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É preciso ter vergonha

Há dois ministérios que pela sua natureza devem ficar fora das batalhas eleitorais: Negócios Estrangeiros e Finanças.

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No caso dos Estrangeiros porque o "fio" do relacionamento com o exterior não pode ficar dependente dos humores de cada partido. No caso das Finanças por ser um ministério técnico, cuja credibilidade é afectada se os factos (números) forem interpretados em função das pugnas eleitorais.

Luís Amado tem honrado aquele desígnio; já Teixeira dos Santos e seus secretários de Estado deixam a desejar. O ministro já se tinha envolvido numa disputa pouco dignificante na campanha para as legislativas de 2009. Esta semana voltou a borrar a pintura ao dizer, na ressaca da boutade da apresentação do PEC, que a oposição está a enganar os portugueses. Ontem foi a vez do Secretário do Tesouro dizer que as taxas de juro dos BT a 12 anos subiram por causa da crise política. Costa Pina foi ainda mais longe, ao ponto de relacionar a baixa do "rating" da República (há muito anunciada…) à iminência dessa crise.

É preciso ter vergonha. Portugal anda há meses com o credo na boca, à mercê do BCE e dos humores do eleitorado alemão. Dizer que a iminência de eleições precipita a ajuda externa é uma mentira. Seja qual for o cenário, essa ajuda é inevitável. E, como disse a ministra francesa das Finanças, o recurso ao FMI não está excluído.

As eleições são a solução ideal? Não. Mas são o mal menor. Porque face à sucessão de falhanços, mentiras e desrespeito pelos órgãos de soberania (sem precedentes), as medidas duras de que o país precisa para se endireitar, requerem uma renovação da legitimidade governativa. Que só o voto pode dar.

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