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Opinião
17 de Fevereiro de 2012 às 11:31

A esquina do Rio

Está por fazer a história da Europa desde a reunificação da Alemanha. Está por fazer a história do que aconteceu desde a criação do euro.

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História
Está por fazer a história da Europa desde a reunificação da Alemanha. Está por fazer a história do que aconteceu desde a criação do euro. Está por fazer a história de todos os acordos de circunstância, dos sucessivos tratados que foram adiando os grandes problemas. Está por fazer o enquadramento do que nos trouxe a todos aqui. Está por fazer a história das razões dos enormes aumentos das dívidas públicas. Está por fazer a história dos crescentes défices externos. Em Portugal está por fazer a história das informações erradas, das análises marteladas, das contas aldrabadas. Nunca conseguiremos transformar o futuro sem perceber o passado. O equilíbrio malabarista da política cavou ao longo de décadas a nossa ruína. Se tudo isto não for estudado e corrigido os sacrifícios actuais serão em vão. A Europa Unida arrisca-se a ser apenas um episódio passageiro de uma desunião histórica marcada por guerras.


Desfasamento
O primeiro grande acto público do novo secretário-geral da CGTP foi a manifestação do passado sábado. Como não podia deixar de ser, já que esta era a sua primeira manifestação no novo cargo dirigente, considerou que tinha sido a maior de todas nas últimas décadas - tinha que entrar a ganhar, e derrotar o seu antecessor. Exagerar faz parte dos métodos de afirmação dos novos dirigentes, na velha escola do PCP, de que Santos é membro do Comité Central. Reivindicou 300.000 participantes numa praça onde nem 100.000 cabem. Arménio Santos, o homem que fez o milagre da multiplicação dos manifestantes, esqueceu-se que as tácticas dantes usadas pelo PCP, de exagerar o número de participantes em acções que apoia, hoje têm contraprova fácil. Uma fotografia aérea da Praça do Comércio tirada na altura do discurso do dirigente sindical, mostra uma praça metade deserta, onde com sorte talvez estivessem 50.000 pessoas. Arménio Santos estreou-se com uma grande mentira. Percebe-se porque é que o PCP substituiu Carvalho da Silva por ele. Rodrigo Moita de Deus fez a observação definitiva sobre os efeitos da polémica numérica da CGTP : «Desde os tempos do Marquês de Pombal que o Terreiro do Paço não era medido com tantos esquadros e compassos.»


Ouvir
Um dos problemas de continuar a ter a mania de ouvir as novidades da música popular com os meus 57 anos é que a memória está cheia de referências de discos e intérpretes antigos. É impossível, num disco novo, evitar comparações. Lana Del Rey é um daqueles produtos pop fabricados de que a indústria discográfica tanto gosta, e que às vezes funcionam na perfeição. A rapariga é vistosa, faz uma bela capa, parece simples e natural, usa uma camisa abotoada até ao pescoço e o seu cabelo, de reflexos ruivos, é suave e sedutoramente ondulado como as meninas bonitas do início dos anos 60. Podia ser a "girl next door", insinuante q.b. . Acresce que tem uma voz marcante - mas de boas vozes está o inferno cheio. Lana Del Rey tem presença, voz, canções e tem muita, mas mesmo muita produção. O seu disco de estreia, «Born To Die» é um caso de sucesso instantâneo. Quando se ouve com atenção há momentos em que surgem na memória nomes como Kate Bush (nalgumas entoações) ou os Verve (nalguns arranjos). O disco parece um catálogo de boas referências.

É bem comportado melodicamente, é sonoramente confortável . Ao fim de três ou quatro audições está gasto e revela-se algo enjoativo. Às vezes os discos com produção e truques a mais são assim. Costuma dizer-se que depois de um grande disco de estreia o maior problema é fazer o segundo álbum. Neste caso, e porque reconheço que algum talento Lana Del Rey tem, espero que o segundo disco seja melhor e mais sincero que o primeiro.


