Opinião
A esquina do Rio
Como não é politicamente correcto estalar a crise no Governo, e como a panela de pressão da crise tem que aliviar por algum sítio, eis que as presidenciais foram a válvula de escape escolhida. De repente, à esquerda e à direita, saltam vozes a demarcar-se...
PRESIDENCIAIS - Como não é politicamente correcto estalar a crise no Governo, e como a panela de pressão da crise tem que aliviar por algum sítio, eis que as presidenciais foram a válvula de escape escolhida. De repente, à esquerda e à direita, saltam vozes a demarcar-se dos candidatos escolhidos, respectivamente, pelo PS e pelo PSD e PP. Algo me diz que este processo das presidenciais vai ser conturbado, algo me diz que alguém vai perder as estribeiras em todo este processo. Assim sendo na realidade o resultado final arrisca-se a ser uma incógnita entre a direita a quem o casamento gay promulgado por Cavaco aborrece, e a esquerda a quem os hábitos de caça de Manuel Alegre perturba.
VIAGENS - Na última semana José Sócrates arranjou tempo para vir a Lisboa promulgar o apoio do PS a Manuel Alegre, depois de se ter feito convidar para casa de Chico Buarque, no Brasil (país onde as coisas lhe correram mal, aliás), e depois de ter andado a cobrar promessas de Hugo Chávez - que pagou com mais umas quantas promessas…. E agora de seguida vai para Marrocos. Numa situação como a que o País vive mais de metade da semana fora em "road show" tem como efeito que no plano interno os sintomas de desorganização no Governo se começam a acumular.
TELEVISÃO - 2,6 milhões de casas recebem televisão por cabo ou satélite, um aumento de 277 mil em relação ao ano passado. Isto quer dizer que mais de metade dos lares portugueses não vê televisão por via hertziana - o que baralha sensivelmente as contas e as audiências correntes. A verdade é que quem vê televisão por assinatura vive na faixa litoral entre Viana do Castelo e Setúbal e no Algarve, tem mais poder de compra e é demograficamente mais atraente em termos de consumo - ou seja, a partir de agora é seguro que a maioria dos consumidores não tem um universo de quatro canais mas sim de dezenas e os resultados são bem diferentes. Com números destes outra questão fica em aberto: que fazer com a Televisão Digital Terrestre se a maioria já recebe mais do que esta pode oferecer?
LER - Jay McInerney é um dos escritores norte-americanos de que mais gosto - e por curiosidade é um grande apreciador de vinho e actualmente é o autor das críticas de vinhos no "Wall Street Journal". Vinhos à parte, "The Last Bachelor" é a sua segunda recolha de pequenos contos. Aqui há um ponto comum - quase todas as histórias têm a ver com os vícios privados dos personagens, episódios de voyeurismo, infidelidades consentidas, quase sempre com Nova York como pando de fundo. Muito tocado no estilo por Raymond Carver, que foi seu professor, McInerney oferece nesta recolha uma visão às vezes surrealista, mas muitas vezes cheia de humor e ironia. "The Last Bachelor", 216 páginas, edição de bolso Bloomsbury de Janeiro de 2010, comprado na Amazon.
ÓDIO DE ESTIMAÇÃO - Os restaurantes que se estão nas tintas para os consumidores e lhes tiram a possibilidade de escolha, apresentando apenas uma marca de cerveja ou uma marca de refrigerante. Não gosto que me queiram obrigar a beber Pepsi ou Sagres por força das decisões de outros. Será inteiramente legal obrigar a monopólios destes?
