Opinião
A esquina do Rio
Quando se intui que não há resposta para algumas perguntas, mais vale não ir a interrogatório
Facilitismo
Quando se intui que não há resposta para algumas perguntas, mais vale não ir a interrogatório - vem isto a propósito da forma como Vítor Gaspar, a meio da semana, se expôs numa série de entrevistas que tinham a intenção de melhorar a comunicação sobre o aumento de impostos e as medidas de redução da despesa. A coisa não funcionou e o resultado teve momentos penosos para o ministro. Vítor Gaspar é um tecnocrata puro, demasiado dogmático em matéria europeia, e tem uma assinalável falta de capacidade de comunicação. Já se percebeu que não é um político - embora alguém devesse ter pensado que a pasta das Finanças é politicamente das mais importantes. Toda a gente já percebeu o seu papel - encontrar equilíbrio nas contas, o que é um bocado diferente do anterior ministro das Finanças que procurava esconder o desequilíbrio das contas. Nestas entrevistas, Vítor Gaspar teve uma frase que resume a sua agenda: é mais fácil e mais rápido aplicar impostos do que mudar o funcionamento do Estado. Ele disse isto de uma maneira mais suave, mas o conteúdo foi este. E, é aqui que reside o nosso problema - é sempre mais fácil ir buscar mais dinheiro ao bolso dos mesmos, que pagam sempre, do que procurar outras soluções. O Estado é preguiçoso por um lado e abusador por outro. É claro que o ministro podia tentar fazer diminuir a evasão fiscal e assim ir buscar mais receitas; é claro que o Governo podia tornar a justiça mais célere e assim cativar mais investimento; é certo que podia procurar dinamizar a economia, criar emprego, e assim gerar mais receitas. Eu, sinceramente, desejo e espero que este Governo consiga resolver o nosso problema. Mas, se vai lá pelo lado da facilidade e não ataca o problema de fundo, nem com impostos de 100% nos safamos.
Ver
Até 18 de Setembro estão em exposição, no Museu da electricidade, em Lisboa, as obras dos nove finalistas do Prémio EDP Novos Artistas 2011. Esta iniciativa da EDP tem permitido revelar nomes como Joana Vasconcelos, Vasco Araújo, André Romão ou Gabriel Abrantes. É, talvez, o mais regular radar de reconhecimento de novos talentos nas artes plásticas. Priscilla Fernandes é a vencedora deste ano, com os dois vídeos que apresentou, e a instalação de André Trindade teve uma Menção Honrosa. Os vídeos de Priscila Fernandes fogem aos lugares comuns, infelizmente frequentes, deste género de suporte e remetem para um cruzamento de formas de expressão que, de certa forma, têm a sua raiz na pintura, como aponta o texto de Delfim Sardo sobre a obra premiada. Já André Trindade fez uma observação do quotidiano com recurso a situações e soluções inesperadas numa instalação muito conseguida - percebe-se que o Júri deve ter hesitado entre as obras destes dois artistas. Em termos mais pessoais, o trabalho de João Serra, com recurso a vídeo e fotografia, num registo muito documental e minucioso de uma região mineira no norte da Rússia, constitui um outro ponto incontornável da exposição.
Ouvir
Assim, de repente, o nome de Francisco Silva não dirá grande coisa a muita gente. Mas o nome Old Jerusalem já faz levantar umas orelhas - trata-se de um projecto musical desenvolvido por Francisco Silva e que vai agora no seu quinto disco e no décimo ano de carreira. Os primeiros discos tiveram um assinalável aplauso da crítica e permitiram também alguma carreira internacional. Aos poucos, Old Jerusalem tornou-se num nome de culto e o seu mentor, Francisco Silva, que compõe, canta e toca a maioria dos seus temas (e que acumula a carreira musical com uma vida de economista), foi ganhando reconhecimento pelo cuidado colocado sobretudo nas harmonias vocais que se tornaram a sua marca muito própria. Este quinto disco "Old Jerusalem" sai dentro de dias, retoma em parte o espírito dos registos iniciais, mas revela um aperfeiçoamento considerável, mantendo no entanto uma capacidade de surpreender que se revela em vários temas do CD - são doze, onze de Francisco Silva e um de Lou Reed, ainda do tempo dos Velvet Underground, uma versão de "Candy Says". "Old Jerusalem" já tem distribuição assegurada em Portugal e na Alemanha.
