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O custo crescente da Natureza

Uma das tendências globais de fundo nos dias que correm prende-se com a crescente escassez dos recursos naturais. Os preços do petróleo e do gás natural subiram vertiginosamente nos últimos anos. Neste último ano, os preços dos bens alimentares também dis

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O motivo mais elementar para a subida dos preços dos recursos naturais é o do forte crescimento, especialmente na China e na Índia, que se debate com as limitações físicas da terra, da madeira para construção, das reservas de petróleo e gás e do abastecimento de água. Por conseguinte, sejam quais forem os bens e serviços naturais transaccionados nos mercados (como a energia e os produtos alimentares), os preços estão em alta. Quando não são transaccionados em mercados (como o ar puro), o resultado é a poluição e o esgotamento em vez de preços mais elevados.

Existem muitas razões para o forte aumento dos preços dos produtos alimentares à escala mundial, mas tudo começa com o maior consumo de alimentos, uma vez mais potenciado pelo crescimento económico da China. A população chinesa está a comer mais, nomeadamente mais carne, o que, por sua vez, requer a importação de maiores quantidades de ração à base de soja e milho.

Além disso, os aumentos de preços da energia a nível mundial encareceram a produção de alimentos, uma vez que se recorre, em grande medida, à energia para o transporte, a actividade agrícola e os fertilizantes. Simultaneamente, os elevados preços da energia criam um forte incentivo aos agricultores para transferirem as suas produções dos géneros alimentícios para a produção de combustível.

Nos Estados Unidos, estão a ser convertidos em etanol dois mil milhões de alqueires de milho produzidos na campanha de 2006-2007, de uma colheita total de 12 mil milhões de alqueires. Prevê-se que este volume aumente para 3,5 mil milhões de alqueires na campanha de 2007-2008. Além disso, estão a ser construídas mais de 70 novas fábricas para a produção de etanol, o que duplicará a quantidade de milho destinado à produção de etanol. A diminuição da quantidade de milho destinado à produção de alimentos vai intensificar-se.

A situação é exacerbada por uma outra condicionante de base: as mudanças climáticas. Nos últimos dois anos, uma série de desastres relacionados com o clima afectaram o abastecimento mundial de trigo. A produção total deste cereal caiu de 622 milhões de toneladas na campanha de 2005-2006 para cerca de 593 milhões de toneladas em 2006-2007.

Cada um dos mercados tem impacto nos outros. Com o estreitamento dos mercados do trigo, mais terra tem sido utilizada para cultivar esse cereal, o que reduz a produção de milho ou soja. Por outro lado, como há mais milho e soja destinados à produção de combustível do que de alimentos, o abastecimento de produtos alimentares estreita-se ainda mais. A tripla ameaça constituída pelo aumento da procura mundial, pela conversão dos produtos alimentares em combustível e pelos choques climáticos provocou um aumento dos preços dos produtos alimentares em todo o mundo muito maior do que aquilo que tinha sido antecipado há apenas dois anos.

Até agora, não tem havido qualquer tipo de liderança global dedicada à análise das múltiplas implicações destas mudanças. A título de exemplo, uma das implicações reside no facto de os elevados subsídios atribuídos nos EUA para a produção de combustível a partir do milho e da soja estarem a ser desviados para outros fins. Uma outra implicação prende-se com o facto de o mundo precisar de um esforço cooperativo muito mais empenhado para desenvolver tecnologias de longo prazo, ambientalmente sólidas, que substituam o petróleo e o gás, bem como os combustíveis produzidos a partir da exploração agrícola.

Além disso, urge aumentar a produtividade alimentar nos países pobres, especialmente em África, que precisa da sua própria “Revolução Verde” para poder duplicar ou triplicar a sua produção de alimentos nos próximos anos. Se isso não acontecer, os povos que vivem em condições de extrema pobreza serão tremendamente afectados pela conjugação do aumento dos preços mundiais dos produtos alimentares e das alterações climáticas de longo prazo.

As cotações das “commodities” associadas aos alimentos e à energia continuarão a subir e a descer, mas as crises que desencadeiam esses movimentos deverão intensificar-se nos próximos anos. Consequentemente, o desenvolvimento sustentável tornar-se-á a prioridade da agenda mundial. Precisamos de líderes que saibam quais são os desafios e que estejam preparados para trabalhar em conjunto de forma a alcançarem soluções globais.

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