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26 de Janeiro de 2021 às 14:00

A realpolitik e o urso

Agora a esquerda uniu-se para que faça parte do politicamente correcto tratar o Chega como a peste negra e com isso garantir aritmeticamente o seu seguro de poder. E alguma direita bem-pensante foi facilmente atrás do engodo.

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A FRASE...

 

"A esquerda teve uma derrota, a direita tem um problema." 

 

Daniel Oliveira, Expresso, 25 de janeiro de 2021

 

A ANÁLISE...

 

Bismarck falava que a política é a arte do possível, do alcançável. Um século mais tarde, a Alemanha Ocidental viveu durante 40 anos com o problema da Alemanha de Leste até que Willy Brandt o encarou e iniciou o diálogo que antes se evitava, com a sua realpolitik. Muito criticado então, porque o mundo civilizado não poderia entrar em diálogo com a barbárie. A verdade é que se a realidade existe não a podemos ignorar, mesmo que não gostemos dela.

Se o Chega está a crescer é porque a direita no Norte e Centro e a esquerda no Sul não estão a corresponder àquilo que o povo quer. O populismo combate-se no terreno, com marketing político, tentando entender o que levam os cidadãos a votarem no Chega e oferecer uma alternativa mais consistente. Há uma certa direita asséptica que prefere considerar o Chega um horror, e fazer o gosto à esquerda considerando-o a lepra da democracia. Era bem melhor para todos que o Chega não existisse, mas enquanto esse epifenómeno durar temos de viver com ele enquanto lutamos nas urnas para o seu desaparecimento.

A direita pode aprender umas coisas com o grande Mestre António Costa. A dita linha vermelha que vinha de 1975, da Alameda, cedeu à sua realpolitik. Através da geringonça normalizou forças políticas que são um atentado à democracia, enaltecem Estaline e os seus gulags, idolatram os Castros, a saída do euro e da Europa, etc. Imaginem o que aconteceria ao nosso país e à nossa democracia "burguesa" se trotskistas, maoistas e estalinistas mandassem em Portugal. Esse foi um passo que o nosso PM deu e legitimamente. Necessitava deles para governar, existiam, negociou e conseguiu uma frente anti-Passos bem-sucedida.

Agora a esquerda uniu-se para que faça parte do politicamente correcto tratar o Chega como a peste negra e com isso garantir aritmeticamente o seu seguro de poder. E alguma direita bem-pensante foi facilmente atrás do engodo. O Chega é o BE ou o PC de direita. Todos defendem temas pouco recomendáveis em democracia, mas existem. Aprendam com Mestre Costa, normalizou-os e agora dá-lhes o abraço do urso. Vejam as sondagens e o PS a crescer à conta da extrema-esquerda. Lembram-se de George Marchais e Mitterrand? É assim…

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

 

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