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15 de Fevereiro de 2008 às 13:59

Gato no sofá (15 Fevereiro 2008)

Os recentes, e tristes, acontecimentos no Grémio Lisbonense fizeram-me pensar em como a miopia política muitas vezes não entende algo que é essencial: uma cidade não vive só de escritórios de empresas, de condomínios, de comércio. Vive, também, do dinamis

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A cultura económica

Os recentes, e tristes, acontecimentos no Grémio Lisbonense fizeram-me pensar em como a miopia política muitas vezes não entende algo que é essencial: uma cidade não vive só de escritórios de empresas, de condomínios, de comércio. Vive, também, do dinamismo da cultura que a anima. Um recente livro, “The Warhol Economy”, de Elizabeth Currid, mostra como Nova Iorque deve muito à moda, à arte e à música. Um sector que não sendo tão importante economicamente como Wall Street, não fica muito longe dela. Andy Warhol mostrou como a arte pode ser um motor económico, e não só através de coisas que são populares. É da mistura de vários “inputs” diferentes que a criatividade (até financeira) de uma cidade se faz. E não é só a cultura mais popular que é importante (afinal porque é que o Parque Mayer é, por exemplo, mais importante do que discutir o futuro e o presente do Jardim Botânico – só por razões político-partidárias?). A tolerância cultural de Nova Iorque fez com que, por exemplo, muitos dos quadros ali pintados por criadores outrora marginais, fossem hoje obras de investimento seguro (veja-se a colecção Berardo). E que tal, António Costa, olhar um bocadinho para esta questão?

O fascínio da Europa

Um estudo da Hill & Knowlton, sobre as aspirações dos estudantes de cursos MBA, mostra que 80% deles busca oportunidades na velha Europa. Contra 76% que as procuram no Norte da América e 30% na Ásia. É um número curioso. Especialmente quando se apregoa tanto, nos nossos bastidores, o fascínio pela sociedade americana.

Questionar o Kosovo

Os norte-americanos nunca o esconderam, na sua gloriosa cruzada contra a Sérvia: quanto mais depressa o Kosovo fosse independente, tanto melhor. A União Europeia continua, sobre o assunto, a ter a mesma política que sobre a entrada da Turquia na comunidade: nos dias pares é a favor e nos ímpares é contra. Mas parece que ninguém pensa no rastilho de fogo que a independência do Kosovo pode levar até que um incêndio possa pôr toda a Europa a arder. Não admiraria que a Republica Srpska peça a independência da Bósnia-Herzegovina. Que, com o apoio russo, a Abkhazia e a Ossétia do Sul queiram livrar-se da Geórgia. E que, mais dia, menos dia, a Córsega grite independência contra a França ou o País Basco e a Catalunha digam que não querem Madrid como capital. Os americanos dizem que a independência do Kosovo trará estabilidade aos Balcãs. Dá vontade de rir, se o assunto não fosse tão sério. Os Balcãs sempre foram o inferno da unidade europeia. E o Kosovo independente é uma alegoria: precisará das tropas da NATO, de aumentar as exportações (que só cobrem 6% das importações) e de resolver o desemprego (entre 40 e 60%). Em Portugal, claro, ninguém repara no melindre da questão. Afinal já não lideramos a UE e o Tratado de Lisboa já chega como glória?

Adeus Henri

Morreu Henri Salvador, um dos grandes cantores de língua francesa que comecei a descobrir na sua última fase, em que interpretava temas de Benjamin Biolay ou Karen Ann. Recordo uma, ao acaso, linda: “J’ai Vu”. Onde cantava: “J’ai Vu/Tant de mers tant de rivages/Tant de ciels de paysages/j’ai vu/Tant d’escales et tant de ports”. Tinha 90 anos. Uma vida de nómada. Como só alguns têm o privilégio de ter.

Novo conceito de negócio

A indústria discográfica e, de alguma maneira, a cinematográfica, continua a procurar debaixo da cama o seu fantasma, a que chamam desdenhosamente “pirataria”. Para eles o mal da indústria não é a falta de novo talento, a incompreensão das multinacionais sobre o novo mundo digital. Não, são os “piratas”. O Midem 2008 mostrou que o problema do sector, ou seja as quedas vertiginosas de vendas de CDs de ano para ano, têm a ver com uma coisa simples: as editoras não entenderam o mundo da Internet e do “descarregar” grátis de canções. Ted Cohen, que foi da EMI e hoje é consultor desta área, pôs o dedo na ferida: “É preciso ser diferente, não proteger a música mas monetarizá-la, não perseguir os consumidores mas servi-los. Já não se trata de partilhar os ficheiros musicais mas de descobrir a música”. Ora aí está uma nova definição de negócio no mundo global da digitalização que alguns empedernidos, nestes e noutros sectores, ainda não perceberam.

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