Opinião
O futuro preso no passado
Só quando se chegar ao ponto extremo da crise se reconhecerá que nunca a soma dos pecados no passado produzirá a virtude no futuro.
A FRASE...
"Um partido que se diz revolucionário não se deixa refém do PS. Neste momento, a forma de ser um partido revolucionário é condicionar o PS a favor da devolução dos rendimentos."
Diogo Barbosa, Público, 17 de Abril de 2016
A ANÁLISE...
O que é relevante nas interpretações apresentadas para explicar a persistência da crise destes primeiros anos do século é a perplexidade dos políticos, dos economistas e dos eleitores perante a repetida evidência de que os factos não concretizam as suas promessas, não respeitam as suas previsões e não satisfazem as suas expectativas. O problema não está nos factos, que são a verdade efectiva das coisas. São os modelos teóricos geradores das políticas, das previsões e das expectativas que são deficientes.
Enquanto não houver reformulação dos modelos, económicos e políticos, a crise continuará o seu percurso de destruição porque não se reconhece que mudou o campo de possibilidades, que mudou a realidade efectiva das coisas. Só quando se chegar ao ponto extremo da crise se reconhecerá que nunca a soma dos pecados no passado produzirá a virtude no futuro. A virtude não é de esquerda nem de direita, é simplesmente a adequação a um campo de possibilidades que mudou.
Então se compreenderá como a declaração de um jovem militante do Bloco de Esquerda (que tem apenas menos um ano do que tinha Louis-Antoine-Léon de Saint-Just quando perdeu a cabeça na guilhotina) ilustra esta crise, ao proclamar que ser revolucionário é não ficar refém do PS e condicionar o PS a favor da devolução dos rendimentos. Não podendo haver devolução dos rendimentos, vai ficar como o nadador-salvador que se deixou prender pelo náufrago, com o passado a afogar o futuro.
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
maovisivel@gmail.com