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07 de Fevereiro de 2012 às 23:30

Há "mierda" no cais

"La conexión ferroviária entre Vigo y Oporto es una mierda." Há precisamente uma semana, a Torre dos Clérigos estremeceu: o presidente da Câmara do Porto, a quem nunca se ouviu publicamente um palavrão, tinha passado a fronteira linguística da decência.

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"La conexión ferroviária entre Vigo y Oporto es una mierda." Há precisamente uma semana, a Torre dos Clérigos estremeceu: o presidente da Câmara do Porto, a quem nunca se ouviu publicamente um palavrão, tinha passado a fronteira linguística da decência. Em terras galegas, Rui Rio teria dito, na língua de Camões, que "se não conseguirmos uma ligação decente, a integração da região torna-se mais difícil porque o que há agora é uma merda e isso é um problema".

O Rui Rio a dizer "merda"!? Boa, toca a bombar na internet. E foi assim que, citando a edição online do espanhol "El Mundo", os sítios da imprensa portuguesa deram conta da passagem escatológica do discurso do autarca portuense no "Nueva Economia Fórum", em Vigo. Até aqui tudo bem. Rio tinha classificado direito uma linha torta. E assim conseguido chamar a atenção de todos, nomeadamente o Terreiro do Paço, para este problema: o comboio demora 3,5 horas a percorrer 150 km.

Mas eis que a polémica (praticamente) não conseguiu saltar do mundo electrónico para o papel dos jornais do dia seguinte. Culpa de Rio, que entretanto se tinha apressado a colocar no "site" da autarquia a gravação da sua intervenção para provar que não disse tão vergonhoso palavrão. Um erro de tradução pôs o autarca a dizer "merda" quando o que ele realmente disse foi "o que há agora é nada".

No mesmo texto da Câmara do Porto, lê-se que, "pela tradução, ficamos a perceber que a dita palavra é inócua para os nossos hermanos". Então se é inócua, por que se deu Rio ao trabalho de a corrigir? Ao desmentir a "mierda" da linha, desvalorizou o problema. Por querer manter-se "cinzento" e aprumadinho na língua, perdeu a oportunidade de colocar este dossiê na ordem do dia, transformando o caso num insípido e ridículo "fait divers".

Melhor esteve Xoán Mao, secretário-geral do Eixo Atlântico, estrutura que integra o Porto e outras 33 cidades. Questionado sobre a polémica relativa ao termo utilizado por Rio para descrever a ligação ferroviária entre Porto e Vigo, Mao pegou de caras: "É, de facto, uma merda, tal como todo o mundo a define (a palavra)", afirmou. É ‘mao’, muito ‘mao’, quando é preciso chamar um espanhol que os tenha no sítio.

Já agora, dr. Rui Rio: ontem foi aprovado, na reunião do Executivo que Vossa Excelência lidera, um novo Código Regulamentar da cidade, onde passa a constar a proibição de "urinar na via pública" e "cuspir para o chão". Parece que se esqueceu de determinar a proibição de defecar na rua. Fez bem. Multar e limpar a "mierda" da grossa que muitos responsáveis públicos têm feito neste País é um exercício quase impossível. Bendita troika!



Coordenador do Negócios Porto
Visto por dentro é um espaço de opinião de jornalistas do Negócios

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