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"Deal or no-deal": O tempo está a esgotar-se, os danos já estão feitos

Estas mudanças são irreversíveis, mesmo que o Brexit seja, de alguma forma, travado. Os danos para a economia britânica já estão a acontecer, tanto que o ato de abandonar a UE, por si só, está a tornar-se, neste momento, irrelevante.

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Quando faltam apenas 9 dias para a saída da Grã-Bretanha da União Europeia, as negociações políticas para chegar a um acordo continuam paradas e a preocupação com a instabilidade económica continua a crescer. Depois de uma semana agitada para os políticos do Reino Unido é possível que se sinta confuso. Na terça-feira passada (dia 12), os membros do Parlamento (MPs) rejeitaram o acordo de saída negociado pela primeira ministra. Na quarta-feira (13 de março), os MPs votaram para afastar, em qualquer circunstância, a possibilidade de um Brexit sem acordo e na quinta-feira votaram a favor de um pedido de extensão do prazo para o Brexit.

 

Estará, então, uma saída sem acordo completamente fora de questão? Na realidade, não. Um Brexit sem acordo continua a ser a decisão de princípio. Ainda que os MPs tenham vetado um afastamento de um Brexit sem acordo, a votação não era juridicamente vinculativa. Assim, se nada mudar, a 29 de março, às 23h00, assistiremos a um Brexit sem acordo.

 

É opinião generalizada que a economia britânica será esmagada se a saída da União Europeia acontecer sem acordo. As projeções mais negras mostram que a Grã-Bretanha poderá perder 9,3% do seu produto interno bruto, com o preço das habitações a poder afundar 30% e a libra a desvalorizar abaixo de um euro.

 

Mas o impacto será também negativo para os restantes 27 membros da União Europeia. As regiões mais expostas a uma possível saída sem acordo podem sentir os efeitos, que vão desde quebras nas trocas comerciais ao aumento das tarifas, da fragmentação das cadeias de fornecimento a restrições nos serviços.

 

Um estudo desenvolvido pela City REDI (City Region Economic and Development Institute), da Universidade de Birmingham, avaliou o impacto do Brexit sem acordo para o Reino Unido e para os países da Europa, mas também para todas as regiões do Reino Unido e da União Europeia.

 

Países próximos do Reino Unido, como a Irlanda, Alemanha, Holanda e Bélgica estão mais expostos do que os países mais centrais ou mais a sul da União Europeia. Em termos proporcionais, a Irlanda enfrenta níveis de exposição semelhantes às regiões menos afetadas do Reino Unido, como são Londres e o norte da Escócia. Em contraste, o risco de exposição da Alemanha, Holanda ou Bélgica pode variar entre um quarto a metade dos riscos do Reino Unido. A restante UE vai ser menos afetada, com apenas um impacto de 2% do PIB, ou menos, nos dois terços dos restantes membros. Outra importante descoberta é a de que o risco de exposição do Reino Unido, como um todo, é 4,6 vezes maior, quando comparado com a média da UE.

 

A incerteza sempre foi um aspeto negativo para os negócios. E com o Brexit a incerteza mantém-se até ao último minuto. A incerteza escalou com a grande derrota da primeira ministra em conseguir um acordo para o Brexit, mas, mesmo antes disto, os líderes de grandes empresas com operação no Reino Unido não quiseram correr riscos. A Nissan anunciou que vai parar a produção do modelo Infiniti na sua fábrica de Sunderland. A Honda também anunciou, no mês passado, que irá encerrar a sua fábrica no Reino Unido até 2021, o que resultará na perda de cerca de 3500 postos de emprego. Em dezembro, a Rolls-Royce anunciou que vai deslocar a sua produção de Derby para a Alemanha, para limitar os impactos causados pelo Brexit. E um relatório do Parlamento inglês deu conta, recentemente, que o Reino Unido perdeu 5 mil milhões de euros de financiamento em infraestruturas no ano passado.

 

O impacto na cidade de Londres é especialmente nocivo, uma vez que os serviços financeiros concentrados na capital pesam cerca de 6,5% no PIB britânico. Um grupo de lobby de Frankfurt anunciou que 750 mil milhões de euros em ativos financeiros e cerca de 10 000 empregos serão deslocalizados para esta cidade. As empresas financeiras têm estado ocupadas a criar entidades legais na União Europeia para que possam continuar a oferecer estes serviços mesmo após o Brexit. Cidades como Frankfurt, Dublin, Paris e Amesterdão estão a beneficiar com esta deslocalização de postos de emprego. A Alemanha e Irlanda são reconhecidas pelas suas atividades bancárias, enquanto que o Luxemburgo tem atraído os gestores de ativos.

 

Estas mudanças são irreversíveis, mesmo que o Brexit seja, de alguma forma, travado. Os danos para a economia britânica já estão a acontecer, tanto que o ato de abandonar a UE, por si só, está a tornar-se, neste momento, irrelevante.

 

Desde a votação para abandonar a União Europeia, em junho de 2016, os eleitores têm vindo a arrepender-se, de forma crescente, da decisão tomada. Quanto mais conhecem os detalhes, consequências e repercussões do "divórcio" da UE, mais se arrependem do Brexit. A Pantheon Macroeconomics, uma consultora britânica, tem realizado sondagens regulares (as sondagens YouGov) com a questão: "em retrospetiva, o Reino Unido deveria ou não ter votado pela saída da UE?" Os resultados indicam uma tendência clara e crescente para o "não", e a diferença entre aqueles que responderam "sim" e os que responderam "não" é já hoje de quase 10%. Uma margem bastante superior àquela que foi a favor da saída do Brexit, em 2016. 

 

Assim, não deveriam os eleitores ter uma palavra final sobre o Brexit?

 

Porto Business School

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