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O horóscopo da PT e dos Navegadores

É bem possível que o futuro da Portugal Telecom (PT) venha a decidir-se na assembleia-geral do próximo dia 30. Não estará em causa a sua sobrevivência nem a rendibilidade do seu portefólio de negócios. A sua ambição, sim.

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1 - Telefonica elimina Portugal Telecom, após prolongamento.

É bem possível que o futuro da Portugal Telecom (PT) venha a decidir-se na assembleia-geral do próximo dia 30. Não estará em causa a sua sobrevivência nem a rendibilidade do seu portefólio de negócios. A sua ambição, sim. Se os accionistas da PT se deixarem seduzir pela proposta dos espanhóis da Telefónica, amputando a empresa do seu activo mais poderoso, a Vivo, em benefício de um encaixe imediato, é todo um projecto internacional que desaba. Sem o Brasil, a empresa ficará confinada à sua dimensão doméstica e a um futuro sem brilho. Quem te mandou, PT, envolveres-te com quem não devias?

Numa leitura rápida, tudo se poderia resumir a um simples jogo de interesses accionistas, onde o primado da mais-valia ditaria a sua lei segundo as vulgares regras do mercado. Não é isso, afinal, que as escolas de gestão ensinam? Não terão os accionistas o direito de optarem pelo que mais convém aos seus depauperados bolsos? O que valem a projecção internacional, o desígnio de crescimento, a visão de futuro? Provavelmente, nada. Uma vez mais, ceder-se-á ao fácil, ao metal de curto prazo, ao castelhano.

Diz o povo que o que nasce torto nunca se endireita. Assim nasceu o modelo de privatização da PT e a ilusão de que o Estado, desprovido de capital e com uma ridícula fatia dourada, poderia exercer uma influência estratégica no rumo da empresa. Assim nasceu o elenco accionista da PT, crivado de alavancas e interesses erráticos. E assim se permitiu alegremente que a empresa enveredasse por uma perigosa política de alianças internacionais - a Worldcom do senhor Ebers (que hoje vê o sol aos quadradinhos) e a Telefonica do senhor Vilalonga (que hoje apanha languidamente sol em Miami). Os protagonistas da época foram-se, mas o diabo instalou-se em formato accionista. Supor que os interesses espanhóis na América Latina, especialmente no Brasil, são conciliáveis com os portugueses é o mesmo que acreditar que a Sagres e a Superbock podem colaborar honestamente num projecto comercial comum. Que fique, pelo menos, a lição para os que ainda pugnam por uma aliança entre a TAP e a Iberia.

Como será o day after do grande encaixe? Qual será o destino dos sete mil milhões? Uma parte reverterá directamente para os accionistas, o restante deverá ser utilizado na redução do passivo e das responsabilidades com o Fundo de Pensões. Operação selada. É o regresso às origens, à dimensão portuguesinha, aos TLP. E será porventura o momento para Zeinal Bava concluir que estes accionistas não merecem um gestor do seu calibre.

2 - Selecção regressa a casa com dois pontos na bagagem.

Sim, o líder não é brilhante. Queiroz errou na lista de convocados, na preparação da equipa e na táctica contra a Costa do Marfim (esperemos que as coisas corram um pouco melhor no jogo de hoje). Este mister não transmite energia, falha vezes demais na comunicação e tem métodos de trabalho duvidosos. Mas não nos deixemos iludir no essencial - os ingredientes são fracos. Para se fazer um bacalhau à lagareiro de estalo não basta um bom cozinheiro, é preciso uma boa matéria-prima. E hoje já não temos Luís Figo, Rui Costa, Pauleta, João Pinto, Fernando Couto, Costinha ou Nuno Gomes. Espero que não tenhamos de fazer uma travessia do deserto tão longa como a dos vinte anos que se sucederam ao Mundial de 1966.

As boas notícias é que não estamos sós. A bem dizer, nenhuma equipa está hoje a coberto de revezes inesperados, em larga medida ditados pela globalização da indústria do futebol. Todas as selecções europeias contam com atletas naturalizados, todas as africanas são compostas por jogadores que trabalham no Velho Continente. A imprevisibilidade virou regra, como na economia em geral. Os favoritos encalham (veja-se os espanhóis), os outsiders surpreendem (veja-se os uruguaios). Por este andar, ainda conseguimos arrancar um ponto à Coreia do Norte.


Economista
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