Opinião
Acreditar em Portugal (2)
Nunca será demais realçar o valor económico dos nossos recursos marítimos. Portugal tem à sua disposição um domínio atlântico invejável, de que só o turismo balnear tem sabido tirar partido, nem sempre de forma sustentável. As Quarteiras e as...
"Se soubermos aproveitar a vaga da recessão para pegarmos de caras o desafio do desenvolvimento sustentável, potenciando os nossos melhores recursos e combatendo as fragilidades sistémicas, estaremos bem posicionados para a vaga da retoma".
(in Jornal de Negócios, "Acreditar em Portugal (1)", 20/7/2009)
Nunca será demais realçar o valor económico dos nossos recursos marítimos. Portugal tem à sua disposição um domínio atlântico invejável, de que só o turismo balnear tem sabido tirar partido, nem sempre de forma sustentável. As Quarteiras e as Caparicas do cimento e da construção desordenada (quando não clandestina) são o reflexo de uma época em que o fraco nível de exigência da procura se aliou à ganância dos pequenos interesses privados e à incompetência (quando não venalidade) dos poderes autárquicos. Serão necessários muitos programas Polis para nos vermos livres das atrocidades que preenchem alguns dos melhores pedaços da costa portuguesa.
Melhorámos, sem dúvida, a qualidade da nossa oferta turística. A concorrência internacional encarregou-se de demonstrar que a diferença entre a vulgaridade e a distinção passa pela sageza na utilização dos recursos costeiros. A honrosa posição que Portugal ocupa no "ranking" turístico mundial - entre os 20 primeiros países - não nos deve tranquilizar, antes estimular-nos para o reforço dos nossos factores de diferenciação. O mar português, a qualidade urbanística e o esmero na prestação de serviços hoteleiros representam um triângulo virtuoso do qual temos a obrigação de tirar melhor partido. Com imaginação, empenho e uma cuidada segmentação de mercados.
A posição geográfica do nosso rectângulo é frequentemente apontada como um forte constrangimento económico. E, na verdade, é-o. A mesma excentricidade que fez da Lusitânia um dos últimos pontos de interesse do Império Romano continuou, ao longo dos séculos, a manter-nos distantes do centro do continente europeu, onde residia a maioria da população e se processavam as principais trocas comerciais. Esse estatuto periférico veio, porém, a revelar-se decisivo para a aventura dos Descobrimentos, a qual permitiu que Portugal conquistasse uma posição de relevo no mapa global das rotas mercantis. Esfumado o domínio dos mares, ficámo-nos pela ré da jangada de pedra e vimos partir a Europa transpirenaica numa inacessível viagem de desenvolvimento económico e social. Urge pois aproximarmo-nos, por todos os meios ao nosso alcance, da proa da jangada ibérica e do centro da economia europeia, proporcionando-lhes, em contrapartida, uma plataforma moderna de ligação ao Atlântico Sul. É nesta função biunívoca, de natureza geoestratégica, que se inserem os projectos TGV e novo aeroporto de Lisboa. Adiá-los é sacrificar o futuro e ceder ao fado resignado que, séculos a fio, nos tolheu a ambição. Não é por acaso que as gerações mais jovens são as que mais os reclamam. Não as desiludamos.
Na fileira energética, o desafio é de crucial importância para Portugal. Se outras razões não houvesse, designadamente as ambientais, a nossa total dependência do exterior em matéria de combustíveis fósseis seria bastante para recomendar uma aposta vigorosa nas energias renováveis, onde dispomos de recursos suficientes para encarar serenamente o futuro. Neste domínio, com a lamentável excepção de Foz Côa, sacrificada aos vendedores de quimeras turístico-paleolíticas, temos feito as escolhas certas. Por uma vez, encontramo-nos no pelotão dianteiro. As apostas na frente eólica, na solar e na hidroeléctrica estão já a produzir resultados visíveis, quer no tocante à redução da dependência energética externa, quer na emergência de um "cluster" industrial capaz de se afirmar nos mercados internacionais. É este o caminho a seguir.
(continuação do tema Acreditar em Portugal no próximo artigo)
Economista Coluna à segunda-feira
(in Jornal de Negócios, "Acreditar em Portugal (1)", 20/7/2009)
Nunca será demais realçar o valor económico dos nossos recursos marítimos. Portugal tem à sua disposição um domínio atlântico invejável, de que só o turismo balnear tem sabido tirar partido, nem sempre de forma sustentável. As Quarteiras e as Caparicas do cimento e da construção desordenada (quando não clandestina) são o reflexo de uma época em que o fraco nível de exigência da procura se aliou à ganância dos pequenos interesses privados e à incompetência (quando não venalidade) dos poderes autárquicos. Serão necessários muitos programas Polis para nos vermos livres das atrocidades que preenchem alguns dos melhores pedaços da costa portuguesa.
A posição geográfica do nosso rectângulo é frequentemente apontada como um forte constrangimento económico. E, na verdade, é-o. A mesma excentricidade que fez da Lusitânia um dos últimos pontos de interesse do Império Romano continuou, ao longo dos séculos, a manter-nos distantes do centro do continente europeu, onde residia a maioria da população e se processavam as principais trocas comerciais. Esse estatuto periférico veio, porém, a revelar-se decisivo para a aventura dos Descobrimentos, a qual permitiu que Portugal conquistasse uma posição de relevo no mapa global das rotas mercantis. Esfumado o domínio dos mares, ficámo-nos pela ré da jangada de pedra e vimos partir a Europa transpirenaica numa inacessível viagem de desenvolvimento económico e social. Urge pois aproximarmo-nos, por todos os meios ao nosso alcance, da proa da jangada ibérica e do centro da economia europeia, proporcionando-lhes, em contrapartida, uma plataforma moderna de ligação ao Atlântico Sul. É nesta função biunívoca, de natureza geoestratégica, que se inserem os projectos TGV e novo aeroporto de Lisboa. Adiá-los é sacrificar o futuro e ceder ao fado resignado que, séculos a fio, nos tolheu a ambição. Não é por acaso que as gerações mais jovens são as que mais os reclamam. Não as desiludamos.
Na fileira energética, o desafio é de crucial importância para Portugal. Se outras razões não houvesse, designadamente as ambientais, a nossa total dependência do exterior em matéria de combustíveis fósseis seria bastante para recomendar uma aposta vigorosa nas energias renováveis, onde dispomos de recursos suficientes para encarar serenamente o futuro. Neste domínio, com a lamentável excepção de Foz Côa, sacrificada aos vendedores de quimeras turístico-paleolíticas, temos feito as escolhas certas. Por uma vez, encontramo-nos no pelotão dianteiro. As apostas na frente eólica, na solar e na hidroeléctrica estão já a produzir resultados visíveis, quer no tocante à redução da dependência energética externa, quer na emergência de um "cluster" industrial capaz de se afirmar nos mercados internacionais. É este o caminho a seguir.
(continuação do tema Acreditar em Portugal no próximo artigo)
Economista Coluna à segunda-feira
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