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22 de Janeiro de 2012 às 23:30

O infeliz sr. Domingos

Seis meses depois do sr. Domingos Paciência ter surgido, numa manhã de nevoeiro em Alvalade, o efeito do salvador providencial parece estar a desfazer-se em fumo.

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Seis meses depois do sr. Domingos Paciência ter surgido, numa manhã de nevoeiro em Alvalade, o efeito do salvador providencial parece estar a desfazer-se em fumo. Sabe-se que a magia desaparece com facilidade no futebol. Basta os golos não entrarem ou a bola ir demasiadas vezes à trave. Um treinador encarado como o homem que garantia a redenção começa a ser uma sombra de si próprio. Basta olhar hoje para o sr. Domingos Paciência: a sua expressão mostra um homem que oscila entre o fastio e a irritação. Quando um treinador começa a disparar em todas as direcções tentando acertar em culpados que parecem fantasmas é porque está a perder o controle. Da equipa e de si próprio. O sr. Domingos está infeliz. Se não está, parece.

Há dias, numa pesarosa conferência de imprensa, disse que a equipa ainda poderia fazer muitas coisas esta época. Apontou uma vitória: ter trazido os adeptos de volta aos estádios. É verdade, mas isso só se alimenta com vitórias. Ou com a expectativa delas. E, a menos que ocorra um cataclismo, o Sporting não ganhará o campeonato nacional. Pior: pode nem ir à Liga dos Campeões.

Tudo aquilo que o sr. Domingos Lopes deseja. Porque sem isso não há dinheiro. Nem projecto. Nem futuro. O futebol, sabe-se, é assassino. Treinador que não ganha deixa de ser um salvador. E o sr. Domingos, formado no FC Porto (e que hoje deve pensar que poderia estar no lugar do infeliz sr. Vítor Pereira), está a sentir isso. Por isso o seu ar cândido transformou-se. Atacou médicos, fadistas e jornalistas. Criticou jogadores, de dentro e de fora da equipa. Mas pior, reabriu a ferida ao dizer: "Não é em seis meses que se resolve um problema de anos". O sr. Domingos já adquiriu os hábitos de todos os seus antecessores.

O treinador do Sporting tem uma carreira ascendente. Todos vaticinaram que estava preparado para os grandes desafios. Alguns disseram que a cadeira do Dragão lhe estava destinada. O sr. António Oliveira já disse que ela estará à sua espera depois do inevitável período de "nojo" que se seguirá à sua saída de Alvalade e à digressão por um clube estrangeiro. Sempre pareceu um treinador de trato fino. Agora revela-se idêntico no discurso ao comum dos treinadores nacionais: considera pessoais as críticas às exibições da equipa. Mas o problema é que o sr. Domingos sabia ao que ia. Tinha como missão receber 19 jogadores novos e fazer uma equipa ganhadora. Sem isso a sua missão falhou. O Sporting não tem tempo. Precisa de vitórias como de oxigénio. E vai continuar a queimar treinadores e jogadores com uma facilidade estonteante até conseguir concretizar o sonho. Com ou sem o sr. Domingos Paciência. Porque este enganou-se. Julgou que o Sporting era como o FC Porto. E não é.
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