Palavreado
«O Sporting contrata Sá Pinto para treinador. O Porto recupera Paulinho Santos para adjunto.Espero que o Benfica já esteja em conversações com o Mike Tyson.»
Alexandre Borges, no blogue 31 da Armada


Ver
É muito curioso observar como várias gerações de olhares reflectem de forma diversa mas às vezes convergente a imagem de Portugal. É isso que se consegue quando se visita a exposição sobre o trabalho fotográfico de Orlando Ribeiro, que decorre no átrio da Reitoria da Universidade Clássica de Lisboa, na Alameda da Cidade Universitária, ao Campo Grande. Esta exposição faz parte das comemorações do centenário do nascimento do professor Orlando Ribeiro, um pioneiro no estudo do território português, que fez largo recurso à fotografia no seu trabalho, produzindo algumas imagens de referência de Portugal em meados do século passado, sobretudo na década de 40. Algumas dessas imagens mais significativas estão aqui, numa curiosa montagem que proporciona o diálogo e confronto das fotografias originais de Orlando Ribeiro com outras de Gerard Castello Lopes, Luis Campos, Inês Gonçalves, Nuno Calvet, Albano da Silva Pereira, Fernando Lemos, Ana Janeiro e Eduardo Gageiro, entre outros.


Provar
Nos locais mais triviais têm-se por vezes boas surpresas. «O Pizeiro» é um restaurante italiano, situado no Pátio Bagatela. De grandes dimensões, este restaurante está pensado para acolher grupos, o que acontece com frequência. A ementa é a tradiiconal, a pizza é afamada - mas não foi a pizza que provei numa visita recente. A escolha recaiu numa cotoletta de vitela à milanesa, de facto um fino panado, muito bem temperado e confeccionado, acompanhado, a pedido expresso por um esparguete com alho, azeite e piri piri, feito na hora e ao ponto. Uma combinação simples e tradicional que resultou em pleno. A rematar foi provado um queijo gorgonzola que estava absolutamente excepcional. O vinho da casa é honesto e acompanhou bem, tudo a um preço muito razoável.


Arco da velha
O motorista de Mário Mendes, ex-secretário do Sistema de Segurança, que teve um acidente na Avenida da Liberdade quando tentava compensar o atraso deste na chegada a uma cerimónia oficial, foi condenado a 21 meses de pena suspensa.


Semanada
No Porto já há lista de espera de munícipes para a atribuição de hortas na cidade; um estudo recente revela um país activo sob os lençóis mas preguiçoso na altura de resolver a disfunção eréctil; em Almada um homem de 72 anos recebeu do Hospital uma conta por uma consulta de interrupção de gravidez; nos últimos dez anos a nossa economia cresceu a um ritmo médio de 0,31%; Portugal ainda tem 60% dos fundos do QREN por aplicar; pensionistas com 600 euros vão começar a pagar IRS; função pública e políticos poderão receber prendas até 150 euros; a quanto está o quilo do robalo?


Ler
"The Zen Of Steve Jobs" é uma novela gráfica ou, mais prosaicamente, um livro aos quadradinhos. Trata-se de uma edição de 60 páginas, baseada em textos de Caleb Melby e em desenhos de Jess3. O livro tenta reconstituir a vida de Steve Jobs naquele período, em meados dos anos 80, quando saíu da Apple e antes de fundar a Next, na altura em que se aproximou do monge budista Kobun Chino Otogawa.

A história é ficcionada, claro, mas é baseada em relatos de Jobs e de Kobun sobre esses tempos, assim como de outros discípulos do monge que foram contemporâneos desse período. O ponto curioso é a relação que estabelece, e que parece corresponder à realidade, sobre a forma como alguns princípios budistas foram decisivos para a forma como Steve Jobs transformou a Apple quando regressou à companhia, nomeadamente nos conceitos e no design. Se a história contada por Melby funciona, isso deve-se em muito à forma como os desenhos de Jess3 a enquadram, com influência evidente da manga japonesa. É uma meia hora de leitura muito bem passada. A única forma de lhe chegarem é através da Amazon.


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