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O novo Sócrates

Em cada concerto Madonna muda, em média, oito vezes de roupa. Quase tantas como mudou de imagem durante a sua carreira. O seu sucesso, de resto, sempre teve a ver com essa ruptura com o passado recente. Madonna faz da mudança constante o seu trunfo de sucesso.

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Em cada concerto Madonna muda, em média, oito vezes de roupa. Quase tantas como mudou de imagem durante a sua carreira. O seu sucesso, de resto, sempre teve a ver com essa ruptura com o passado recente. Madonna faz da mudança constante o seu trunfo de sucesso.

Como hoje a política se começa a assemelhar perigosamente com a indústria do entretenimento, ninguém se pode admirar que os líderes mudem de roupa em palco. E só não mudam de ideias porque muitas vezes têm falta delas. José Sócrates tenta seguir os passos de Madonna. Ela mudava porque precisava de vender mais discos.

Ele tenta mudar para aumentar o número de votos. Madonna guia-se pelos tops de vendas. Sócrates pelas sondagens. A única mudança do primeiro--ministro é essa, como ele próprio confessou no passeio que fez na SIC: "Estou muito contente comigo". Isto é, Sócrates muda na forma, não no conteúdo. As suas mudanças não são de política. São de imagem. Se parecia arrogante, Sócrates quer agora parecer humilde. Só faltou lacrimejar quando disse que um dos seus erros políticos foi, imagine-se, não ter investido o suficiente na cultura. Para Sócrates, a cultura só é recordada em tempos de crise. E porque é uma culpa fácil de admitir.

Porque nenhum eleitor mudará o voto por causa do défice cultural. Onde era importante admitir a culpa (na educação, na justiça), Sócrates deixou a humildade na gaveta. Quando queria ser um comum mortal, super-homem disfarçava-se de Clark Kent.

Quando quer ser humilde, Sócrates disfarça-se de si próprio.
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