Há quem diga que o melhor ataque começa pela defesa. E, nesse aspecto, o Benfica tem tido o condão de, desde o tempo do sr. Preud’homme, ter tornado a grande área uma zona minada para qualquer guarda-redes. É exemplar o que se passou com o sr. Quim, desde que num afã de afastar o sr. Moreira da baliza, ele veio de Braga pela mão do sr. Veiga. Desde então a baliza encarnada parece o destino de alguém colocado defronte de um pelotão de fuzilamento. O sr. Moreira, sem ninguém entender muito bem, foi para o banco com o sr. Trapattoni e substituído pelo sr. Quim. O sr. Koeman chegou e recolocou o sr. Moreira na baliza. Este lesionou-se e o sr. Quim lesionou-se a seguir, jogando intermitentemente, assim como o sr. Nereu. Agora chega o sr. Moretto e, dois dias depois, é titular do Benfica.

Há aqui qualquer coisa que não bate certo, a começar pela estalada no aeroporto da Portela. É caso para perguntar: o que é que o sr. Moretto tem? É um mistério quase tão grande como a relação do sr. Veiga com o Estoril. E como foi a do sr. Vieira com o Alverca. Clubes que caíram por terra, sem honra nem glória. Há claramente no Benfica uma especial disposição para se estar a tornar uma placa giratória de compra e venda de jogadores. O exemplo do folhetim à volta do sr. Simão Sabrosa, que ora vai directamente para um clube inglês ora poderá ser vendido a um fundo internacional, é uma demonstração de que, independentemente dos muitos títulos que possa dar aos adeptos, esta direcção tem uma estratégia pouco transparente. Que o Benfica procure no mercado um guarda-redes é uma coisa natural. Que seja um «thriller» policial é outra.

Nem o sr. Vieira escreve (ou fala) tão bem como o sr. Raymond Chandler, nem a Luz é uma Nova Iorque de segredos insondáveis. O estranho caso do sr. Moretto prova, no entanto, que esta obra de ficção apenas vai nos primeiros capítulos.