Livro
Daqui a uns anos o que vai ficar das duas primeiras décadas deste século? Os políticos que nos levaram à ruína, as medidas de austeridade, ou os criadores, escritores, músicos, artistas, cuja obra perdure? Acham esta pergunta estranha? - E esta: o que é mais importante? - a cultura ou a política? Não me lembro de um político que corporativamente não diga que a política comanda a vida. Ora acontece que, como a História demonstra, não é bem assim. A nossa identidade enquanto nação é marcada pelos nossos criadores e não há vulto da política que na comparação resista ao passar dos séculos. Dito isto, que sinal se pretende dar com um hipotético aumento do IVA nos livros? Portugal já tem das mais baixas taxas de leitura da União Europeia, tem dos índices mais baixos de compras de livros na Europa. Bismark dizia que a política é a arte do possível - mas neste caso acho que esta citação deve ser remetida ao primeiro-ministro, que tem a responsabilidade da tutela da pasta da Cultura. É a ele que compete dizer ao seu ministro das Finanças que aumentar o IVA no livro é impossível (além de provavelmente ter um reduzidíssimo efeito prático na receita). De alguma forma na decisão que for tomada está a pedra de toque da política cultural deste Governo. Vence o dogma, ou aceita-se a razão? Qualquer aumento, mesmo que parcial em relação à taxa máxima, agravará a nossa situação. Esta responsabilidade e esta decisão, repito, pertencem ao primeiro-ministro e estou com curiosidade de ver o que fará Passos Coelho depois daquilo que escreveu sobre política cultural, no seu livro «Mudar», lançado em Janeiro de 2010.
Arco da velha
Afinal, o tumulto é no PSD - a principal oposição ao Governo, na última semana, veio de dentro do PSD: três ex-lideres e vários notáveis não pouparam críticas à política fiscal e à comunicação do Executivo.
Semanada
14 600 pessoas perdem, em cada mês, o direito ao subsídio de desemprego; o sector público deve a fornecedores privados mais de 4 mil milhões de euros; apenas seis das 51 cadeias portuguesas têm salas para encontros íntimos de reclusos com visitas; na última semana três polícias foram assaltados na rua; Ana Gomes apelidou Merkel de "anjinha"; Portugal tornou-se líder europeu na apreensão europeia de chifres de rinoceronte; a Porsche abriu um "stand" em Pequim.
Ler
Numa fase em que tanto se discute a educação em Portugal, a edição de Setembro da "Monocle" vem mesmo a calhar. A revista investiga e mostra exemplos de experiências educacionais por vezes invulgares na Colômbia, Peru, Finlândia, Coreia e Itália. Além disso, aborda experiências individuais de duas dezenas de professores e profissionais de várias áreas com experiência relevante no ensino e na formação. A revista privilegiou o lado prático da formação e os resultados obtidos, destaca afirmações e opiniões polémicas sobre estas matérias. É talvez um dos melhores números da "Monocle" desde há meses. Outros temas de interesse são uma entrevista com o novo CEO da Air New Zeland, que está a proceder a uma revolução na empresa, e também uma muito oportuna reportagem sobre um canal de televisão noticioso na Venezuela. Finalmente, destaque para as oito páginas que constituem o guia da criatividade em Singapura. Muito para ler, bastante para descobrir, coisas para aprender.
Provar
Se quiserem conhecer o restaurante onde Pedro Passos Coelho levou Lula da Silva a jantar esta semana, A Horta dos Brunos, fiquem sabendo que fica na Rua da Ilha do Pico 27, perto da Estefânia, e é reputado por ser um templo das tradições da cozinha portuguesa, com um ambiente informal e simpático e uma garrafeira de eleição. O saudoso David Lopes Ramos não poupava elogios às suas pataniscas de polvo, às "lulas à Pedro" (o dono do restaurante chama-se Pedro Filipe) e a um arroz com costelas de porco guisadas com couve. O telefone é o 213153421 e a casa tem quatro dezenas de lugares.
