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Pedro Santos Guerreiro psg@negocios.pt 02 de Agosto de 2005 às 13:59

Da Gulbenkian ao Comércio do Porto

No sábado, «O Comércio do Porto» e «A Capital» publicaram a última edição. No domingo, o Ballet Gulbenkian deu o último espectáculo. Num fim-de-semana, o país ficou mais pobre. Que país?

O país que não comprava o «Comércio» e a «Capital». O país que não ia à Gulbenkian. O país que de qualquer forma pede a salvação dos três. De que forma? Da única que encontra na algibeira: Governo.

Produtos editoriais e culturais não são borrachas e lapiseiras. Os consumidores desenvolvem com eles relações emocionais. E emocionam-se quando esse produtos vão morrer. E é normal que se sinta revolta pela impotência de quaisquer outros argumentos perante a lógica mercantil da viabilidade económica; que se olhe para a doutrina darwinista de que só os fortes sobrevivem com desdém e mesmo medo. Mas a resposta não se chama Governo.

Não nestes casos. Não em casos como os das dezenas, das centenas de fábricas que estão a fechar em todo o país e de que dependem às vezes regiões inteiras. Não como na Bombardier, quando também se pediu nacionalização de uma fábrica que empregava muita gente, que tinha capital de engenharia portuguesa e que tinha um peso histórico na nossa memória colectiva. Salvar uma empresa «apenas» por estas razões é desprezar os trabalhadores das outras que, ainda que com as mesmas razões, fecham.

Há empresas que olham para a morte e lhe dão um coice. Quando o Zoo de Lisboa esteve para fechar, o seu director também veio para os jornais pedir ajuda e receber simpatia em troca. Mas fez mais. Reestruturou o Jardim, segmentou a oferta, alterou o tarifário. O Zoo não está num mar de rosas. Mas está vivo e palpitante.

É humano que se peça socorro quando se vê a morte. Mas pedir ao Governo que abra paredes num beco sem saída é apenas isso.

Fomos nós, os do mercado, que rejeitámos os produtos. Custa, mas foi exactamente assim. E a culpa não foi nossa.

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