Opinião
O Garrote Salvador
A obsessão pelas contas do défice, a negociação da austeridade com os parceiros de coligação e a total ausência de medidas estruturais para o crescimento fazem de nos um país adiado a viver de expedientes e a empurrar os problemas, até um dia…. Salvam-se os véus, a retórica e o circo, porque o pão não está garantido.
A FRASE...
"Os fortes esforços [do Governo português] na contenção dos gastos intermédios e investimento público bem abaixo dos valores orçamentados mitigaram o impacto de uma considerável má prestação ao nível das receitas."
FMI, Jornal de Negócios 08 de Dezembro 2016
A ANÁLISE...
Depois da contenção brutal de despesas do Estado sob a batuta de Vítor Gaspar e da troika, ninguém acreditaria que o Estado ainda tivesse algum pingo de gordura. Provavelmente já não teria muita, e do aperto que o Governo aplicou nas despesas correntes do Estado em 2016 já saiu algum sangue… o nível de repressão e cativação de despesas foi de tal ordem que um inquérito rápido e fácil em alguns organismos do Estado pode detetar carências diversas de material de trabalho ou fundos para pagamento a fornecedores.
Se por gorduras falávamos em dinheiro do Estado malgasto, estamos hoje a falar de cortes no essencial para o Estado trabalhar. As pessoas e os departamentos públicos lá continuam, alguns bem grandes e de utilidade duvidosa, outros com funções essenciais e no entanto superiores aos recursos humanos que têm. Mesmo em estruturas centrais como Ministérios, já falta toner para as impressoras e computadores em condições. Há hoje pessoas na Administração Pública que não têm condições para trabalhar pela austeridade brutal aplicada em 2016 às despesas correntes e consumos intermédios.
Claro que isto teria de acontecer quando se verificou que o crescimento fabuloso, de fábula, não iria atingir o valor previsto de 2,4%, ficará em metade. O investimento deveria crescer 7,8% em 2016, mas ficou em 0,7% negativos. Com o choque da realidade e a manutenção de algumas das promessas despesistas, só o aumento de impostos indiretos não chegava… é doloroso, mas não tinham muitas alternativas.
Tristemente este Governo não se distingue muito do anterior. A obsessão pelas contas do défice, a negociação da austeridade com os parceiros de coligação e a total ausência de medidas estruturais para o crescimento fazem de nos um país adiado a viver de expedientes e a empurrar os problemas, até um dia…. Salvam-se os véus, a retórica e o circo, porque o pão não está garantido.
Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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