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O país do futebol

O futebol português vive numa "bolha", onde não há praticamente criação de riqueza. Há circulação de jogadores e tenta-se garantir a percentagem entre as compras e vendas. Dá-se pouca atenção aos valores emergentes e à possibilidade de os valorizar, com tempo, nos plantéis principais

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Pouco antes de morrer, em 1952, o Sr. Teixeira de Pascoaes, que sempre procurou a fórmula da redenção de Portugal, escreveu: "Creio bem que o chamado futurismo, o ateísmo, o tiro aos pombos, a reforma ortográfica, o futebol, etc., todas as forças dissolventes da nossa Alma, são de carácter transitório". A alma, é certo, continua sem se redimir, mas o futebol tornou-se a política oficial do país. Portugal vive atolado em impostos e tem de ceder a um memorando para ter acesso a dinheiro para que o país continue a funcionar? O futebol vive indiferente a isso: os principais clubes têm dívidas estrondosas, mas continuam a gastar milhões sem aquisições como se o crédito nunca acabasse. Olhe-se para as páginas dos jornais desportivos neste período estival: todos os dias vão chegar mais craques que custam três, quatro ou oito milhões. Clubes como o Sporting e o Benfica dão-se ao luxo, a acreditar no que os empresários do futebol têm o prazer de fazer ecoar na imprensa para aumentar o apetite, de lutar por um defesa esquerdo que quer jogar a central como se ele fosse a salvação na terra.

O futebol tomou conta deste país empobrecido à força. Pela calada da noite, os clubes tentam livrar-se de exemplos perfeitos de investimentos úteis como o Sr. Bojinov ou o Sr. Pongolle ou mesmo de uns jogadores que pelos vistos militavam no Benfica ou no FC Porto. Todos tentam garantir a venda de algumas das suas pérolas para encaixar algum dinheiro que pague a época e as loucuras da praxe. É certo que olha-se para os plantéis dos "três grandes" e tem-se dificuldade em descobrir um 11 de jogadores portugueses. Porquê? Porque não são rentáveis nesta política de plataforma giratória em que se tornou o futebol português. E, no entanto, Portugal é, segundo a FIFA, o quarto maior exportador de jogadores do mundo, tendo no primeiro semestre de 2012, colocado no estrangeiro 157 craques. Só o Brasil, Inglaterra e Argentina nos superam. Mas, obviamente, muitos deles são jogadores estrangeiros que vieram aqui fazer rodagem. E há muitos jovens que, não tendo lugar nas principais equipas portuguesas, emigram através da mão amiga de empresários. Quando se vê o preço pelo qual dois promissores juniores do Sporting foram para o Barcelona até nos arrepiamos.

O futebol português vive numa "bolha", onde não há praticamente criação de riqueza. Há circulação de jogadores e tenta-se garantir a percentagem entre as compras e vendas. Dá-se pouca atenção aos valores emergentes e à possibilidade de os valorizar, com tempo, nos plantéis principais. Entre jogadores que jogam em Portugal um ou dois anos para fazerem a rodagem rumo aos clubes que pagam milhões e jovens portugueses que precisam de atenção e tempo, os "grandes" já decidiram.

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