Opinião
As Fintech e a banca: tão distantes e tão próximas
É sabido que o setor da banca tem atravessado nos últimos anos um substancial processo de restruturação, seja ela forçada ou voluntária.
Do panorama financeiro nacional desapareceram nos últimos anos instituições como o Banco Português de Negócios ou o Banco Privado Português, o Banco Espírito Santo deu lugar a um Novo (e mais pequeno) Banco que está agora também a iniciar o seu próprio processo de restruturação e, mais recentemente, o Banif foi adquirido pelo Santander Totta e alvo de um processo de resolução semelhante ao que ocorreu com o BES.
No caso de grandes bancos como o Millennium bcp ou o BPI, temos assistido a processos de emagrecimento da estrutura, com fecho de sucursais e saída de colaboradores. Foi recentemente noticiado que apenas no último ano os cinco maiores bancos portugueses dispensaram 1.620 pessoas e fecharam 200 sucursais. Se olharmos, por exemplo, para a informação financeira disponível no site do Millennium bcp verificamos que desde dezembro de 2011 saíram da operação nacional do banco 2.400 pessoas, cerca de um quarto do quadro de pessoal.
Este número parece uma gota no oceano quando verificamos que apenas no último ano foram dispensadas 173 mil pessoas no setor financeiro europeu, mas há algo que é indesmentível: os profissionais da banca em Portugal têm sido confrontados com a necessidade de abandonar o setor, muitos deles em idade ativa e, como tal, com a obrigação de se adaptarem a uma nova estrutura de mercado, menos focada no atendimento via sucursal e cada vez mais dependente das interações digitais.
Para esses profissionais bancários as alternativas profissionais passam ou pela consultoria financeira ou pelo ramo empresarial. Mas as alternativas não se esgotam aí. Para cada vez mais profissionais financeiros o setor das Fintech (empresas de prestação de serviços financeiros no âmbito de um modelo de negócio suportado pela nova tecnologia) tornou-se num novo e promissor caminho de redenção profissional e, porque não, pessoal.
Por nascerem no mundo digital e de lá se projetarem para o exterior, estas empresas são normalmente associadas a jovens empresários do domínio das novas tecnologias e do universo empresarial, hoje comummente conhecido como startups. No entanto, na lista de pessoas em posições de responsabilidade em algumas das mais exclusivas empresas do setor não é incomum encontrar perfis mais seniores da banca tradicional. A uma visão global sobre o "modus operandi" do setor financeiro, estes profissionais somam um conhecimento valioso sobre o complexo campo da legislação e sua aplicação, algo que é fulcral também para estes novos "players" do mercado.
Em troca, o mundo das Fintech fornece a estes profissionais não só a possibilidade de regressarem ao mercado, mas a oportunidade de entrarem numa organização muito eficiente e dinâmica, e sem a pesada carga administrativa das suas antigas estruturas hierárquicas. A essa circunstância soma-se a adrenalina de voltar a registar fortes crescimentos de atividade e o incentivo mental de voltar a sentir que estão na crista da onda do desenvolvimento do setor, criando uma alternativa real e eficiente no mercado financeiro.
É verdade que, enquanto tudo isto acontece, os bancos não pararam a sua atividade. O seu foco neste momento está no aumento da eficiência e do lucro sendo que o caminho adotado passa pela incorporação de novas tecnologias e modelos inovadores estreitamente alinhados com as novas necessidades dos clientes. Esta abordagem materializa-se na contratação de jovens profissionais, bem preparados e com competências profissionais viradas para estes novos tempos.
Estamos por tudo isto a viver um período excitante de mudança no setor financeiro. Um período em que os grandes bancos se veem na contingência de rejuvenescer as suas estruturas e as Fintech procuram a experiência que a grande banca tem para darem o próximo passo no seu crescimento. Do ponto de vista do cliente, este fenómeno só pode ser animador uma vez que tanto o leque de serviços como o nível de especialização desses serviços é cada vez maior.
Diretor-geral da Ebury para Espanha e Portugal
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