www.twitter.com/mfalcao
mfalcao@gmail.com
www.aesquinadorio.blogs.sapo.pt
Quando se intui que não há resposta para algumas perguntas, mais vale não ir a interrogatório - vem isto a propósito da forma como Vítor Gaspar, a meio da semana, se expôs numa série de entrevistas que tinham a intenção de melhorar a comunicação sobre o aumento de impostos e as medidas de redução da despesa. A coisa não funcionou e o resultado teve momentos penosos para o ministro. Vítor Gaspar é um tecnocrata puro, demasiado dogmático em matéria europeia, e tem uma assinalável falta de capacidade de comunicação. Já se percebeu que não é um político - embora alguém devesse ter pensado que a pasta das Finanças é politicamente das mais importantes. Toda a gente já percebeu o seu papel - encontrar equilíbrio nas contas, o que é um bocado diferente do anterior ministro das Finanças que procurava esconder o desequilíbrio das contas. Nestas entrevistas, Vítor Gaspar teve uma frase que resume a sua agenda: é mais fácil e mais rápido aplicar impostos do que mudar o funcionamento do Estado. Ele disse isto de uma maneira mais suave, mas o conteúdo foi este. E, é aqui que reside o nosso problema - é sempre mais fácil ir buscar mais dinheiro ao bolso dos mesmos, que pagam sempre, do que procurar outras soluções. O Estado é preguiçoso por um lado e abusador por outro. É claro que o ministro podia tentar fazer diminuir a evasão fiscal e assim ir buscar mais receitas; é claro que o Governo podia tornar a justiça mais célere e assim cativar mais investimento; é certo que podia procurar dinamizar a economia, criar emprego, e assim gerar mais receitas. Eu, sinceramente, desejo e espero que este Governo consiga resolver o nosso problema. Mas, se vai lá pelo lado da facilidade e não ataca o problema de fundo, nem com impostos de 100% nos safamos.
Ver
Até 18 de Setembro estão em exposição, no Museu da electricidade, em Lisboa, as obras dos nove finalistas do Prémio EDP Novos Artistas 2011. Esta iniciativa da EDP tem permitido revelar nomes como Joana Vasconcelos, Vasco Araújo, André Romão ou Gabriel Abrantes. É, talvez, o mais regular radar de reconhecimento de novos talentos nas artes plásticas. Priscilla Fernandes é a vencedora deste ano, com os dois vídeos que apresentou, e a instalação de André Trindade teve uma Menção Honrosa. Os vídeos de Priscila Fernandes fogem aos lugares comuns, infelizmente frequentes, deste género de suporte e remetem para um cruzamento de formas de expressão que, de certa forma, têm a sua raiz na pintura, como aponta o texto de Delfim Sardo sobre a obra premiada. Já André Trindade fez uma observação do quotidiano com recurso a situações e soluções inesperadas numa instalação muito conseguida - percebe-se que o Júri deve ter hesitado entre as obras destes dois artistas. Em termos mais pessoais, o trabalho de João Serra, com recurso a vídeo e fotografia, num registo muito documental e minucioso de uma região mineira no norte da Rússia, constitui um outro ponto incontornável da exposição.
Ouvir
Assim, de repente, o nome de Francisco Silva não dirá grande coisa a muita gente. Mas o nome Old Jerusalem já faz levantar umas orelhas - trata-se de um projecto musical desenvolvido por Francisco Silva e que vai agora no seu quinto disco e no décimo ano de carreira. Os primeiros discos tiveram um assinalável aplauso da crítica e permitiram também alguma carreira internacional. Aos poucos, Old Jerusalem tornou-se num nome de culto e o seu mentor, Francisco Silva, que compõe, canta e toca a maioria dos seus temas (e que acumula a carreira musical com uma vida de economista), foi ganhando reconhecimento pelo cuidado colocado sobretudo nas harmonias vocais que se tornaram a sua marca muito própria. Este quinto disco "Old Jerusalem" sai dentro de dias, retoma em parte o espírito dos registos iniciais, mas revela um aperfeiçoamento considerável, mantendo no entanto uma capacidade de surpreender que se revela em vários temas do CD - são doze, onze de Francisco Silva e um de Lou Reed, ainda do tempo dos Velvet Underground, uma versão de "Candy Says". "Old Jerusalem" já tem distribuição assegurada em Portugal e na Alemanha.
