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Gato no sofá (27_06_2008)

Há dias o primeiro-ministro da Eslovénia, Janez Jansa, actualmente o presidente do Conselho Europeu, disse que havia uma solução muito simples para o problema do défice de popularidade da União Europeia (algo que, como sabemos, só José Sócrates não vê). Segundo Jansa, deveria haver uma equipa de futebol que representasse todos os 27 países que integrassem o bloco. As selecções nacionais continuariam a existir.

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O futebol e a Europa comunitária

Há dias o primeiro-ministro da Eslovénia, Janez Jansa, actualmente o presidente do Conselho Europeu, disse que havia uma solução muito simples para o problema do défice de popularidade da União Europeia (algo que, como sabemos, só José Sócrates não vê). Segundo Jansa, deveria haver uma equipa de futebol que representasse todos os 27 países que integrassem o bloco. As selecções nacionais continuariam a existir. Mas as grandes estrelas da UE jogariam, de vez em quando, contra as equipas de outros continentes ou regiões. "Para que haja uma identidade, é muito importante que as pessoas tenham uma relação com algo que é comum". E, na realidade, o futebol é uma dessas coisas. O futebol sempre foi o grande factor de unificação europeia. A então Taça dos Campeões Europeus começou na temporada de 1955/56. A Comunidade Europeia do Carvão e do Aço tinha nascido cinco anos antes. O crescimento de ambas está intimamente ligado. O futebol abriu primeiro fronteiras que, só depois, foram ultrapassadas pela política e a economia. O futebol talvez tenha feito mais pela queda do Muro de Berlim do que se supõe. E o futebol é, realmente, o grande trunfo de imagem da Europa. Como o é de Portugal nos países africanos de língua portuguesa embora isso seja, muitas vezes, esquecido pela classe política nacional e cause horrores à esquerda-caviar que por aí pulula. A realização do Euro’2008 mostra a importância do futebol europeu como arma desportiva, económica e desportiva. Só os distraídos é que não reparam quem tem o exclusivo do Euro’2008 para os países árabes: a Al-Jazeera. Por isso as palavras do primeiro-ministro Jansa são inteligentes: percebem o essencial da questão.

Isso leva-nos, claro, à questão portuguesa. Os políticos portugueses gostam de usar o futebol apenas nos momentos eleitorais. Esquecem o resto: ele atravessa classes, grupos ideológicos (veja-se a Assembleia da República), culturas ou línguas. Por isso ainda hoje não perceberam uma coisa muito simples: a ideia de Scolari de pedir aos portugueses para colocar bandeiras do país nas varandas e janelas fez mais pela falada auto-estima nacional, do que milhares de banais discursos políticos. É claro que, com Scolari entramos noutro nível de discussão: o da emoção face à eficácia. Scolari cria as suas equipas porque fala ao coração dos jogadores. José Mourinho, pelo contrário, representa aquilo de que há um défice em Portugal: ele fala para o cérebro dos jogadores. A derrota de Portugal contra a Alemanha foi o corolário desta diferença crucial: os alemães estudam o adversário, têm uma estratégia, definem-na e executam-na com rigor; Portugal tem a emoção e o talento, vive dos momentos em que o dom de um jogador se revela, mas raramente é estratégico e eficaz. O futebol português representa este Portugal político e económico: é muito emocional, é pouco eficaz. Por isso a cultura de Mourinho pouco tem a ver com o Portugal da actualidade. Por alguma razão Mourinho é conhecido, em Inglaterra, como o "laptop manager": ele mostra DVDs aos jogadores, dá-lhes "dossiers" sobre os adversários, prepara-os para a vitória. Scolari delega isso no campo emocional (e nisso é um "português mais típico") e criar líderes dentro de campo, que actuam segundo as suas regras (por isso Ricardo jogou sempre). A outra diferença está na equipa: Mourinho rodeia-se de bons quadros (André Villas Boas e Rui Faria são licenciados), enquanto Flávio Murtosa é um leal companheiro de Scolari desde sempre. As suas diferenças são tão evidentes como as que do Portugal típico, emocional, do "dá-se um jeito", da criatividade do desenrasca, em face aos países que têm estratégias e crescem. O futebol português espelha, melhor do que supomos, a vida política e económica nacional, nas suas poucas virtudes e nos seus grandes defeitos.

Excelso Reserva da Quinta do Couquinho

Há vinhos que são verdadeiras flechas de Cupido. Acertam, à primeira, no nosso coração através dos seus sinais exteriores de riqueza: o aroma e o sabor. É isso que sucede com uma das mais agradáveis surpresas vinícolas deste ano: o Quinta do Couquinho Reserva 2005. As 4000 garrafas disponíveis no mercado têm a assinatura do enólogo João Brito e Cunha. É mais um trabalho típico desta marca da Torre de Moncorvo, no Douro Superior. A influência das castas utilizadas (Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca) são bem visíveis no produto final. Os aromas frutados são de grande elegância, conseguindo juntar-se na perfeição para criar um vinho, ao mesmo tempo sólido e enérgico. É com vinhos assim que se engrandece a imagem dos vinhos do Douro, fora dos tradicionais Portos. Apetece agora começar a conhecer melhor as outras obras da Quinta do Couquinho.











O sistema sonoro dos Buraka

O álbum vem a caminho e vai chamar-se "Black Diamond". Mas para adoçar a língua, os Buraka Som Sistema lançaram agora um CD/EP com algumas remisturas de temas que vão ser incluídos no próximo disco, como "Sound of Kuduro", com a participação de M.I.A., DJ Znobia, Puto Prata e Saborosa. São seis temas onde está presente todo o universo rítmico e lírico dos BSS, sem fronteiras delineadas. É este o som de uma nova Lisboa, onde se cruzam culturas vindas de todas as latitudes e sons novos criados pelo encontro de influências díspares. É som urbano que apela ao corpo e à libertação da alma. Mostra aquilo que pode ser a nova urbanidade portuguesa, longe dos xailes e choros do passado. Só resta esperar o álbum.

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