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21 de Março de 2012 às 23:30

Desmame suave

A coisa tem vindo em revoadas. Esta semana foi mais uma. Os do costume a avisar que Portugal vai precisar de um segundo empréstimo, talvez com reestruturação. Os do costume a dizer que não, que está tudo nos trilhos para o regresso aos mercados em 2013.

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A coisa tem vindo em revoadas. Esta semana foi mais uma. Os do costume a avisar que Portugal vai precisar de um segundo empréstimo, talvez com reestruturação. Os do costume a dizer que não, que está tudo nos trilhos para o regresso aos mercados em 2013. Pelo meio fica a sensação de que, uns e outros, sabem mais do que nos contam. Uns a vender previsões para arrecadar milhões? Outros a vender ilusões para adiar decisões?

Na dúvida, ver para crer. E ver o quê? Portugal vendeu ontem dívida ao custo mais baixo desta era de ajuda externa. Foi muito melhor sem ser bom. Porque 4% a doze meses é caro, cai dentro do prazo do programa externo e estará já a incorporar a extensão dessa "rede de segurança".

Quem diz "saber ler" os mercados diz ainda que as taxas no secundário de dívida teimam em escrever-se com dois dígitos porque os investidores estão a descontar um segundo empréstimo com renegociação da dívida à grega. Mas há quem também se diga letrado na matéria e diga quase o contrário. Que no fim deste período de assistência alguma dívida do Estado português estará em bancos da casa, com o grosso em mãos de soberanos que não perdoam, pelo que descontar um "hair-cut" é descontar um conjunto quase vazio que serve para especulador enganar tolo.

E que tal olhar para outro lado? Para a Irlanda, que, não sendo Portugal, terá de testar o apetite dos mercados mais cedo?

Em Julho, as taxas da dívida no secundário estavam acima de 13%. A dois e três anos, chegaram a superar 20%. Hoje estão todas abaixo dos 7%, com a curva a endireitar-se – o que, no caso, significa saudavelmente curva. E o que se passou? A Irlanda cumpriu o prometido à troika. E lançou um referendo a um tratado que se não for aceite pode ser o fim de empréstimos europeus. E atirou ao ar uma delicada proposta de renegociação da ajuda à banca. Mas aqui não há prémio de reestruturação, e parece razoavelmente bem digerido um segundo empréstimo.

Nesta semana, Vítor Gaspar cruzou-se com Enda Kenny. O ministro português em Washington, a falar com quem forma opiniões (boa imprensa ajuda, e Portugal não tem tido essa "fortune"); o primeiro-ministro irlandês em Nova Iorque, com quem toma decisões. Foram ambos ao sítio certo. Ambos precisam de começar a financiar-se e continuar a ser financiados. De um desmame suave. O que exige mercados mais serenos e alemães confortados com Orçamentos escrupulosamente cumpridos. Goste-se ou não, é o pássaro que se tem perto da mão.


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