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Acções, omissões e confusões

O sr. Paulo Paraty, segundo declarou, está a perder 30% com as acções que tem da SAD do Sporting. Ele é árbitro de futebol, que apita jogos da Superliga. Mesmo que, como internacional, esteja acima de qualquer suspeita, como se pode defender da dúvida?

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O país continua a funcionar como se fosse uma tenda de circo. Onde o importante é fazer “números” para agradar aos espectadores. Onde o malabarismo é a única formação académica apreciada. Os exemplos sucedem-se, a um ritmo que poderia tornar Portugal o recordista de todas as provas de 100 metros barreiras.

O sr. Avelino Ferreira Torres pode ter estado a fazer testes para integrar o elenco de “Karate Kid III”, que se realizará ali no Centro Cinematográfico sr. Avelino Ferreira Torres, que fica depois de passarmos a rotunda sr. Avelino Ferreira Torres e de entrarmos na avenida sr. Avelino Ferreira Torres.

Ou melhor: fica mesmo ao lado do estádio sr. Avelino Ferreira Torres. Passou no teste, mas a classe política, a judicial e as forças policiais chumbaram neste exame. O sr. Torres pode não ter tido a sorte de ser avançado-centro de um clube da Superliga, mas tem jeito para chutar.

E foi o que fez. Só que os golos que o sr. Avelino Ferreira Torres não marcou foram sofridos por quem continua a apadrinhar a pouco saudável relação entre a política e o futebol.

Portugal já não corre o risco de se tornar uma “república das bananas”, porque não quer ser uma república: pretende apenas ser um bananal. Europeu, é certo. Civilizado, é claro. Mas um bananal.

No meio de todo este exercício de desporto popular passou despercebido o que esteve por detrás das comemorações do centenário do Benfica. Segundo consta o próximo responsável máximo pelo futebol dos encarnados será o sr. José Veiga (talvez com o prestimoso auxílio do sr. António Carraça).

Se vivêssemos num mundo ideal poderíamos julgar que, como o sr. Veiga é o empresário de grande parte do plantel da Luz, assim escusava de estar a gastar dinheiro em telefonemas: estava mesmo ali com eles.

Mas o caso é mais problemático: independentemente das qualidades de gestor do sr. Veiga, como é que, quando na próxima temporada o Benfica for comprar jogadores tudo acontecerá? Partindo do pressuposto que o sr. Veiga ainda não tem o dom da ubiquidade (e se tiver há que registar urgentemente a patente), como serão as reuniões entre ele e a empresa de que é proprietário?

Imagine-se a cena: o sr. Veiga entra no Estádio da Luz e diz ao porteiro que vem ter uma reunião com o sr. Veiga, dirigente do futebol encarnado. O porteiro, estupefacto, responde-lhe que o sr. Veiga, dirigente do futebol encarnado, ainda não chegou.

O sr. Veiga, empresário de jogadores, olha para o espelho do retrovisor e diz para o porteiro, enquanto ajeita a franja: então quem é este senhor? Não é o sr. Veiga. O porteiro, pensando estar a enlouquecer, deixa entrar o sr. Veiga. Este dirige-se ao seu gabinete de dirigente do Benfica e liga a sua Playstation 2.

Começa o jogo então entre o sr. Veiga, dirigente do Benfica e o sr. Veiga, empresário. No final, o sr Veiga, dirigente é derrotado e é obrigado, pelo sr. Veiga virtual da Playstation 2, a comprar três jogadores de 35 anos, mas a custo zero.

O sr. Veiga, dirigente, rejubila: enganou o sr. Veiga, empresário virtual da Playstation 2. O sr. Luís Filipe Vieira entra e abraça o sr. Veiga, dirigente e diz-lhe ao ouvido: eu sabia que os interesses do Benfica, contigo, estariam sempre em primeiro lugar. Mas claro que tudo isto é ficção e nunca acontecerá?

O que aconteceu foi o jornal do Sporting ter chamado “árbitro do sistema” ao sr. Paulo Paraty. Este, escandalizado com a ignomínia, diz ir processar o sr. Dias da Cunha e, em declarações ao “Record”, disse mesmo que está a perder “30 por cento nas acções que tenho no Sporting”.

E, segundo se depreende, é também accionista noutras SAD, cotadas ou não em Bolsa. Há aqui qualquer coisa que não entendemos: o sr. Paraty, como cidadão, pode investir em qualquer empresa. Pode até ser accionista maioritário de qualquer sociedade.

Mas ele é árbitro de futebol, que tem dirigido vários jogos da Superliga, onde actuam clubes de cujas SAD ele é accionista. Mesmo involuntariamente ele tem a possibilidade de influenciar a cotação ou o valor das acções.

Isto é: qualquer clube pode dizer, a partir de agora, que o sr. Paraty tem interesse em influenciar resultados. Por interesses pessoais.

Mesmo que se acredite piamente que o sr. Paraty nunca o fará, porque é um árbitro com currículo e prestigiado internacionalmente. E que está acima de qualquer suspeita. Mas?

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