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26 de Novembro de 2010 às 11:40

A esquina do Rio

Nas últimas semanas, tem vindo várias vezes à baila o tema da eventual passagem da Lusa para a esfera da RTP

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Lusa
Nas últimas semanas, tem vindo várias vezes à baila o tema da eventual passagem da Lusa para a esfera da RTP - tudo graças a uma daquelas declarações incendiárias e precipitadas do Ministro Lacão. O problema que devia estar em cima da mesa é a definição do que é que compete ao Estado em matéria de serviço público na área da informação - o que são os serviços mínimos, digamos assim, que podem servir a uma plataforma de entendimento alargada. Em relação à Lusa sabem-se três coisas: a situação, com quase três décadas, que levou à constituição de uma agência que tinha como sócios entidades públicas e privadas (e grande parte dos media estavam então na mão do Estado), mudou substancialmente e agora são os privados que estão interessados em vender a sua participação na agência; uma agência noticiosa nacional continua a fazer falta do ponto de vista estratégico, em relação à afirmação da língua e cultura portuguesa e dos nossos interesses no mundo; e, finalmente, o papel de uma agência noticiosa vem mudando ao longo dos anos, em consonância com a evolução tecnológica e a evolução dos próprios media.

De um ponto de vista geral, faz sentido que as participações do Estado nas empresas onde entende dever haver prestação de serviço público em matéria de comunicação estejam concentradas - não numa estrutura parasita como foi há uns anos a Portugal Global, mas numa entidade que saiba gerir as diversas áreas, potencie recursos comuns, salvaguarde identidades de cada marca e função, e garanta efectivamente que aquilo que é feito é serviço público. Deste ponto de vista a fusão da RTP e RDP foi uma medida acertada, as marcas convivem bem e a única coisa que faltou foi ver o que é essencial para o serviço público e aquilo que não é.

Quanto a mim esta é a discussão que falta: quais os contornos de funcionamento efectivo de uma televisão, de uma rádio e de uma agência noticiosa em termos de serviço público. Sem definir isto, tudo o resto é atirar lama para a ventoinha para tapar a vista e, eventualmente, permitir que se façam outras coisas que tenham muito pouco a ver com uma perspectiva séria de serviço público.


Desaprovar
Durante muito tempo "A Tasca Da Esquina" , do Chefe Vitor Sobral, em Campo de Ourique, foi um local onde era difícil ir, tal a ocupação que tinha; pois agora é um local onde é desnecessário ir, porque na realidade não tem grande coisa a oferecer. É muito desagradável a forma como alguns restaurantes - e Chefes - deixam degradar os padrões de qualidade (e não é a primeira vez que isto acontece com Vitor Sobral). Os petiscos anunciados agora são destemperados - umas vezes por tempero a mais, outras por descuido de confecção, o serviço é francamente mau - distraído, atrasado, insensível a reparos. A casa deixou de ser uma experiência interessante - em contraste com outra petisqueira do mesmo género, o De Castro, de Miguel Castro e Silva, nas Avenidas Novas, que tem vindo a melhorar e, entretanto, surgiram mais uns quantos pequenos restaurantes apostados no petisco.


À espera
Temo-nos habituado a viver à espera. Às vezes, à espera de um milagre, outras à espera que decidam por nós, outras ainda à espera que alguém venha fazer aquilo que não fomos capazes. O país está parado à espera de decisões: o Governo deixou de governar, olhamos mais para fora do que para dentro. O filósofo José Gil escreveu esta semana um certeiro texto na "Visão" sobre o assunto. Portugal continua a ser um país à espera de alguma coisa - mania antiga, que vem dos tempos de D. Sebastião.

Aumenta o número de especialistas que assumem ser inevitável uma entrada do FMI e que chamam a atenção para o que está a tornar-se uma evidência: a nossa situação agrava-se a cada dia que passa, quando mais se adiar a decisão, em pior situação ficamos e mais doloroso será o tratamento.

Se o FMI entrar mesmo, dizem alguns analistas, esse poderá ser o momento que José Sócrates aproveite para pedir uma conjugação nacional de esforços, tentando protagonizar uma remodelação com abertura a áreas próximas da oposição - e, se não conseguir aliados, poderá aproveitar para bater com a porta, atirando as culpas para cima de quem o não quis ajudar. Num contexto destes - que não é impossível atendendo ao que vamos conhecendo da peça - mais valerá ir dizendo que o país precisa de um governo refrescado mas sem José Sócrates a comandá-lo. O pior que poderia acontecer a qualquer oposição seria ser a tábua de salvação dos autores dos desmandos a que vimos assistindo, cada vez com maior intensidade.


Ouvir
Se fosse vivo, Ray Charles estaria agora a festejar o seu 80ºaniversário. "Rare Genius" é o apropriado título de um novo CD editado para assinalar a data e que inclui dez gravações até agora inéditas, incluindo um dueto com Johnny Cash em "Why me Lord". As gravações agora editadas, feitas ao longo de três décadas, nos anos 70, 80 e 90, mostram a rara capacidade de interpretação de Ray Charles e mostram a sua disposição constante em explorar novas fronteiras em géneros como o R'n'B, o "soul", o "country" ou o "gospel".


Imprensa
Uma das constantes das intervenções de especialistas estrangeiros na conferência realizada esta semana pelo "Expresso" sobre as repercussões dos iPad e outros "tablets" nas empresas de "media" foi a necessidade de basear as operações na criação de conteúdos de qualidade, capazes de sobreviver em diversas plataformas e de terem ofertas diferenciadas e complementares. Isto quer dizer melhores textos, melhores fotografias, melhores imagens, melhor informação. Isto quer dizer, aproveitar o saber e a experiência dos melhores e poder contar com a sua ajuda para contextualizar a informação nas novas plataformas e para poder criar uma narrativa digital diferenciadora. Nesta mesma semana soube-se que a News Corporation, de Murdoch, está a preparar o lançamento, em Janeiro, de um jornal integralmente digital, feito em exclusivo para o iPad, com uma redacção de cem jornalistas e com 30 milhões de dólares de investimento.


Arco da velha
O inquilino mais popular da Casa Branca é português - disse em Lisboa, sem se desmanchar e com um ar sério, o Presidente Obama, referindo-se ao seu cão de água Bo.


Murmúrio
Como já escrevi no blogue "Lugares Comuns", voz amiga explicou-me a razão de ser da encomenda dos blindados da PSP: é que não foi para proteger a cimeira da NATO. Foi para, em caso de necessidade, servirem de veículos de fuga para membros do Governo quando aí chegar o FMI. Uma espécie de "chaimites" modernas. Afinal não chegaram atrasados...


Ler
Alguns anos antes de Mark Twain se ter tornado célebre escreveu muito para diversos jornais, nomeadamente no decurso de uma série de viagens realizadas a partir de 1867. Mais tarde, essas viagens foram agrupadas e romanceadas e deram origem à "A Viagem dos Inocentes", por sinal o maior êxito do escritor em vida. Como a viagem foi de barco os Açores aparecem na primeira escala e as observações são, digamos, curiosas - embora não nos chegue a comparar a cães, como fez Obama em Lisboa na semana passada. "A Viagem dos Inocentes" tem agora a sua primeira tradução portuguesa, editada pela Tinta da China na sua belíssima colecção de livros de viagem. Considerado um dos grandes livros de viagens da história da literatura, "A Viagem dos Inocentes" recolhe, sempre com humor e ironia, as impressões de Mark Twain sobre Marrocos, França, Itália, Grécia, Rússia e alguns lugares bíblicos que também visitou.


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