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A gentinha de Smiley

Carly Simon cantou "Nobody Does It Better" em louvor de 007, o espião que amava mulheres belas.

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Carly Simon cantou "Nobody Does It Better" em louvor de 007, o espião que amava mulheres belas. Fossem elas boas ou más. Essa era a espionagem romântica que pouco tinha a ver com os espiões burocráticos que desesperavam George Smiley. Gente semelhante aos burocratas do SIED que, durante anos, se dedicaram a brincar aos espiões. Longe da lei, debaixo do anonimato, isentos de fiscalização. Os espiões que ocuparam o poder no SIED tinham uma outra missão: fazer de Portugal um imenso Big Brother. Preferiam, por comodidade, espiar dentro em vez de espiar fora. Parece que o SIED estava ao serviço de uma agenda política. E isso é gravíssimo. Uma democracia que permite isto não é uma democracia. O dano colateral desta tentação totalitária foi a lei democrática. Transformou-se a espionagem num clube de amigos onde os interesses políticos e as negociatas privadas usavam a lei. Num país civilizado esta gentinha de Smiley era demitida e investigada judicialmente. Aqui brinca-se com a lei e aos espiões e tudo parece normal. Há uma amoralidade envergonhada onde surge uma personagem triste que pede uma lista de compras, um chefe de espiões que parece o secretário-geral de uma sociedade recreativa e um poder político que lhe deu cobertura porque queria controlar tudo. Houve quem quisesse monotorizar a democracia e colocá-la ao seu serviço, como se os portugueses se dividissem entre bons e maus. No mundo da espionagem nem tudo é visível. Mas esse nevoeiro não pode servir para que, a coberto da lei, se atropelem os direitos individuais. O maior drama é se isto é apenas a ponta do iceberg.
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