Opinião
Já não há heróis
A profusão de julgamentos ao Governo que ainda não o é não pode se não divertir. Não há avaliação possível antes do desempenho, é como fazer prognósticos antes do jogo.
São irrelevantes, percepções efémeras de quem não tem assunto. Benefício da dúvida? Benefício da governação. Sem dúvida.
Assumamos que todos os ministros serão bons. Então, o que levanta perplexidades não são as presenças, mas as ausências neste Governo: falta sangue novo. A nova geração que Sócrates e o seu mimético Pedro Silva Pereira protagonizam fez-se acompanhar de rostos cinzento-esverdeados do tempo histórico, da tradição política, da não novidade absoluta. É uma pena, é mesmo uma fraude a muitas expectativas que queriam na governação outra gente, mentes abertas. A política também precisa do elixir que está a rejuvenescer o mundo empresarial. Não é mania, mas faz falta ter quem saiba olhar de fora e/ou para fora do quadrado.
Há uma geração nova nas empresas, gente com uma mentalidade desapegada, exigente, que privilegia o mérito, que se quer bem paga sem complexos, gente liberal (insulto? elogio? – você decide), que evoluiu como contra-poder a uma função pública onde sobram e sobrevivem chefias inertes. Geração X? Geração Rasca? Geração Y? Geração Next? O rótulo sempre foi mais importante para quem compra do que para quem vende.
A evolução geracional está a fazer-se mais rapidamente nas empresas do que na política. Os «jovens» que estão na política parecem meninos precocemente envelhecidos, são relativamente incultos e carreiristas. Que livros leram, que discos ouviram, que rupturas propõem, contra que inércias combatem?
Talvez a degeneração da política repulse os bons líderes. Talvez seja uma questão de remuneração. Talvez seja a lógica defensiva dos protectorados dos partidos. Talvez até seja conciliável ter gestores e políticos a duas velocidades. Mas ter dois rumos é pior que ter um só. E o país sempre esteve cheio de gente que acreditava que era possível fazer tudo novo. Tudo novo.