OUVIR - Em 1953 o jazz era ainda considerado um género menor, escutado em bares, e os bem pensantes apenas tinham ouvidos para a música clássica. Imaginem portanto a cara da audiência que estava no Oberlin College, uma instituição no Ohio dedicada às artes e fundada em 1833. O estabelecimento de ensino, privado, incluía um Conservatório de Música com boa reputação. Pois foi aí mesmo que Dave Brubeck actuou com o seu quarteto no dia 2 de Março de 1953 - com a particularidade de o espectáculo estar a ser gravado para posterior edição, naquele que viria ser um dos primeiros discos ao vivo na história do jazz. Acompanhado por Paul Desmond no saxofone, Ron Crotty no baixo e Lloyd Davis na bateria, Dave Brubeck escolheu para essa noite um repertório que incluiu clássicos como "The Foolish Things (Remind Me Of You)", "Perdido", "Stardust", "The Way You Look Tonight" e "How High The Moon". É difícil um alinhamento mais perfeito e o resultado musical dessa noite é absolutamente espantoso, muito graças aos arranjos de Brubeck. Felizmente a Universal Music decidiu reeditar esta preciosidade, com uma remasterização a 24 bits, na sua série Original Jazz Classics. "Jazz At The Oberlin", do Dave Brubeck Quartet é um CD imperdível.
VER - Só o título é todo um programa: "A Museum Is To Art what a Great Translator is to a Writer" é o nome da exposição colectiva que junta na galeria Baginsky obras de André Gomes, Bruno Cidra, Carlos Correia, Cecília Costa, Délio Jasse, Gonçalo Sena, a dupla Sara&André e Yonamine - umas recentes e outras inéditas. Destaque para a proposta do angolano Délio Jasse, que trabalha fotografia em suportes invulgares; para os pequenos desenhos de Carlos Correia, quase notas sobre memórias de obras que ele próprio viu; e finalmente para a corrosiva instalação de Sara&André, repleta de ironia. Comissariada por Alda Galsterer a exposição estará patente até 4 de Setembro na Galeria Baginski, Rua Capitão Leitão 51 e 53, ao Beato, entre terça a sábado das 11h00 às 19h00.
PROVAR - Esta altura do ano é a época dos caracóis e das cerejas - ambas consideráveis tentações. Ainda é um pouco cedo para as sardinhas estarem no seu ponto ideal, de modo que em matéria petisqueira a recomendação é mesmo um pratinho de caracóis ao fim da tarde, acompanhados por uma imperial - a verdadeira e genuína happy hour portuguesa, agora que se fala tanto do assunto com propostas meio sem graça. Em Lisboa sugiro alguns locais onde a qualidade é garantida: Cervejaria O Filho do Menino Júlio dos Caracóis, na Rua Vale Formoso de Cima 140 B, em Marvila, que se gaba de ter uma receita antiga e exclusiva; o Túnel de Santos, no Largo de Santos, em Lisboa; o famoso Tico Tico, na Avenida Rio de Janeiro 19 a 21, em Alvalade; e, finalmente, o Farol da Torre, em Belém, na Rua da Praia do Bom Sucesso 102.
BACK TO BASICS - "Não é pelas coisas serem difíceis que não ousamos. É por não ousarmos que as coisas são difíceis." - Séneca
www.twitter.com/mfalcao
mfalcao@gmail.com
www.aesquinadorio.blogs.sapo.pt
VIAGENS - Na última semana José Sócrates arranjou tempo para vir a Lisboa promulgar o apoio do PS a Manuel Alegre, depois de se ter feito convidar para casa de Chico Buarque, no Brasil (país onde as coisas lhe correram mal, aliás), e depois de ter andado a cobrar promessas de Hugo Chávez - que pagou com mais umas quantas promessas…. E agora de seguida vai para Marrocos. Numa situação como a que o País vive mais de metade da semana fora em "road show" tem como efeito que no plano interno os sintomas de desorganização no Governo se começam a acumular.
LER - Jay McInerney é um dos escritores norte-americanos de que mais gosto - e por curiosidade é um grande apreciador de vinho e actualmente é o autor das críticas de vinhos no "Wall Street Journal". Vinhos à parte, "The Last Bachelor" é a sua segunda recolha de pequenos contos. Aqui há um ponto comum - quase todas as histórias têm a ver com os vícios privados dos personagens, episódios de voyeurismo, infidelidades consentidas, quase sempre com Nova York como pando de fundo. Muito tocado no estilo por Raymond Carver, que foi seu professor, McInerney oferece nesta recolha uma visão às vezes surrealista, mas muitas vezes cheia de humor e ironia. "The Last Bachelor", 216 páginas, edição de bolso Bloomsbury de Janeiro de 2010, comprado na Amazon.
