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24 de Novembro de 2020 às 09:40

Sinais errados

O Governo deve reflectir e decidir por uma vez se pretende contribuir para o desenvolvimento do país ou aceder a negócios políticos que, por muito que agradem à claque interna, são um obstáculo à vinda e consolidação de investidores.

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A FRASE...

 

"O país precisa de capital estrangeiro, de capital privado." 

 

Eurico Brilhante Dias, Económico, 20 de novembro de 2020

 

A ANÁLISE...

 

Soubemos na semana passada que a dívida total, incluindo o Estado, as famílias e as empresas, ascende a 738 mil milhões de euros, isto é, mais do que toda a riqueza produzida no país em mais de três anos e meio. A dívida pública e a privada, já muito elevadas antes do início da actual pandemia, aumentaram ao longo do ano, função das medidas que o Governo teve de tomar e ao impacto da crise económica sobre as receitas fiscais e o saldo da Segurança Social. A retracção económica reflectiu-se negativamente sobre a situação económica e financeira de muitas empresas, agravando os seus capitais próprios. Neste contexto, fazem acrescido sentido as palavras do Dr. Brilhante Dias quando referiu que o país precisa de capital estrangeiro assim como do capital privado de base interna (este, infelizmente, sempre escasso).

 

A atracção de capital que não seja mero investimento oportunista requer, "inter alia", uma perspectiva de estabilidade, políticas públicas claras e não dependentes de circunstâncias momentâneas. Pior ainda quando o discurso se torna dissonante da praxis política. É assim verdadeiramente inoportuno que, quando o país precisa desesperadamente de capital privado, nacional e estrangeiro, se assista a um discurso de acolhimento concomitante com uma prática de intervenção pública discricionária e pouco amiga dos investidores. Seja o anúncio da subida de IMI na cidade de Lisboa - que tanto beneficiou de investimento estrangeiro nos últimos anos - a quem não se disponha a contratar ao abrigo de um regime de renda condicionada, seja a notícia de negociações entre partidos para a compra pelo Estado de uma participação qualificada (a notícia referia "controlo", mas não penso que seja de execução possível no mercado dada a percentagem de "free float" disponível) de uma empresa cotada em bolsa com investidores de carteira mas também estratégicos, portugueses e internacionais. Uma raridade na Europa.

 

O Governo deve reflectir e decidir por uma vez se pretende contribuir para o desenvolvimento do país ou aceder a negócios políticos que, por muito que agradem à claque interna, são um obstáculo à vinda e consolidação de investidores que ajudem a colmatar os nossos desequilíbrios crónicos. Em plena sociedade do conhecimento e da informação, ser pró-mercado de manhã e prosseguir o socialismo real à tarde não funciona e custará muito caro a todos nós.

 

Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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