Opinião
Teletrabalho: agora ou nunca!
O tecido empresarial tem agora a palavra para decidir se pretende (ou não) conceder aos trabalhadores medidas que estes valorizam cada vez mais, como a flexibilidade horária e o teletrabalho.
Perante a necessidade de as empresas minimizarem o impacto nos seus negócios, o Coronavírus pode tratar-se de uma oportunidade para o tecido empresarial testar medidas alternativas de laboração e, consequentemente, apostar no teletrabalho.
Pese embora o teletrabalho marque presença no Código de Trabalho há sensivelmente 17 anos, a verdade é que só residualmente "saiu do papel". Não obstante o referido, é notório as empresas apostam cada vez mais na formação dos trabalhadores para que estes se sintam confortáveis a trabalhar à distância. Muitas empresas começam já a disponibilizar aos trabalhadores telemóvel, portátil e VPN, para que tenham acesso às ferramentas da empresa a partir de casa, permitindo, assim, o teletrabalho e a flexibilização horária; e, em certas circunstâncias, o feedback que temos recolhido é que acabam por ser mais produtivos (e, claro está, menos interrompidos).
Além desta mudança de paradigma no seio empresarial, existem outros motivos para acreditarmos que o teletrabalho pode passar no "teste" do Coronavírus. Desde logo, devido à escala de ameaça crescer rapidamente e isso obrigar a que as empresas tenham de repensar os modelos clássicos de laboração para minimizar prejuízos. Além disso, a maturidade e a disponibilidade das tecnologias necessárias para trabalhar remotamente já estão ao alcance da maioria.
E, por fim, os gestores de uma geração mais tradicional e mais avessa à mudança admitirem hoje que para acompanharem o direito do trabalho 4.0 precisam de implementar soluções criativas e incentivar uma cultura avessa à rigidez, com o objetivo de garantir trabalhadores satisfeitos, motivados e, consequentemente, mais produtivos e eficientes. Promovendo mais qualidade de vida e satisfação, estas políticas permitem que os trabalhadores partilhem o ADN da empresa e, consequentemente, contribuem para o seu sucesso (com reflexo nos lucros).
Para que Portugal não acompanhe os números mundiais em termos de prejuízos nos negócios [as estimativas avançam perdas que podem ascender a 257 bilhões de euros só nos primeiros três meses do ano], as empresas precisam de seguir as novas tendências laborais, as quais incluem medidas de laboração alternativas.
Deste modo, e ainda que surja como uma medida de necessidade, a verdade é que o tecido empresarial tem agora a palavra para decidir se pretende (ou não) conceder aos trabalhadores medidas que estes valorizam cada vez mais, como a flexibilidade horária e o teletrabalho.
Os dados estão lançados. Urge, agora, colocar em marcha os procedimentos que poderão ditar que, num futuro próximo, deixemos de pensar no teletrabalho como uma medida excecional para situações de necessidade, mas, antes, como uma forma das empresas captarem e reterem talento e assegurarem, assim, o tão veiculado e importante "Work Life Balance".
Para concluir, uma espécie de "aviso à navegação": torna-se crucial que se compreenda que não se trata apenas de estar preparado para o Coronavírus ou para uma próxima epidemia. É sobre estar preparado para o futuro! É algo mais premente e que obriga a esforços vitais por parte de todos nós. A nossa estrutura empresarial e os trabalhadores "humanos" necessitam de se adaptar à força de trabalho simbiótica de Inteligência Artificial e às novas tendências/realidades laborais (onde se incluem, entre outras, o teletrabalho como forma alternativa de prestação laboral).
Quem tiver a capacidade de perceber isto, estará certamente mais preparado para enfrentar os desafios do direito do trabalho do futuro. Quanto aos resultados que podem advir desta aposta, diríamos que prognósticos destes mostra a realidade que é mesmo preciso esperar pelo fim do jogo.