ÓDIO DE ESTIMAÇÃO - Os restaurantes que se estão nas tintas para os consumidores e lhes tiram a possibilidade de escolha, apresentando apenas uma marca de cerveja ou uma marca de refrigerante. Não gosto que me queiram obrigar a beber Pepsi ou Sagres por força das decisões de outros. Será inteiramente legal obrigar a monopólios destes?
OUVIR - Em 1953 o jazz era ainda considerado um género menor, escutado em bares, e os bem pensantes apenas tinham ouvidos para a música clássica. Imaginem portanto a cara da audiência que estava no Oberlin College, uma instituição no Ohio dedicada às artes e fundada em 1833. O estabelecimento de ensino, privado, incluía um Conservatório de Música com boa reputação. Pois foi aí mesmo que Dave Brubeck actuou com o seu quarteto no dia 2 de Março de 1953 - com a particularidade de o espectáculo estar a ser gravado para posterior edição, naquele que viria ser um dos primeiros discos ao vivo na história do jazz. Acompanhado por Paul Desmond no saxofone, Ron Crotty no baixo e Lloyd Davis na bateria, Dave Brubeck escolheu para essa noite um repertório que incluiu clássicos como "The Foolish Things (Remind Me Of You)", "Perdido", "Stardust", "The Way You Look Tonight" e "How High The Moon". É difícil um alinhamento mais perfeito e o resultado musical dessa noite é absolutamente espantoso, muito graças aos arranjos de Brubeck. Felizmente a Universal Music decidiu reeditar esta preciosidade, com uma remasterização a 24 bits, na sua série Original Jazz Classics. "Jazz At The Oberlin", do Dave Brubeck Quartet é um CD imperdível.
VER - Só o título é todo um programa: "A Museum Is To Art what a Great Translator is to a Writer" é o nome da exposição colectiva que junta na galeria Baginsky obras de André Gomes, Bruno Cidra, Carlos Correia, Cecília Costa, Délio Jasse, Gonçalo Sena, a dupla Sara&André e Yonamine - umas recentes e outras inéditas. Destaque para a proposta do angolano Délio Jasse, que trabalha fotografia em suportes invulgares; para os pequenos desenhos de Carlos Correia, quase notas sobre memórias de obras que ele próprio viu; e finalmente para a corrosiva instalação de Sara&André, repleta de ironia. Comissariada por Alda Galsterer a exposição estará patente até 4 de Setembro na Galeria Baginski, Rua Capitão Leitão 51 e 53, ao Beato, entre terça a sábado das 11h00 às 19h00.
PROVAR - Esta altura do ano é a época dos caracóis e das cerejas - ambas consideráveis tentações. Ainda é um pouco cedo para as sardinhas estarem no seu ponto ideal, de modo que em matéria petisqueira a recomendação é mesmo um pratinho de caracóis ao fim da tarde, acompanhados por uma imperial - a verdadeira e genuína happy hour portuguesa, agora que se fala tanto do assunto com propostas meio sem graça. Em Lisboa sugiro alguns locais onde a qualidade é garantida: Cervejaria O Filho do Menino Júlio dos Caracóis, na Rua Vale Formoso de Cima 140 B, em Marvila, que se gaba de ter uma receita antiga e exclusiva; o Túnel de Santos, no Largo de Santos, em Lisboa; o famoso Tico Tico, na Avenida Rio de Janeiro 19 a 21, em Alvalade; e, finalmente, o Farol da Torre, em Belém, na Rua da Praia do Bom Sucesso 102.
BACK TO BASICS - "Não é pelas coisas serem difíceis que não ousamos. É por não ousarmos que as coisas são difíceis." - Séneca
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