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25 de Março de 2010 às 11:53

Ai, Cimpor, Cimpor... Amar-te-ão até te matarem

Será mesmo verdade que o PS, perdão, que a Caixa vai impor Mário Lino como "chairman" da Cimpor? Será mesmo verdade que a Caixa chegou a desfraldar o nome de Armando Vara para administrador da cimenteira? Sim, é verdade. É triste, mas é verdade. Já não há nojo.

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Será mesmo verdade que o PS, perdão, que a Caixa vai impor Mário Lino como "chairman" da Cimpor? Será mesmo verdade que a Caixa chegou a desfraldar o nome de Armando Vara para administrador da cimenteira? Sim, é verdade. É triste, mas é verdade. Já não há nojo.

O período de nojo tornou-se supersónico. Jorge Coelho foi um "gentleman", esperou oito anos. Mário Lino nem oito dias. Ao menos tem experiência com brasileiros: comprou-lhes a Prolagos em 1998, num negócio ruinoso para a Águas de Portugal, que presidia.

Esta gente nunca mais aprende. O problema não é especificamente Mário Lino, nem o pasmo de vê-lo como alternativa ao competentíssimo Luís Palha (cuja hipótese sugere uma dissolução na Jerónimo, mas esse é outro assunto); é o à-vontade deste sistema que a Caixa promove: políticos que passam do poder tutelar para as empresas como se fossem cândidas borboletas. Saem de ministros para CEO como do Cabaret para o Convento.

A Cimpor estava mal antes da OPA e pode ter mudado para pior: o assalto de empresas brasileiras pode amputá-la ou paralisá-la, por conjugação de interesses dos novos donos. A suspeita é verosímil para as próprias autoridades brasileiras: as concorrentes Votorantim e Camargo Corrêa tomaram metade da Cimpor, durante a OPA da CSN, o que pode alegar a cartelização do próspero mercado brasileiro, em prejuízo dos clientes... e da Cimpor. A teoria é de prova impossível, mas basta que a Concorrência brasileira de lá arrede a Cimpor para que o prejuízo se confirme.

É por isso que muitos suspeitam de uma aliança entre a Camargo e a Votorantim, que, para mais, teve o apoio da Caixa. Já para não falar da teoria de conspiração em que a própria CSN fez parte do arranjo, avançando com uma OPA (que teria tido sucesso por mais alguns cêntimos) para servir de lebre à entrada dos outros. Nesse caso, não é um conúbio a dois, é um "ménage à trois". Sempre traindo a Cimpor.

A Cimpor ameaça deixar de ser uma empresa de ponta e passar a ser a ponta de uma empresa - ou de duas. O único antídoto para essa paralisia é ter uma equipa de gestão competente, independente e forte, que defenda o motor que tem por baixo (a empresa), e não o capot que tem por cima (os accionistas). Tudo menos comissários neutros ou emissários neutralizadores, relatores ou delatores.

Os cestos ainda estão a caminho da lavagem mas presidente executivo parece já haver: Francisco Lacerda, um homem Fino, um regresso merecido pela carreira que o precede, apesar de toda a escandaleira no BCP, que viveu. Mas Lacerda precisa de gerir a empresa, não os accionistas. Para isso, tem de ter um "chairman" a sério, que lhe dê respaldo das instabilidades accionistas que vão permanecer. Não de um controleiro.

A Caixa esteve contra a OPA por causa da defesa dos centros de decisão nacionais. É um argumento péssimo mas é, ao menos, transparente: salve. Cometeu, em nome do mesmo argumento péssimo, ingenuidades com accionistas que dela fizeram refém: há um ano com Manuel Fino, agora com a Votorantim. Mas a Caixa tem de aprender. Até porque está a ser usada como desbloqueador de "golden shares". Na Cimpor, na Galp, qualquer dia na PT, na EDP...

A empresa chama-se Cimpor SGPS, não Cimpor PS. Podem fazer dela uma vaca leiteira de dividendos, para isso ela dá. Mas isso não é um pujante projecto luso-brasileiro, é um irrelevante acordo ortográfico. Mas sempre será melhor que um acordo pornográfico...

psg@negocios.pt



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