Livro
Daqui a uns anos o que vai ficar das duas primeiras décadas deste século? Os políticos que nos levaram à ruína, as medidas de austeridade, ou os criadores, escritores, músicos, artistas, cuja obra perdure? Acham esta pergunta estranha? - E esta: o que é mais importante? - a cultura ou a política? Não me lembro de um político que corporativamente não diga que a política comanda a vida. Ora acontece que, como a História demonstra, não é bem assim. A nossa identidade enquanto nação é marcada pelos nossos criadores e não há vulto da política que na comparação resista ao passar dos séculos. Dito isto, que sinal se pretende dar com um hipotético aumento do IVA nos livros? Portugal já tem das mais baixas taxas de leitura da União Europeia, tem dos índices mais baixos de compras de livros na Europa. Bismark dizia que a política é a arte do possível - mas neste caso acho que esta citação deve ser remetida ao primeiro-ministro, que tem a responsabilidade da tutela da pasta da Cultura. É a ele que compete dizer ao seu ministro das Finanças que aumentar o IVA no livro é impossível (além de provavelmente ter um reduzidíssimo efeito prático na receita). De alguma forma na decisão que for tomada está a pedra de toque da política cultural deste Governo. Vence o dogma, ou aceita-se a razão? Qualquer aumento, mesmo que parcial em relação à taxa máxima, agravará a nossa situação. Esta responsabilidade e esta decisão, repito, pertencem ao primeiro-ministro e estou com curiosidade de ver o que fará Passos Coelho depois daquilo que escreveu sobre política cultural, no seu livro «Mudar», lançado em Janeiro de 2010.
Arco da velha
Afinal, o tumulto é no PSD - a principal oposição ao Governo, na última semana, veio de dentro do PSD: três ex-lideres e vários notáveis não pouparam críticas à política fiscal e à comunicação do Executivo.
Semanada
14 600 pessoas perdem, em cada mês, o direito ao subsídio de desemprego; o sector público deve a fornecedores privados mais de 4 mil milhões de euros; apenas seis das 51 cadeias portuguesas têm salas para encontros íntimos de reclusos com visitas; na última semana três polícias foram assaltados na rua; Ana Gomes apelidou Merkel de "anjinha"; Portugal tornou-se líder europeu na apreensão europeia de chifres de rinoceronte; a Porsche abriu um "stand" em Pequim.
Ler
Numa fase em que tanto se discute a educação em Portugal, a edição de Setembro da "Monocle" vem mesmo a calhar. A revista investiga e mostra exemplos de experiências educacionais por vezes invulgares na Colômbia, Peru, Finlândia, Coreia e Itália. Além disso, aborda experiências individuais de duas dezenas de professores e profissionais de várias áreas com experiência relevante no ensino e na formação. A revista privilegiou o lado prático da formação e os resultados obtidos, destaca afirmações e opiniões polémicas sobre estas matérias. É talvez um dos melhores números da "Monocle" desde há meses. Outros temas de interesse são uma entrevista com o novo CEO da Air New Zeland, que está a proceder a uma revolução na empresa, e também uma muito oportuna reportagem sobre um canal de televisão noticioso na Venezuela. Finalmente, destaque para as oito páginas que constituem o guia da criatividade em Singapura. Muito para ler, bastante para descobrir, coisas para aprender.
Provar
Se quiserem conhecer o restaurante onde Pedro Passos Coelho levou Lula da Silva a jantar esta semana, A Horta dos Brunos, fiquem sabendo que fica na Rua da Ilha do Pico 27, perto da Estefânia, e é reputado por ser um templo das tradições da cozinha portuguesa, com um ambiente informal e simpático e uma garrafeira de eleição. O saudoso David Lopes Ramos não poupava elogios às suas pataniscas de polvo, às "lulas à Pedro" (o dono do restaurante chama-se Pedro Filipe) e a um arroz com costelas de porco guisadas com couve. O telefone é o 213153421 e a casa tem quatro dezenas de lugares.
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