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Petroleiro ao fundo

Ao ler no Negócios “Um dos petroestados mais ricos do mundo está a ficar sem dinheiro” (o Kuwait), pensei na importância de uma boa ou má notícia.

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O artigo segue com algo que vemos mais frequentemente do que pensamos na gestão de um país, assim como de empresas e mesmo de finanças pessoais, mas que muitos não ligam, como foi o caso: “Quando o então ministro das Finanças do Kuwait, Anas Al-Saleh, alertou em 2016 que era hora de cortar despesas e preparar o país para a vida depois do petróleo, foi ridicularizado por uma população habituada ao fluxo aparentemente interminável de petrodólares.”

Ora, é verdade que ninguém esperava esta pandemia, e, logo, o impacto rápido e brutal que teve em muitos aspetos incluindo no preço do petróleo (embora a cotação tenha, entretanto, subido para níveis menos “atípicos”, mas baixos). Mas todos sabemos que a cotação do petróleo varia muito ao longo dos anos, pelo que não se pode gerir a economia de um país, com um nível de despesas quase fixas, assumindo uma cotação elevada do petróleo.

Isto parece óbvio, mas muitos países o fazem. Porquê?

Esta situação aparentemente incompreensível poderá levar a mudanças geopolíticas no mundo significativas, alterando o poder de vários países relevantes no Médio Oriente. A Arábia Saudita e o Irão (sunitas e xiitas, que se combatem em vários tabuleiros) podem perder significância na região com baixos preços do petróleo; a Turquia até poderá ter um benefício a nível energético, dado que importa a quase totalidade do gás natural e petróleo de que precisa; a Rússia perderá como grande exportadora de petróleo, estando muito envolvida no Médio Oriente, usando o seu poder para, entre muitos outros, intervir na Síria e também apoiar os curdos, nomeadamente contra o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que é apoiado pela Turquia; e a lista poderia continuar…

Enfim, um puzzle complexo (ainda se poderia falar muito mais dessa complexidade) mas em que alguns “players” relevantes perderão poder com uma continuada baixa da cotação do petróleo, e assim irão alterar esse puzzle, o que terá impactos em todo o mundo. E ainda falta mais uma questão-chave: as eleições presidenciais nos EUA. A política externa deste país poderá ser decisiva, especialmente se o preço do petróleo voltar a baixar…

Pode ser que o maior beneficiário disto tudo ainda seja a Europa, muito dependente de petróleo. Será altura de “aproveitar a onda” e tentar diminuir drasticamente ainda mais a independência energética da Europa? n

 

Pode ser que o maior beneficiário disto tudo ainda seja a Europa, muito dependente de petróleo.
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