Opinião
Desmame suave
A coisa tem vindo em revoadas. Esta semana foi mais uma. Os do costume a avisar que Portugal vai precisar de um segundo empréstimo, talvez com reestruturação. Os do costume a dizer que não, que está tudo nos trilhos para o regresso aos mercados em 2013.
A coisa tem vindo em revoadas. Esta semana foi mais uma. Os do costume a avisar que Portugal vai precisar de um segundo empréstimo, talvez com reestruturação. Os do costume a dizer que não, que está tudo nos trilhos para o regresso aos mercados em 2013. Pelo meio fica a sensação de que, uns e outros, sabem mais do que nos contam. Uns a vender previsões para arrecadar milhões? Outros a vender ilusões para adiar decisões?
Na dúvida, ver para crer. E ver o quê? Portugal vendeu ontem dívida ao custo mais baixo desta era de ajuda externa. Foi muito melhor sem ser bom. Porque 4% a doze meses é caro, cai dentro do prazo do programa externo e estará já a incorporar a extensão dessa "rede de segurança".
Quem diz "saber ler" os mercados diz ainda que as taxas no secundário de dívida teimam em escrever-se com dois dígitos porque os investidores estão a descontar um segundo empréstimo com renegociação da dívida à grega. Mas há quem também se diga letrado na matéria e diga quase o contrário. Que no fim deste período de assistência alguma dívida do Estado português estará em bancos da casa, com o grosso em mãos de soberanos que não perdoam, pelo que descontar um "hair-cut" é descontar um conjunto quase vazio que serve para especulador enganar tolo.
E que tal olhar para outro lado? Para a Irlanda, que, não sendo Portugal, terá de testar o apetite dos mercados mais cedo?
Em Julho, as taxas da dívida no secundário estavam acima de 13%. A dois e três anos, chegaram a superar 20%. Hoje estão todas abaixo dos 7%, com a curva a endireitar-se – o que, no caso, significa saudavelmente curva. E o que se passou? A Irlanda cumpriu o prometido à troika. E lançou um referendo a um tratado que se não for aceite pode ser o fim de empréstimos europeus. E atirou ao ar uma delicada proposta de renegociação da ajuda à banca. Mas aqui não há prémio de reestruturação, e parece razoavelmente bem digerido um segundo empréstimo.
Nesta semana, Vítor Gaspar cruzou-se com Enda Kenny. O ministro português em Washington, a falar com quem forma opiniões (boa imprensa ajuda, e Portugal não tem tido essa "fortune"); o primeiro-ministro irlandês em Nova Iorque, com quem toma decisões. Foram ambos ao sítio certo. Ambos precisam de começar a financiar-se e continuar a ser financiados. De um desmame suave. O que exige mercados mais serenos e alemães confortados com Orçamentos escrupulosamente cumpridos. Goste-se ou não, é o pássaro que se tem perto da mão.
Na dúvida, ver para crer. E ver o quê? Portugal vendeu ontem dívida ao custo mais baixo desta era de ajuda externa. Foi muito melhor sem ser bom. Porque 4% a doze meses é caro, cai dentro do prazo do programa externo e estará já a incorporar a extensão dessa "rede de segurança".
E que tal olhar para outro lado? Para a Irlanda, que, não sendo Portugal, terá de testar o apetite dos mercados mais cedo?
Em Julho, as taxas da dívida no secundário estavam acima de 13%. A dois e três anos, chegaram a superar 20%. Hoje estão todas abaixo dos 7%, com a curva a endireitar-se – o que, no caso, significa saudavelmente curva. E o que se passou? A Irlanda cumpriu o prometido à troika. E lançou um referendo a um tratado que se não for aceite pode ser o fim de empréstimos europeus. E atirou ao ar uma delicada proposta de renegociação da ajuda à banca. Mas aqui não há prémio de reestruturação, e parece razoavelmente bem digerido um segundo empréstimo.
Nesta semana, Vítor Gaspar cruzou-se com Enda Kenny. O ministro português em Washington, a falar com quem forma opiniões (boa imprensa ajuda, e Portugal não tem tido essa "fortune"); o primeiro-ministro irlandês em Nova Iorque, com quem toma decisões. Foram ambos ao sítio certo. Ambos precisam de começar a financiar-se e continuar a ser financiados. De um desmame suave. O que exige mercados mais serenos e alemães confortados com Orçamentos escrupulosamente cumpridos. Goste-se ou não, é o pássaro que se tem perto da mão.
Mais artigos do Autor
Os golpes de Dilma, Lula e Sócrates
21.04.2016
Mário Centeno, você quer um segundo resgate?
25.02.2016
Os partidos também morrem
03.02.2016
Tomara fosse um poucochinho alemão
25.11.2015
Os golpistas
16.10.2015