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14 de Março de 2013 às 00:01

A fusão triunfal

A fusão entre a Zon e a Sonaecom foi talvez a mais debatida de sempre. Foram tantos anos com toda a gente a dizer tudo que, quando a fusão aconteceu, já ninguém disse nada. E a fusão fez-se. No inesperado silêncio. É uma fusão levada ao colo.

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Não houve pedras no caminho, nem palhas levantadas, nem narizes torcidos. A Anacom chegou a perder a imparcialidade e defender a operação que salvaria a Optimus. A ERC deu passadeira vermelha. A Concorrência e a CMVM ainda nada estranharam. A comunicação social estava a olhar para a troika. A troika estava a olhar para o Governo.

 

Aplausos a Pedro Passos Coelho: houve um negócio em que o Estado não se meteu. A Caixa já não é accionista da Zon. E o Governo não se fez de sonso, não interveio nem mandou intervir. A Sonae, que se pode queixar de, no passado, ter sido avessada pelo Estado na Portucel e na PT, sentou-se à mesa e fechou negócio.

 

Se o Estado Português é o grande ausente deste negócio, o Estado de Angola é o grande presente. Isabel dos Santos conseguiu o que nunca ninguém antes tinha conseguido: que os accionistas comuns entre a Zon e a Portugal Telecom não paralisassem uma fusão que é boa para as pequenas Zon e Optimus e má para a grande PT. Isabel dos Santos não é mais esperta do que outros. É apenas mais poderosa. Porque os accionistas da Zon que podiam arrastar os pés à operação têm todos a cabeça em Angola. O BES, para começar. O BPI, por razões accionistas. A Controlinveste, que sonhava também com accionistas. A Sonae, para quem esta fusão é a cara de que a distribuição em Angola será a coroa. E, claro, a Zon, que liderada por Rodrigo Costa cresceu em África.

 

Esta fusão tem dois grandes vencedores: Isabel dos Santos e Paulo Azevedo. A Sonaecom sempre quis a fusão, a Zon passou a querê-la, e assim da união nasce a força. A Zon ganha rede móvel. A Sonae salva um negócio e dá um abraço a Isabel dos Santos para as operações do Continente em Angola.

 

Os grandes perdedores são os accionistas minoritários das duas empresas. O negócio é acertado entre os accionistas maioritários, OPA nem vê-la, não há certeza de valorização da nova empresa. Depois, perdem os concorrentes. A Vodafone, que passa a distante número três. E a PT, claro, que passa a ter um concorrente que lhe olha nos olhos.

 

Ganham os consumidores? Ganharão se houver guerra feroz, perderão se houver alinhamento de preços. De alguma maneira, cumpre-se a hipótese de Abel Mateus, que em 2007 aprovara a OPA da Sonae à PT com o argumento de que dois operadores fortes geram mais concorrência que um operador forte e dois fracos. Mesmo assim, o mercado caminha para o duopólio. O "pacotão" da PT foi o primeira reacção, num movimento favorável aos clientes. Continuarão a sê-lo no futuro?

 

A aliança entre Isabel dos Santos e Paulo Azevedo é o grande movimento subjacente a esta fusão. Ambos são novos, ambos são engenheiros, ambos são filhos de líderes carismáticos. Para Isabel dos Santos, o negócio foi uma demonstração da força que efectivamente tem em Portugal. Para Paulo Azevedo, é o negócio que o emancipa perante a comunidade empresarial.

 

A Sonae volta a querer ser Sonae. O conglomerado que diversifica, no caso regionalmente, salvando a operação de telecomunicações e negociando a expansão da distribuição. Foi preciso que o Governo não se metesse e que o BES estivesse neutralizado. Mas a Sonae venceu. É o primeiro grande negócio deste presidente executivo, que no princípio parecia estar apenas a gerir o declínio do grupo que, nos anos 90, era o mais poderoso de Portugal. Belmiro tem razão. Quando o questionaram este domingo no "Público" sobre a fusão, o homem-Sonae respondeu: "Perguntem ao Paulo".

 

psg@negocios.pt

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