poder e a influência económica da China no mundo têm vindo a aumentar no seguimento da crise financeira de 2008, a ideia que circula é que a China e os Estados Unidos devem co-liderar o mundo sob uma harmonia ao género G2. Mas esse cenário de G2 não é consistente com a política externa de independência da China. Nem é consistente, da mesma forma, com a tendência geral de uma mais ampla dispersão do poder geopolítico dentro da comunidade internacional. Embora os mais altos líderes da China mudem este ano, esta posição não se vai alterar.

De facto, quando visitou Praga, em Maio de 2009, por ocasião da 11ª cimeira China-União Europeia, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, explicou que a China se opõe ao conceito de G2. É uma firme intenção da China recusar qualquer hegemonia, tal como é uma firme intenção da China não apoiar um domínio global por parte de uma pequena minoria de países.

Aquilo em que a China acredita é no aprofundamento da cooperação entre todas as principais regiões do mundo. Observem a Europa - uma civilização esplêndida e respeitada pela sua antiguidade, actualmente um dos maiores intervenientes no palco mundial. O progressivo reforço da integração da União Europeia tem trazido uma dinâmica de vigor para o continente europeu. Apesar das actuais dificuldades, a Europa ainda ostenta uma força global e uma influência internacional extraordinárias.

A China sempre apoiou a integração europeia e espera que a União Europeia se torne num pilar da ordem internacional. Na sequência da crise financeira global e da crise da dívida da Zona Euro, a China comprou obrigações soberanas, fez investimentos directos e enviou delegações empresariais para a Europa. Durante a visita do primeiro-ministro espanhol, José Luis Zapatero, a Pequim, em Abril de 2011, Wen reafirmou a vontade da China em continuar a adquirir obrigações soberanas espanholas, como mais uma forma de demonstrar o apoio aos esforços da Europa para emergir da crise. Além do mais, o enorme mercado e força de trabalho chineses têm criado importantes oportunidades para a Europa.

Nesta nova era multipolar, a China e a Europa têm de trabalhar em conjunto e estão agora num momento crucial, caso se pretenda aprofundar essa cooperação. O que fizermos para partilhar oportunidades, responder a desafios e caminhar para o desenvolvimento vai ser directamente relevante não só para o bem-estar das próprias populações mas também para o futuro do mundo. A cooperação da China e da União Europeia será essencial para manter a paz e a estabilidade globais. Compartilhamos um compromisso para resolver os problemas internacionais através de meios políticos. Ambos os lados já desempenharam papéis construtivos na resposta a desafios globais, tais como as alterações climáticas, o terrorismo e a proliferação de armas de destruição em massa.

O lançamento paralelo do 12º Plano Quinquenal, da China, e a Estratégia 2020, da Europa, também ajudou a intensificar a cooperação. A China e a Europa trabalharam em conjunto, depois de 2008, para evitarem um desastre financeiro à escala global, para se oporem ao proteccionismo e para promoverem a reforma do sistema financeiro internacional, facilitando, assim, a recuperação económica mundial.

A China também encara as suas relações com os Estados Unidos de forma muito séria. Na realidade, a nossa relação bilateral está entre as mais importantes da comunidade internacional. Essa ligação tem atravessado por alguns momentos difíceis desde que os laços diplomáticos foram estabelecidos, em 1979. Contudo, no seu todo, tem vindo a desenvolver-se e a beneficiar ambas as partes. Hoje, a China e os EUA partilham mais interesses do que até aqui e estão, também, a incentivar perspectivas para uma cooperação ainda mais ampla.

Na altura em que visitou Washington, DC, em Janeiro de 2011, os presidentes Hu Jintao e Barack Obama concordaram em construir aquilo a que Hu se referia como "uma parceria harmoniosa da China e dos EUA, baseada no respeito e no benefício mútuo". Ambos reafirmaram o seu respeito pela soberania e integridade territorial do outro. Alcançaram entendimentos sobre muitas questões estratégicas, incluindo os esforços para fortalecer a cooperação na região da Ásia e do Pacífico e em instituições multilaterais. Responderam, ainda, em conjunto aos desafios regionais e globais para alcançar a paz e a estabilidade, por exemplo, na península da Coreia.

A China é o maior país em desenvolvimento do mundo; a Europa é o maior bloco de nações desenvolvidas; os EUA são o maior país desenvolvido. Juntos, representamos cerca de um terço da humanidade e dois terços da economia mundial. Como três das maiores potências mundiais, a China, a União Europeia e os EUA precisam de fortalecer a sua cooperação e precisam de trabalhar com o resto do mundo para enfrentar as complexas questões internacionais que nos desafiam a todos. Juntos, temos de abrir caminho para a grande tarefa de manter a paz mundial e promover o desenvolvimento comum.

Apesar de estar comprometida com a sua própria política externa independente, a China não pode alcançar o desenvolvimento isolada. Da mesma forma, o mundo não se pode desenvolver sem a China. Hu disse uma vez que o século XXI devia ser o século da paz, do desenvolvimento e da cooperação. A China está disposta a juntar-se à União Europeia, aos EUA e ao resto do mundo para concretizar a possibilidade de um mundo verdadeiramente harmonioso.

Li Zhaoxing foi ministro dos Negócios Estrangeiros da China entre 2003 e 2007 e é, actualmente, o presidente da comissão dos Negócios Estrangeiros do Congresso.

© Project Syndicate, 2011.
www.project-syndicate.org
Tradução: Diogo Cavaleiro

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