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João Carlos Barradas - Jornalista 16 de Outubro de 2008 às 12:51

A relutância na política

Forte contenção salarial para evitar pressões inflacionárias e quebra do consumo dos particulares, por via de restrições ao crédito, e necessidade de reduzir o endividamento excessivo são duas das consequências omissas no discurso político dos dirigentes europeus ao apresentarem planos de emergência para a crise bancária e financeira.

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A relutância em advertir os eleitorados para os efeitos a curto e médio prazo do abrandamento económico, ou de recessão em determinados países, e de aumentos dos défices orçamentais é justificada pela necessidade de obter apoio político para pacotes de resgate financeiro e financiamento da banca.

Se na União Europeia estas omissões estão, de momento, a passar em claro, nos Estados Unidos, na recta final das eleições presidenciais, a situação é gritante e com consequências potencialmente mais gravosas.

Promessas de campanha

Barack Obama reciclou esta semana o seu plano de relançamento económico, que, alegadamente, implicará custos orçamentais na ordem dos 60 mil milhões de dólares nos próximos dois anos, menos 55 mil milhões de dólares do que o prometido pelo candidato democrata em Agosto.

Obama adoptou uma proposta de Hillary Clinton que criticara durante as primárias e passou a defender uma moratória de 90 dias para particulares "bem intencionados", mas sem meios para pagarem as suas hipotecas imobiliárias.

Financiamentos federais aos governos estaduais e municípios, além de isenções fiscais para empresas que criem postos de trabalho, constam, ainda, das propostas de Obama para "salvar a classe média" e criar empregos.

John McCain respondeu com cortes nas penalizações por levantamentos parciais de planos de reformas, maiores deduções fiscais por perdas em bolsa, corte de 15% para 7,5% no imposto sobre mais-valias em acções detidas durante pelo menos um ano, além da suspensão, por dois anos, de impostos sobre subsídios de desemprego.

O pacote republicano orça, por sua vez, em 52,5 mil milhões de dólares e faz da palavra de ordem "dinheiro vivo na mão" o tema forte de campanha.

A eficácia e viabilidade destes planos, considerando que as previsões de défice do orçamento para o ano fiscal que terminará em Setembro de 2009 já começaram a ultrapassar os 500 mil milhões de dólares, é altamente duvidosa.

Omissões e desilusões

A um passo da eleição é impossível para qualquer candidato admitir que a carga fiscal terá necessariamente de aumentar e que os cortes orçamentais irão incidir sobre serviços públicos.

Nas vésperas de 4 de Novembro, é tabu afirmar que o nível de endividamento das famílias norte-americanas, que subiu de 78% do rendimento disponível, em 1990, para 129%, no ano passado, é insustentável.

Até ao final do ano passado, as famílias da celebrada classe média nos Estados Unidos tinham visto os seus rendimentos, ajustados à inflação, caírem 400 dólares desde 1999 e, findo o "boom" do crédito, a quebra na qualidade de vida e no consumo está ao virar da esquina.

A relutância em assumir o inevitável terá consequências, e a primeira será, precisamente, agravar o desânimo e desorientação constatados por uma sondagem da Gallup divulgada terça-feira.

Um recorde de 73% dos inquiridos classifica como má a situação económica e 84% considera que a economia irá degradar-se ainda mais.

A sondagem indica, também, que 49% dos inquiridos admite que a recuperação económica só venha a ocorrer a longo prazo devido a problemas estruturais, enquanto 47% estima tratar-se de um declino temporário provocado pela crise financeira.

As expectativas quanto ao sucessor de George Bush, em cuja competência 80% dos inquiridos diz não confiar, são, neste momento, muito baixas.

Apenas 44% dos inquiridos pela Gallup admite que Obama possa relançar a economia e, no caso de McCain, o nível de confiança cai para 31%.

Sobra, portanto, alguma margem para um aumento no número de desiludidos quando o novo presidente iniciar o seu mandato, a 20 de Janeiro.

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