Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
31 de Maio de 2016 às 00:01

António Magalhães: Não temos de ser todos Ronaldos

Sorte, destino, fado. Não nos faltam expressões que indiciem uma vocação muito nossa para um certo fatalismo. Sim, a sorte poderia traduzir-se por felicidade o que, no caso apropriado ao segmento deste jornal, significaria fortuna. Mas nós, portugueses, não acreditamos muito numa boa estrela.

  • ...
Somos pessimistas por natureza, ainda que, por contradição, entreguemos muitas vezes o nosso futuro à obra do acaso. Como dizemos amiúde, "logo se vê…".

Os acasos, por norma, não são felizes. A não ser o do sorteio do Euromilhões que, como se sabe, tem em Portugal vasto mercado. Sim, achamos que somos um povo com pouca sorte, mas, lá está, não hesitamos em confiar e esperar por ela. Pode ser que nos toque à porta.

Quem fala de sorte fala de azar. Se o negócio corre mal, normalmente não foi por uma questão de preparação, arte ou conhecimento. Não. Foi azar.

No desporto, que é área que modestamente me atrevo a dizer que sou especialista, a sorte está muito presente. Se a bola vai à trave, temos azar. Se antes de entrar na nossa baliza a bola tabelou "caprichosamente" num jogador, então o adversário teve sorte.

Este é o nosso pensamento dominante, mas felizmente há quem não interprete as coisas assim. Há quem saiba como não depender da sorte para ter sucesso. O desporto tem muitos exemplos desses. Felizmente, são cada vez mais e, sobretudo, são inspiradores.

O episódio que recordo de seguida já foi contado muitas vezes, a última das que ouvi foi pela boca do prof. José Neto, homem estudioso do futebol que muito tem teorizado (e levado à prática também) sobre a melhor forma de se alcançarem objetivos. Com trabalho, método e organização. Mas vamos à história. Um dia, o antigo internacional Pedro Pauleta, então no Paris SG, falhou um penálti num jogo com o Auxerre. Quando chegou à selecção, vinha deprimido e confessou-o a José Neto que, na altura, fazia parte da equipa técnica. Neto perguntou a Pauleta que pensamento o dominava no momento angustiante da grande penalidade. Pauleta disse: "Gritei para mim mesmo: não vou falhar! Não vou falhar!" O experiente professor, comentou com toda a sua sabedoria: "Pois, devias ter gritado: eu vou marcar! Eu vou marcar!"

Bom, as coisas não serão assim tão simples, mas é verdade que tudo pode começar pela atitude que temos diante dos desafios, dos problemas, das adversidades, das oportunidades, enfim, a atitude que temos perante a nossa própria vida.

Cristiano Ronaldo é a prova viva de alguém que não entrega o seu destino à sorte. Como escreve Valdano, Ronaldo "nunca se resigna, nem mesmo perante as inevitabilidades". Mesmo hoje, rodeado por outras estrelas, o craque português não deixa que o seu brilho se dilua e segue na procura constante da superação. Sir Alex Ferguson fez, recentemente, uma observação que encaixa na perfeição: "A diferença entre Cristiano e os outros é que ele até pelo Stockport faria um hat-trick."

Teremos então todos de ser Ronaldos para termos sucesso na vida e fintarmos os caprichos que ela nos reserva? Claro que não. Até porque, e perdoem-me o abuso de citações, como disse um dia o grande Alfredo Di Stefano, "nenhum jogador sozinho é melhor do que todos os outros juntos". Será, no entanto, com este espírito inquebrável de quem quer sempre mais e quer sempre fazer melhor que encontraremos um excelente ponto de partida para uma fórmula vencedora. 

Director do Record

Ver comentários
Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio