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09 de Maio de 2022 às 11:30

No reino da fantasia

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É difícil ter memória de tempos mais conturbados e incertos do que aquele em que estamos a viver. Depois da pandemia chegou a guerra na Ucrânia e ninguém verdadeiramente sabe o que se seguirá. Em Portugal, discutimos um Orçamento do Estado que vigorará menos de 6 meses com pressupostos de outubro de 2021. Inflação, aumento de juros, dificuldades nas cadeias de produção e de fornecimento, subida generalizada dos preços de bens e serviços essenciais, perda efetiva de poder de compra, nada disso importa. É apenas temporário, diz o Governo. Se durante a pandemia as restrições de circulação obrigaram as pessoas a ficar em casa, as empresas a modificar os seus processos de trabalho e o Estado a suportar boa parte da despesa, a verdade é que a economia sofreu um fortíssimo abanão de que ainda não se compôs. Nesses dois anos, as televisões deram a conhecer uma multidão de especialistas em saúde pública e derivados, mas não esqueceram os empresários e todos aqueles que diretamente foram afetados pela crise. Pois agora é diferente. Continuamos na onda da estreia televisiva de "comentadores de guerra" que vai de oficiais na reserva em número superior aos soldados no ativo, a mais professores de relações internacionais do que alunos das respetivas cadeiras, aguentando estoicamente 24 horas de emissão diária de uma guerra em direto, mas deixámos de ter todos aqueles que estão a ser - e vão ser ainda mais - afetados por esta crise. Falo naturalmente dos empresários e dos consumidores. Até parece que está tudo bem.

Ninguém liga a coisa nenhuma e vamos caminhando alegremente para o abismo sem consciência da realidade que enfrentamos. As empresas vão piorar os seus resultados, as famílias irão passar por maiores dificuldades, o Estado não terá forma de suportar mais subsídios, apoios, linhas de crédito, o que quiserem. Nem com mais um PRR. Mas ninguém nos quer contar a verdade. O Presidente fala do reforço de verbas para a Defesa, o primeiro-ministro fala da contratação de mais alguns milhares de funcionários públicos, a oposição de esquerda acha tudo insuficiente e a oposição de direita não acha nada porque não existe. Apenas o Chega que quer mais subsídios para as forças de segurança. Os liberais nada dizem pois já perceberam que durante os próximos anos será o "Estado quem mais ordena" e que sem ele a iniciativa privada estará condenada. Os sindicatos vão perdendo adeptos e voltaram aos discursos pré-geringonça. Melhores salários, mais direitos, menos precariedade, menos lucros para os malandros dos patrões. As associações patronais já pouco dizem e a sensação com que ficamos é que estão apenas a aguardar que o Estado os ajude e a acreditar que se abrirão os cordões de uma bolsa que pouco tem. Talvez o Turismo! Turismo! Turismo! tão apregoado por Marcelo seja um paliativo para a nossa doença crónica, e as condições climáticas e a pesca da sardinha nos continuem a ajudar.

A maioria absoluta do Partido Socialista teria permitido uma clarificação sobre o caminho que iríamos prosseguir pelo menos nos próximos quatro anos. Bom ou mau sabíamos qual era. A turbulência dos mercados internacionais, a inevitável subida das taxas de juro e a instabilidade provocada por uma guerra que se sabe onde começou, mas que ninguém sabe onde acabará, vieram alterar substancialmente o panorama. Hoje não sabemos o que queremos nem para onde vamos. Mas sabemos que chegámos a uma situação insustentável. De dívida pública, de peso do Estado, de empresas descapitalizadas, de carga fiscal insuportável. Temos rapidamente de nos concentrar no essencial. Aplicar bem os recursos disponíveis em investimentos que reforcem a nossa capacidade produtiva e saber atrair capital estrangeiro porque o nacional já acabou há algumas décadas. Sem preconceitos ideológicos e com pragmatismo. Sem criar riqueza não a poderemos distribuir. Distribuir sem critério aquilo que nos é emprestado ainda é pior. Não venham depois criticar os populismos. 
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