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05 de Setembro de 2008 às 13:00

Gato no sofá (05_09_2008)

As cidades servem, muitas vezes, para que os seres humanos se descubram a si próprios. As cidades criaram a sua própria cultura, e quem chega a elas tem de se adaptar, ou optar por tentar modificá-la. Nos últimos dias tenho lido, com invulgar prazer, um livro de 1974 (e agora reeditado), "Soft City" de Jonathan Raban.

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A linguagem das cidades

As cidades servem, muitas vezes, para que os seres humanos se descubram a si próprios. As cidades criaram a sua própria cultura, e quem chega a elas tem de se adaptar, ou optar por tentar modificá-la. Nos últimos dias tenho lido, com invulgar prazer, um livro de 1974 (e agora reeditado), "Soft City" de Jonathan Raban. O autor olha para a cidade e para a vida metropolitana de quem lá vive. Para ele a cidade é um teatro, onde as pessoas que vêm do campo ou de pequenas vilas, se têm de mascarar. As cidades impõem linhas de movimento e de comportamento aos seus habitantes. Mas cada cidade permite diferentes olhares sobre ela, a partir de locais e ruas que cada um conhece. Mas, desde essa altura, as grandes cidades modificaram-se: a diversidade cultural foi atirada para a periferia (mais barata), deixando o centro refém de quem tem salários altos ou do comércio e actividades financeiras. É esta nova cidade que não encontramos num livro escrito há 30 décadas, onde todos os estratos sociais se cruzavam no coração de uma cidade (o local de observação de Raban é Londres). Em Raban há muito de Charles Dickens e de uma cidade que se perdeu por razões económicas. Quando foi escrito a arquitectura também vivia dias conturbados: o optimismo do modernismo arquitectónico estava corroído por escândalos, os bairros sociais (hoje ainda tão em voga por cá), feitos de torres, começavam a ser contestados como legado. O próprio JG Ballard escrevia livros como "Crash", onde desnudava a alienação derivada a existência urbana. Por essa altura Rem Koolhaas escrevia o seminal "Delirious New York", em que parecia que não havia limites para a "nova cidade", cada vez mais financeira e simbólica, carregada de imagens, um verdadeiro centro comercial que os habitantes percorriam para consumir. As cidades hoje estão cheias de vidros e espelhos, algo inimaginável para Raban em 1974. E se ele fala de Londres, olhemos para a Lisboa que foi sendo reconstruída nos últimos anos. Onde os velhos prédios foram deixados a apodrecer, para serem substituídos por edifícios "modernos", para escritórios e não para habitação. Raban escreve, devastadoramente, que "viver numa cidade é viver numa comunidade de pessoas que são estranhas umas para as outras". E isso, na forma moderna das cidades, sucede cada vez mais. E é por isso que a questão da segurança está a criar "ghettos" exclusivos, mas também inclusivos. Ler "Soft City" é perceber esta revolução silenciosa.

Verde vencedor

Os verdes brancos são, normalmente, vinhos que estimulam os consumidores. Porque são vinhos que não se apreciam à primeira prova, antes requerem uma descoberta das suas potencialidades e dos seus segredos. Um bom exemplo para nos aventurarmos nesta área misteriosa dos vinhos portugueses é o Devesa Verde Branco Escolha 2007, um vinho feito a partir de duas castas (a Arinto e a Azal), e onde o aroma dos citrinos é quase hegemónico. Mas isso não impede a lógica de balanços com um sabor frutado e onde a harmonia ressalta. É deste encontro que se faz um vinho que merece ser bebido, até para tentarmos descobrir alguns mistérios que o seu aroma vai desvendando.






O ritmo de Kid Creole


É um disco cheio de ritmo e que dança em memórias dos trópicos. Chama-se simplesmente "Going Places: the August Darnell Years, 1974-1983", e traz-nos alguns dos melhores temas do célebre Kid Creole (mas também de alguns outros grupos a que ele esteve ligado quando ainda usava o menos popular nome de August Darnell). Num momento de derrapagem da sua carreira ainda chegou a vir dar um concerto a Portugal, acompanhado pelas suas belas Coconuts. Mas agora podemos recordar a atitude latina do Kid. Já nem falo de "Off the Coast of Me" e "Going Places" da safra Kid Creole & the Coconuts, mas sim do surpreendente "Sunshower" da Dr. Buzzard’s Original Savannah Band, de "Goin’To a Showdown" de Armando, Don Second Avenue Rumba Band ou "Pharaoh" de Coati Mundi. Parece que, às vezes, estamos a ver uma Cármen Miranda de calças e de chapéu. Mas é uma imagem (e som) deliciosa.
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