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3 desejos para o futuro de Portugal

Ao bulício do dia a dia de trabalho, junta-se o das compras, cresce a vontade de juntar a família e de passar uns dias sossegados. Entre dar e receber, nessa troca sem sentido, mas com algum significado, há que pensar no que vem a seguir ao Natal.

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Não me refiro apenas ao Ano Novo - que, claro que interessa, e venha 2020 com muita saúde e alegria! Refiro-me ao futuro mais longínquo, ao que pede que venham novas gerações que o habitem.

 

Nisto, dou por mim a pensar nas muitas transformações a que temos assistido e nas quais temos participado nas últimas décadas. Nova tecnologia e globalização são, provavelmente, as palavras-chave das mudanças profundas mais recentes. Em Portugal, temos tido alguma capacidade de adaptação e de tirar partido destas inovações, sendo disso exemplo o boom sentido no setor do Turismo.

 

Se queremos apostar (e este plural "mos" não se dirige apenas nem principalmente ao Estado) num futuro com qualidade, temos de pensar no muito longo prazo e começar já hoje a tomar medidas. Na recente conferência da Executive Digest, em que se debateram 27 ideias para Portugal, tive oportunidade de apresentar 3 ideias, que aqui partilho. Não são ideias de 1 dia ou de 1 ano, são ideias transformadoras e ambiciosas. Chamem-lhe sonho, se quiserem. Mas, sem a ambição de sonhar, ficamos reduzidos a muito pouco. Aquilo que aqui deixo hoje é uma reflexão, assumidamente otimista em quadra festiva, daquilo que poderiam ser as apostas de Portugal num futuro que nos deixasse orgulhosos.

 

A primeira ideia é que Portugal deveria apostar em ser o pais da Experiência e da Experimentação (chamo-lhe a ideia The Future is TRY). Se é verdade que o novo luxo para as mais novas gerações se resume a experienciar coisas novas (em vez de "ter"), então Portugal deveria ser capaz de oferecer isso mesmo, de forma a atrair mais visitantes, que prolongassem as suas estadias e/ou que voltassem mais vezes, aprofundando aquilo que é hoje uma experiência feliz de crescimento do  setor do turismo. Estas experiências têm a ver com uma maior e melhor aproveitamento daquilo que se pode dinamizar em termos de atividades lúdicas, desportivas e culturais (por exemplo) ao longo de todo o território, levando os turistas a experimentarem ("try") mais do que cidades como Lisboa ou Porto ou as praias. Nesse sentido, um setor de entretenimento com grande qualidade pode vir a ser uma aposta vencedora e, também, uma forma inteligente de ir chegando ao interior do país com projetos inovadores. Isto só pode funcionar se a nossa oferta for de grande qualidade, como penso que saberemos fazer. Dentro do "Try" também cabe um país que experimenta porque é empreendedor e porque inova (try também é tentar, experimentar, falhar e começar de novo). Alguns passos nesse sentido têm sido dados e creio que a imagem da inovação em Portugal tem de ser mais defendida e publicitada - há que fixar aqui aqueles que querem criar negócios novos e teremos de atrair acesso a investidores de forma mais eficaz e com outra escala. Não é impossível.

 

A segunda ideia é a aposta numa economia "Clean" (ideia The Future is Clean), em setores que sejam menos poluentes, que tenham em conta a economia circular e o não desperdício. Num momento da vida do planeta Terra em que dificilmente podemos negar a urgência associada às alterações climáticas, seria importante darmos mostras de estar na linha da frente dos que são conscientes e fazem uma aposta de futuro a sério, de futuro sustentável, uma aposta de qualidade. Se é verdade que muito terá de mudar, também é verdade que Portugal tem alguns fatores favoráveis a seu favor, como uma aposta já consolidada em energias renováveis. A imagem de um país "clean", de um país exemplar na natureza dos novos investimentos e negócios que surgem (energia, mobilidade limpa, produção de alimentos cuidada, por exemplo) faria de nós um exemplo de qualidade para o mundo. Creio que só uma aposta convincente em qualidade e futuro "a sério/que dure" poderá fazer a diferença.

 

A última ideia tem a ver com a possibilidade (que não é certa e segura) de o futuro do trabalho vir a mudar muito e de fenómenos como a robotização poderem vir a reduzir a efetiva necessidade de horas de trabalho humano. Para lá dos problemas complexos de redistribuição que um mundo assim nos poderá vir a trazer, há que pensar no que fazer com o tempo de que as pessoas disporão nesse futuro. Se for verdade que teremos mais tempo "livre", então a minha aposta seria numa melhor utilização desse tempo para desenvolvermos as nossas capacidades intelectuais (para além da atual tendência para mais exercício físico e alimentação saudável). Num mundo em que se cultive mente sã em corpo são, fará falta uma aposta séria em Arte, num conceito abrangente; esse pode ser o negócio de maior valor um dia, aquilo que enche as medidas de uma futura geração. Sendo nós mais cultos e tendo uma maior oferta de arte de vanguarda no país, teríamos uma forma inteligente e criativa - e geradora de mais criatividade - de ocupar o tempo, de gerar ideias para novos negócios e de atrair visitantes regulares, que procurem mais do que os antigos monumentos. Gostaria de poder dizer "The Future is Art".

 

Pode ser que seja por esta via que se inventem os novos motivos para Portugal ser visitado e habitado no futuro - porque somos um país de vanguarda na forma como criamos (seja arte sejam outros negócios) e porque promovemos qualidade, num espaço exemplar quanto à forma de nos movermos, de produzirmos, de consumirmos, de nos ocuparmos. Isto tudo, aliado ao facto de sermos portugueses como somos e de aqui estarmos à beira mar plantados, seria uma fórmula de sucesso. 

 

PS - Festas Felizes e que venha um 2020 cheio de esperança e qualidade!

  

Dean do ISEG - Lisbon School of Economics & Management, Universidade de Lisboa

 

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