Opinião
A revolução e a sublevação na Liga
Gerir a Liga ou a FPF é sobretudo saber não afrontar os três grandes e os interesses que se movem à sua volta. Ao presidente da Liga cabe acalmar os clubes mais pequenos. Mas a eleição do sr. Mário Figueiredo veio criar uma sublevação: os mais pequenos querem mais poder e mais dinheiro.
Gerir a Liga ou a FPF é sobretudo saber não afrontar os três grandes e os interesses que se movem à sua volta. Ao presidente da Liga cabe acalmar os clubes mais pequenos. Mas a eleição do sr. Mário Figueiredo veio criar uma sublevação: os mais pequenos querem mais poder e mais dinheiro.
No futebol português não há revoluções. Há, quanto muito, sublevações. A eleição, contra todos os prognósticos, do sr. Mário Figueiredo para presidente da FPF, não dinamitará os alicerces do poder do futebol em Portugal mas este estremecerá. A época em que todos eram iguais mas alguns eram mais iguais do que os outros terminou. Ou, pelo menos, foi suspensa no tempo. Todos imaginariam que haveria uma evolução na continuidade. O sr. Fernando Gomes saiu calmamente da FPF para se eleger na Liga. E o sr. António Laranjo eleger-se-ia na paz do senhor na FPF com o beneplácito do FC Porto, do Sporting e do Benfica. Foi estimulante esta semana: começou com um ataque diabólico do sr. António Oliveira ao seu irmão, o sr. Joaquim Oliveira, o líder da Olivedesportos, a empresa que domina a área dos direitos televisivos, e a distribuição dos seus dividendos, em Portugal.
Numa coisa o sr. António Oliveira tem toda a razão: para o bem e para o mal a Olivedesportos é o FMI do futebol indígena. Muitos clubes vivem em grande parte das receitas televisivas e dos adiantamentos, em troca da prorrogação dos contratos, que a empresa cede aos clubes. Há quem tenha grandes receitas (FC Porto, Benfica e Sporting, aparentemente 50%) e há quem tenha pequenas receitas (os restantes clubes das duas ligas profissionais, 29, os restantes 20% da receita). Os direitos televisivos não são, claro, a única "cash cow" da Olivedesportos: há quem se esqueça da importância da publicidade estática, disseminada por todo o lado. Endividados até à medula, os clubes vivem deste dinheiro como nómadas num deserto só com um oásis à vista.
No país das fadas tudo funciona bem. Basta ver o que o novo presidente da Liga, o sr. Fernando Gomes tem dito sobre os temas mais escaldantes do futebol: zero! Gerir a Liga ou a FPF é sobretudo saber não afrontar os três grandes e os interesses que se movem à sua volta. Ao presidente da Liga cabe acalmar os clubes mais pequenos. Mas, enquanto o Benfica balança sobre que acordo fará para a cessão dos seus direitos televisivos, os pequenos clubes sabem que, sem um aumento do seu quinhão, o futuro não é risonho. A eleição do sr. Mário Figueiredo nasce do caldeirão dessa rebelião feita nas sombras e que foi enunciada pelo sr. António Oliveira. Os pequenos clubes não querem o que está mas ainda não sabem o que querem. Quando o sr. Figueiredo defende a centralização da negociação dos direitos televisivos, o que permitirá dar mais fatias do bolo aos pequenos clubes, está a abrir uma nova frente de batalha. Resta saber se, no fundo, esta vitória não é também a melhor forma de combater a tentação solitária do Benfica de negociar só por si. E se não foi um cartão amarelo mostrado ao Governo e ao PSD que tão empenhados estiveram na eleição.
fsobral@negocios.pt
No futebol português não há revoluções. Há, quanto muito, sublevações. A eleição, contra todos os prognósticos, do sr. Mário Figueiredo para presidente da FPF, não dinamitará os alicerces do poder do futebol em Portugal mas este estremecerá. A época em que todos eram iguais mas alguns eram mais iguais do que os outros terminou. Ou, pelo menos, foi suspensa no tempo. Todos imaginariam que haveria uma evolução na continuidade. O sr. Fernando Gomes saiu calmamente da FPF para se eleger na Liga. E o sr. António Laranjo eleger-se-ia na paz do senhor na FPF com o beneplácito do FC Porto, do Sporting e do Benfica. Foi estimulante esta semana: começou com um ataque diabólico do sr. António Oliveira ao seu irmão, o sr. Joaquim Oliveira, o líder da Olivedesportos, a empresa que domina a área dos direitos televisivos, e a distribuição dos seus dividendos, em Portugal.
No país das fadas tudo funciona bem. Basta ver o que o novo presidente da Liga, o sr. Fernando Gomes tem dito sobre os temas mais escaldantes do futebol: zero! Gerir a Liga ou a FPF é sobretudo saber não afrontar os três grandes e os interesses que se movem à sua volta. Ao presidente da Liga cabe acalmar os clubes mais pequenos. Mas, enquanto o Benfica balança sobre que acordo fará para a cessão dos seus direitos televisivos, os pequenos clubes sabem que, sem um aumento do seu quinhão, o futuro não é risonho. A eleição do sr. Mário Figueiredo nasce do caldeirão dessa rebelião feita nas sombras e que foi enunciada pelo sr. António Oliveira. Os pequenos clubes não querem o que está mas ainda não sabem o que querem. Quando o sr. Figueiredo defende a centralização da negociação dos direitos televisivos, o que permitirá dar mais fatias do bolo aos pequenos clubes, está a abrir uma nova frente de batalha. Resta saber se, no fundo, esta vitória não é também a melhor forma de combater a tentação solitária do Benfica de negociar só por si. E se não foi um cartão amarelo mostrado ao Governo e ao PSD que tão empenhados estiveram na eleição.
fsobral@negocios.pt
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